Foi depois de uma hora em que se dedicou a falar de Europa e particularmente da sua experiência nas instituições de topo — incluindo a presidência da Comissão Europeia durante dez anos — que Durão Barroso decidiu deixar uma mensagem muito clara ao seu partido: o PSD deve estar “mobilizado” para as eleições europeias do próximo ano, que são a sua “prioridade imediata”.

“Penso sinceramente que é tempo de encontrarmos outro Governo para Portugal, mas temos de o preparar, na oposição. Para isso há uma data fundamental já daqui a uns meses”, avisou.

Defendendo a “experiência” e “credibilidade” do PSD nos assuntos europeus, Durão dirigiu-se aos jovens da Universidade de Verão do PSD — sendo esta uma rara aparição em contexto partidário — para deixar o alerta: “Hoje devemos estar mobilizados para as próximas europeias, que são daqui a alguns meses. Devemos estar a preparar as nossas equipas, ter uma mensagem para o país,  dizer como vamos executar o nosso projeto nacional em articulação com projeto europeu. Essa é a nossa prioridade imediata”, sublinhou.

“Nós, PSD, somos por excelência o partido da Europa. E devemos ter orgulho nisso”, atirou o antigo primeiro-ministro, lembrando os anos do Governo de Cavaco Silva e a entrada na CEE, recordando o Governo de Pedro Passos Colho, que “tirou Portugal da bancarrota”, e a própria experiência na Comissão Europeia (“este vosso amigo militante do PSD presidiu à Comissão Europeia durante dez anos num período extremamente difícil”), para onde foi interrompendo o seu mandato como primeiro-ministro — seria substituído por Pedro Santana Lopes e o Executivo do PSD acabaria demitido pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio.

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Desta vez, Durão fez uma rara aparição em lides partidárias e, apesar de ter assumido o papel de senador e ido a Castelo de Vide para falar de Europa, acabou por se dirigir muito diretamente ao partido, a caminho de umas europeias determinantes que podem funcionar como prova de vida para o PSD.

Em declarações aos jornalistas, no final da sessão, voltou a frisar: “As europeias são muito importantes para o país e para o PSD em especial. A prioridade política de hoje em dia em termos eleitorais devem ser as europeias — e em termos substanciais é sempre o país, e neste caso a governação do país”.

Além disso, na Universidade de Verão, que tem servido como palco para a discussão sobre eleições presidenciais, Durão foi o segundo nome considerado presidenciável que acabou assim por aconselhar poucas pressas ou distrações no calendário (a corrida a Belém acontece daqui a mais de dois anos, no final do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa). “Todas as eleições são importantes e as presidenciais são importantes”, considerou enquanto falava com os jornalistas. Mas não são para já, como frisava há dias Paulo Portas, no mesmo palco, avisando a direita de que deve concentrar-se em derrotar António Costa e não em arranjar substituto para Marcelo.

Durão volta a afastar Belém do caminho

Quanto a presidenciais, e apesar de na sessão de ter dito que tinha saudades de momentos de política ativa — pelo menos daqueles em que, recordou, lançou a primeira edição da Universidade de Verão, em 2003 — disse que o seu estado de espírito está “exatamente na mesma” em relação ao momento em que há meses disse estar “fora” dessa competição. “Não prescindo de exprimir a minha opinião mas não estou na política ativa”. Desta vez, expressou muitas opiniões — e muitas dirigidas diretamente ao seu partido.

“Portugal livrou-se da ditadura do proletariado mas não do comentariado”, atirou, recusando ir mais longe nos recados ao PSD.

“Não estou nessa competição.” Durão Barroso afasta candidatura à Presidência da República