São 50 minutos desde o momento em que os três helicópteros EH-101 descolam da Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa, até que aterram no heliporto de Fátima. Uma viagem rápida que é feita a 240 km/h e que vai permitir ao Papa Francisco cumprir a agenda que tem prevista para o penúltimo dia da Jornada Mundial da Juventude. Não é inédita a colaboração da Força Aérea Portuguesa com as visitas papais, tendo já no currículo o transporte de João Paulo II nas visitas de 1982, 1991 e 2000, de Bento XVI em 2010 e na primeira vez que Francisco esteve em Portugal, em 2017.

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Portugal tem 12 destes helicópteros e três vão ser usados para o transporte do Papa, bem como de toda a comitiva que o vai acompanhar até Fátima. Nove estão estacionados na Base Aérea do Montijo, mas Rodolfo Gouveia, oficial de operações, não revela nem qual vai ser o aparelho em específico responsável pelo transporte de Francisco, nem o nome do piloto responsável, “por questões de segurança”. Certa é a presença de dois pilotos da Força Aérea e um operador de sistemas, a base de qualquer operação deste género. A bordo haverá acesso a água “e pouco mais”, porque “a viagem é demasiado curta para um serviço de bordo muito complexo”. Mas até aqui há contenção nas palavras, nomeadamente quando os jornalistas perguntam pela necessidade de medicamentos a bordo ou algum tipo de refeição que possa vir a ser servida. Também as pessoas que vão acompanhar o Papa na viagem são uma incógnita.

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A visita de imprensa promovida pela Força Aérea tem como objetivo mostrar o modelo do aparelho que habitualmente é usado em missões de busca e salvamento e, por isso, mesmo o espaço interior deste helicóptero ainda está configurado para essas missões. Nos nove metros de cabine é possível circular de pé, o que “não é comum na maioria dos helicópteros que existem no mercado”. Todo o espaço permite, por isso, que sejam acomodadas 35 pessoas no interior, sentadas em cadeiras rebatíveis alinhadas junto às paredes do aparelho e de costas para as janelas. Bem diferentes são as “poltronas desenhadas pelo fabricante” e pensadas especificamente para o transporte de passageiros “VIP”, explica o Major Rodolfo Gouveia. “Mais confortáveis, com alguma capacidade de reclinação e ajustes”, mas não muitos porque “em aeronáutica há questões de segurança que têm de prever um eventual embate”.

Apesar da altura de mais de um metro e meio entre a plataforma e o solo, o EH-101 não vai obrigar Francisco a subir escadas para entrar. Na traseira, há uma rampa que dá acesso direto à cabine e vai permitir que o Papa embarque — “seja a pé, seja em cadeira de rodas” — e ocupe um lugar na frente do aparelho, a poucos passos do cockpit e numa zona onde habitualmente estão instaladas duas macas, em formato de beliche, usadas nas missões de busca e salvamento.

O transporte de altas individualidades nestes helicópteros não é frequente, mas Rodolfo Gouveia lembra-se da viagem de Cavaco Silva às ilhas Selvagens em 2013, algumas das deslocações do primeiro-ministro para as Cimeiras Ibéricas, o transporte de membros dos governos regionais de Madeira e Açores ou investigadores em expedições científicas em lugares remotos das duas regiões autónomas.

Helicópteros com história em operações de salvamento

A rotina na Base Aérea do Montijo conta, em média, com duas saídas destes helicópteros para emergências no mar que são as que lhes dão mais trabalho, mas também as que os fazem ficar mais tempo parados: “O plano de manutenção é muito extenso porque estes aparelhos operam essencialmente em cima do oceano e o mar é avassalador para a frota. Só em controlo de corrosão perde-se muito tempo e é frequente ficarem parados várias semanas”. As “recordações” mais evidentes das missões estão penduradas nas paredes do bar da base. São centenas os coletes salva-vidas amarelos e outros objetos com os nomes das tripulações e as datas das missões escritas a caneta. Uma dessas últimas missões ainda está bem presente na memória do piloto que acompanha os jornalistas nesta visita: “Foi um jovem de 18 anos que caiu do Miradouro dos Capuchos, na Costa da Caparica”. Tendo em conta o acesso difícil ao local, o INEM pediu a colaboração da Força Aérea por considerar que a assistência pelo ar era mais eficaz e segura.

Para além dos pilotos e do operador de sistemas que vão acompanhar o Papa, nas missões habituais segue a bordo um operador de guincho que ajuda o recuperador-salvador a chegar ao local onde estão os feridos ou as pessoas a precisar de assistência. Há ainda espaço para um enfermeiro que “presta os primeiros socorros” às vítimas. Não é possível identificar um tipo de situação mais frequente porque em que não é feito qualquer operação relacionada com naufrágios. “Depois, temos três ou quatro no mesmo mês.” Mas os cruzeiros, os navios pesqueiros ou os cargueiros são os que requerem com mais frequência este tipo de ajuda.

Em fevereiro de 2022, estes helicópteros tiveram uma das missões mais exigentes dos últimos anos, sendo chamados para prestarem auxílio ao Felicity Ace, um cargueiro que transportava carros de luxo e que se incendiou a 300 km da ilha Terceira, nos Açores. Em duas viagens, um EH-101 retirou 22 tripulantes sem que nenhum ficasse ferido.

Com a maior área de busca e salvamento no mar da Europa, a Força Aérea tem “mais de 45 anos de experiência” e chegou, no início do ano, às cinco mil vidas salvas, são entre 22 a 150 missões a cada ano que passa. O helicóptero que se vai adaptar à visita do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude é “um grande aliado”, capaz de percorrer uma distância equivalente a uma viagem de ida e volta à Madeira graças aos cinco tanques com capacidade para cinco toneladas de combustível. Desde o alerta até ao momento em que o helicóptero está no ar, os militares precisam de menos de meia hora.