Foram os leitores dos 15 aos 35 anos que mais compraram livros em Portugal no último ano. A conclusão faz parte de um estudo realizado pela GFK a pedido da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que promove esta semana em Lisboa a primeira edição do Book 2.0, um evento que pretende promover uma reflexão em torno do futuro do livro e do mercado livreiro.

Na abertura do Book 2.0, no Picadeiro Real, em Lisboa, Pedro Sobral, presidente da APEL, apresentou as principais conclusões do estudo, focando-se no impacto que a pandemia de Covid-19 teve no consumo de livros em Portugal e nos números relativos aos últimos 12 meses, fazendo um retrato do mercado atual.

Depois de uma quebra acentuada em 2020 e 2021, resultado da situação pandémica e das restrições impostas para combater a Covid-19, o mercado dos livros subiu em 2022, atingindo o valor mais alto desde 2019: 175 milhões de euros, um crescimento de 21 milhões de euros em relação a 2019. Embora pareça um valor elevado, Pedro Sobral lembrou esta quinta-feira que a indústria portuguesa dos livros tem um peso muito pequeno na União Europeia.

“Apesar de a base ser pequena, temos números que nos dão algum otimismo. Estes números dão-nos alento”, afirmou o responsável, revelando que, no último ano, 62% dos portugueses compraram livros, sendo que a grande maioria fê-lo para consumo próprio (82%), uma novidade no contexto do mercado português. Continuou a haver, contudo, uma percentagem elevada que comprou livros apenas para oferecer (53%). O género do romance foi o mais popular, representando 69% das compras feitas.

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Faixa etária dos 15 aos 34 foi a sofreu maior aumento na compra de livros

A faixa etária dos 15 aos 34 anos foi a que mais comprou livros (uma média de 6,3 livros por ano) nos últimos 12 meses. Em relação ao ano antes da Covid-19, houve um aumento de 44% na aquisição de livros entre as camadas mais jovens, sobretudo na região de Lisboa (mais 5%) e no sul do país (mais 12%). Pelo contrário, no Porto, houve uma quebra de 11%.

Perto de 50% dos portugueses comprou a mesma quantidade de livros em relação ao ano antes da Covid-19 e 23% comprou mais livros. A maioria dos leitores em Portugal continua a preferir fazer as suas compras em livrarias físicas. Apenas 39% admitiu ter comprado livros em lojas online em 2022. O formato físico permanece o mais popular, tendo representado 99% das compras em 2022.

Em 2022, foi a região do Porto que sofreu a maior quebra no número de vendas em Portugal em comparação ao ano antes da Covid-19 (menos 14%), seguida pelo Litoral e Interior, onde a aquisição de livros desceu 10%. A quebra atingiu sobretudo os grupos sociais mais desfavorecidos.

Pedro Sobral destacou a importância de “um sistema de ensino moderno” na promoção da leitura e de um país mais “desenvolvido, democrático, livro, inclusivo e sustentável”. Defendendo “o acesso universal ao livro”, o presidente da APEL afirmou que este é necessário para “cumprir o Portugal que queremos, para nós e para as gerações futuras”.

“Esperamos, eu acredito que sim, que os mais de 60 oradores [que vão participar no Book 2.0] nos vão dar pistas, ideias, projetos, que nos permitam a nós, editores e livreiros, ser melhores, e aos decisores políticos decidir e executar melhor”, transformando os desafios em oportunidades de continuar a trazer a leitura, declarou Pedro Sobral.

Há “muitas áreas onde podemos progredir”, mas devemos ser “otimistas em nossas perspetivas”

Karine Pansa, a segunda mulher a presidir à International Publishers Association (IPA), a maior federação de editoras, criada há 125 anos em Paris, defendeu a importância da aplicação de leis mais robustas para proteger os direitos editoriais no tempo do digital, protegendo as obras da pirataria digital e o investimento das editoras.

Apontando que muitos têm uma visão pessimista do impacto das novas tecnologias no mercado do livro, a responsável brasileira encorajou “todos a sermos otimistas em nossas perspetivas” e manterem-se resilientes, lembrando que “o mercado editorial em muitos países sobreviveu à pandemia, sobretudo quando duas condições foram atendidas: quando havia uma cultural local da leitura por prazer e quando havia uma infraestrutura digital solida para que as pessoas pudessem comprar livros online”.

“A infraestrutura digital envolve tecnologia, mas principalmente envolve estruturas legais solidas que protegem a disponibilidade digital das nossas obras e oferecem incentivos para a transição digital da industria à medida que o mercado de audiobook e ebooks está a crescer”, disse, acrescentando que, atualmente, “as leis não protegem suficientemente as obras das editoras da pirataria digital”, comprometendo o investimento feito.

“Cientes dos desafios enfrentados pelas editoras, a IPA defende leis robustas dos direitos autorais. Estas são fundamentais para incentivar autores e editoras a investir e a disponibilizar ao público obras essenciais e valiosas. (…) Os livros ainda podem ser sobretudo impressos, mas isso não significa que sejam analógicos. É preciso passar a ideia de quão o nosso negócio é tecnológico e como abraçamos a nova tecnologia.”

Destacando alguns dos desafios que o setor enfrenta, alguns dos quais provocados pelas novas tecnologias, como a divulgação de desinformação e a intimidação, Karine Pansa admitiu que há “muitas áreas onde podemos progredir”, mas mostrou-se esta quinta-feira otimista de que o mercado do livro continuará a florescer.

O Book 2.0 #The Future of Reading decorre entre esta quinta e sexta-feira no Picadeiro Real, em Lisboa, com a presença de representantes do setor do livro e decisores políticos. Marcelo Rebelo de Sousa, um dos principais promotores do evento organizado pela APEL, fará uma intervenção esta quinta-feira à tarde, depois de uma conversa com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, conduzida por Tiago Pereira, editor de Cultura do Observador. O programa completo está disponível aqui.