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O novo ano letivo arrancou na Ucrânia no dia 1 de setembro — o segundo em tempo de guerra — e no primeiro dia de aulas as crianças rumaram às escolas, algumas prontas para começar os estudos em novas salas subterrâneas, outras preparadas para correr para os abrigos antiaéreos ao primeiro sinal de um ataque iminente.

Numa sala de aulas no leste da Ucrânia, a professora de geografia Larysa Kulyaba tinha preparada uma aula sobre a importância da resiliência. O início da sessão começou, por isso, quando escreveu no quadro a giz três dígitos: 555, o número de dias que passaram desde o início da invasão russa. “Cada um de vocês conhece exemplos de ucranianos invencíveis”, começou por sublinhar a professora, citada pelo jornal New York Times, que assistiu à aula.

Ao longo de mais de um ano de guerra, os ataques aéreos russos destruíram na Ucrânia 1.300 escolas, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que registou danos em muitos outros estabelecimentos de ensino por todo o país. Como tal, antes do início do novo ano letivo as autoridades ucranianas procuram aumentar o nível de segurança dos estabelecimentos de ensino. Se em 2022, entre creches, escolas e universidades, apenas 41% tinham abrigos anti-bomba ou outras estruturas de proteção, este ano, só a nível de escolas, 84% estão já equipadas com abrigos, segundo revelou esta semana o ministro da Educação, Oksen Lisovyi.

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As medidas implementadas pelo governo estão a deixar alguns pais mais descansados ao enviar os filhos para a escola. “Quando estava a estudar online, não havia sempre possibilidade de chegar a um abrigo. Mas na escola ele poderá resguardar-se sempre que uma sirene de ataque aéreo soar“, disse à Reuters Mariia Doloban, cujo filho Oleksii, de oito anos, começou o ano numa nova escola na capital com um abrigo em condições.

A família de Oleksii, originária da região de Kherson, chegou a sair da Ucrânia para fugir à guerra, mas, como muitas outras, decidiu regressar e acabou por se estabelecer na capital. Na Grécia, onde ficaram alguns meses, não se sentiam em casa, explicou Mariia Doloban, acrescentando que o filho não se conseguiu adaptar bem à escola. “Quando lhe perguntava como estava a correr as aulas, ele dizia muitas vezes que as passava a dormir porque estava aborrecido e não compreendia nada do que se dizia”.

Mesmo com as garantias de escolas e abrigos mais seguros, nem todas as famílias decidiram regressar ao modelo presencial. O arranque do ano até já trouxe alguns sustos, com a ameaça de ataques aéreos. À Reuters, Tetiana Bondar sublinhou que a segurança dos filhos está em “primeiro lugar”, explicando que, apesar da escola ter oferecido um autocarro para transportar as crianças, os seus filhos vão continuar a assistir às aulas online.

Na região de Kharkiv, que os mísseis russos podem alcançar em cerca de um minuto, sem tempo para as crianças se deslocarem das salas para os abrigos, criaram-se alternativas para garantir a sua segurança. O presidente da câmara de Kharkiv, Ihor Terekho, revelou na terça-feira que foram construídas 60 salas de aulas subterrâneas em estações de metro. Segundo as autoridades, em declarações à France 24, a criação destes espaços permitiu que mais de mil crianças estudassem presencialmente.

Segundo um relatório da UNICEF divulgado esta semana, o arranque do ano letivo é muito diferente pela Ucrânia. Apenas cerca de um terço das crianças em idade escolar frequentam aulas totalmente presenciais, um terço aprende totalmente à distância e as restantes têm uma abordagem mista. A agência da ONU aponta também as consequências que mais de um ano de guerra estão a ter nos alunos, alertando para “uma perda generalizada na aprendizagem”.

Na Rússia também já arrancou o novo ano letivo, marcado pela introdução de um novo manual de História no ensino secundário com a versão do Kremlin sobre a invasão da Ucrânia por tropas russas, a 24 de fevereiro de 2022. O livro inclui um mapa da Rússia com as regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia, anexadas há um ano, embora o exército russo não as controle na totalidade.

Aproveitando o início do ano letivo para reforçar a narrativa russa na guerra, o Presidente Vladimir Putin discursou perante um grupo de jovens. “Éramos absolutamente invencíveis e, hoje em dia, continuamos a sê-lo”, sublinhou. O discurso contrastou, e muito, com as palavras que na Ucrânia o chefe de Estado, Volodymyr Zelensky, dirigiu um dia antes a alunos universitários. “A educação é importante, mesmo que os tempos sejam difíceis”.

Putin discursa a grupo de jovens na abertura do ano letivo: “Éramos absolutamente invencíveis e, hoje em dia, continuamos a sê-lo”