We don’t need no education
We don’t need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teacher, leave them kids alone

Talvez tenha bem viva a sensação de ouvir “Another Brick in the Wall”, dos Pink Floyd — se não tem, oiça aqui —, mas saberá que tipo de atividade elétrica haverá no seu cérebro ao ouvir esta melodia? Agora, os cientistas já sabem e a partir disso reconstruiram a música. Mas o objetivo final é trazer melodia às palavras de quem perdeu a capacidade de falar.

Lembra-se do físico Stephen Hawking (1942-2018), que tinha esclerose lateral amiotrófica e só conseguia comunicar através da característica voz robótica de um computador? A investigação agora desenvolvida, ainda a dar os primeiros passos, pode vir a ajudar pessoas que sofrem da mesma doença de Hawking ou que perderam a capacidade de falar por outros motivos (como derrame cerebral ou paralisia), melhorando a interface cérebro-computador, explica a revista Scientific American. Ou seja, se o sistema do computador conseguir descodificar os sinais cerebrais correspondentes não só às palavras em que a pessoa está a pensar, mas também a melodia e ritmo associada a essa mensagem, poderá transmiti-las de uma forma mais próxima da linguagem natural.

Apesar de “a música ser fundamental à experiência humana, a exata dinâmica neural subjacente à perceção musical permanece desconhecida”, começam os autores no artigo publicado na revista científica PlosOne. Com estes resultados, foi possível verificar que há uma dominância do hemisfério direito do cérebro na perceção musical — enquanto o hemisfério esquerdo é mais usado para ouvir uma conversa — e, também, identificar uma nova região associada à perceção de ritmo. No futuro, esperam poder utilizar métodos menos invasivos e ser capazes de recolher informação de melhor qualidade.

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Essas descobertas sensacionais baseiam-se em trabalhos anteriores de reconstrução de linguagem simples a partir da atividade cerebral. Agora podemos mesmo escavar no cérebro para desenterrar em que se sustenta o som”, disse Shailee Jain, neurocientista da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que não participou do novo estudo, citada pela revista Sientific American.

Para chegar às conclusões apresentadas, a equipa coordenada pelo Instituto de Neurociência Helen Wills, na Universidade da Califórnia (Estados Unidos), analisou o registo da atividade cerebral de 29 pessoas que foram sujeitas a cirurgia por causa da epilepsia. O registo, uma eletroencefalografia intracraniana, estava mesmo dependente da cirurgia, porque os elétrodos (2.668 sensores, no total) estavam colocados diretamente no cérebro, nas regiões auditivas, enquanto as pessoas ouviam a música durante três minutos.

A descodificação dos impulsos elétricos em sons e palavras foi feito com recurso à inteligência artificial e o resultado permitiu identificar a música, ainda que parecesse que estava a ser cantada debaixo de água, disse o coordenador do estudo, o neurologista Robert Knight, citado pelo jornal The Guardian. Talvez se os elétrodos estivessem mais próximos, com apenas um milímetro de distância entre eles, tivesse sido possível alcançar uma melhor qualidade de som, comentou. Ou talvez no futuro as ressonâncias magnéticas (que não precisam de colocar sensores no cérebro) consigam vir a fornecer informação igualmente detalhada.

All in all, you’re just another brick in the wall

Se ainda se está a questionar porque é que escolheram uma música dos Pink Floyd, a resposta tem uma parte mais científica e outra mais pessoal, como conta o jornal The New York Times. “Another Brick in the Wall”, de 1979, tinha vários elementos diferentes, em termos de acordes, instrumentos, ritmos e a letra, o que se tornava interessante de analisar, reportaram os investigadores. O outro motivo é que os doentes mais velhos gostavam da música.