Cinco norte-americanos que estavam detidos no Irão, alguns há quase uma década, deixaram esta segunda-feira o paíss depois de um acordo milionário de troca de prisioneiros e já estão a voar para o Qatar, avança a Reuters.

A troca implicou a transferência para o Qatar de fundos iranianos no valor de seis mil milhões de dólares (5,6 mil milhões de euros, ao câmbio atual).

“Cinco cidadãos iranianos detidos nos Estados Unidos foram libertados e cinco cidadãos norte-americanos regressaram aos Estados Unidos”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, citado pela agência espanhola EFE.

O diplomata referiu que dois dos cidadãos iranianos regressarão ao país, dois permanecerão nos Estados Unidos e o quinto viajará para um terceiro país. Dois dos cinco iranianos são Reza Sarhangpur e Kambiz Attar Kashani, acusados de “utilização abusiva das sanções norte-americanas” contra o Irão, informou a agência francesa AFP.

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Segundo meios de comunicação social regionais, os prisioneiros norte-americanos Siamak Namazi, Emad Shargi, Morad Tahbaz (um conhecido conservador) e dois indivíduos não identificados foram transportados para o Qatar ao início da tarde. O empresário Siamak Namazi foi condenado por Teerão a dez anos de prisão em 2016 por espionagem.

O Qatar serviu de mediador entre o Irão e os Estados Unidos, dois países que não mantêm relações diplomáticas, num processo que demorou vários meses.

Os norte-americanos libertados viajaram para Doha, no Qatar, e dali deverão seguir para Washington. Imagens entretanto divulgadas mostram o momento do desembarque do avião na capital qatari:

A troca de prisioneiros segue-se à conclusão da transferência dos fundos pertencentes a Teerão que estavam bloqueados pelas sanções dos Estados Unidos, no âmbito de um acordo alcançado entre Teerão e Washington no início de agosto.

“Esperamos ter hoje [segunda-feira] a confirmação de que todos os fundos libertados foram pagos”, disse Kanani numa conferência de imprensa em Teerão, citado pela AFP.

Os Estados Unidos aprovaram uma derrogação para a libertação de fundos de pagamentos de Seul para a compra de gás ao Irão e o dinheiro foi transferido para várias contas no Qatar. Washington disse que Teerão não terá acesso direto aos fundos, que só poderão ser utilizados para fins “estritamente humanitários”.

A aquisição de produtos humanitários é autorizada ao abrigo das sanções americanas que afetam a República Islâmica devido ao avanço do programa nuclear.

Membros do governo iraniano concordaram em grande medida com esta situação, embora alguns elementos da “linha dura” tenham insistido, sem apresentar provas, que não haveria restrições à forma como Teerão gasta o dinheiro.

De acordo com a Associated Press, a troca de prisioneiros desenrolou-se no quadro “de uma escalada militar norte-americana no Golfo Pérsico”, com a possibilidade de tropas dos Estados Unidos abordarem e apresarem navios comerciais no Estreito de Ormuz, através do qual navegam 20% de todos os carregamentos de petróleo.

O Irão tem sido acusado de utilizar cidadãos com dupla nacionalidade e prisioneiros estrangeiros como meio de pressão ou de troca de prisioneiros com outros Estados. Trata-se de uma prática descrita como “diplomacia de reféns” por outros países e por organizações de direitos humanos.

Após a transferência, o Irão “deixará de ter muitos recursos bloqueados noutros países”, afirmou Kanani. “No Japão tínhamos uma certa quantia, mas já utilizámos uma grande parte e a quantia restante não é significativa”, acrescentou o porta-voz da diplomacia iraniana.

Aos olhos de alguns especialistas, a troca de prisioneiros reflete um abrandamento das tensões entre Teerão e Washington, segundo a AFP. No entanto, não antecipa um eventual acordo sobre o programa nuclear iraniano, depois de o ex-presidente Donald Trump ter denunciado o acordo de 2018 sobre a questão.

O acordo está a ser criticado por alguns setores da sociedade norte-americana, particularmente pela oposição do Partido Republicano, com vários senadores no Congresso a considerarem que uma negociação desta natureza apenas encoraja o regime iraniano a manter a sua política de prender cidadãos norte-americanos como parte da sua política diplomática.

Joe Biden confirma acordo e anuncia novas sanções contra o Irão

A troca de prisioneiros entre Washington e Teerão foi confirmada pelo Presidente dos EUA. Em comunicado, Joe Biden referiu que os “americanos inocentes” libertados estão bem e encontram-se “a caminho de casa”.

“Siamak Namazi, Morad Tahbaz, Emad Sharghi e dois cidadãos que desejam permanecer no anonimato serão reunidos com os seus entes queridos em breve, depois de resistirem durante anos à aflição, à incerteza e ao sofrimento”, declarou o Chefe de Estado, de acordo com o The Guardian.

Biden agradeceu ao Qatar, em particular ao emir do país árabe, o sheik Tamin bin Hamad, e ao sultão de Omã pelo seu papel enquanto mediadores das negociações.

Ao mesmo tempo, o líder norte-americano lembrou “aqueles que não regressaram” – em particular o caso de Robert Levinson, um ex-agente federal que desapareceu no Irão em 2007 e que, presume-se, morreu à guarda da justiça iraniana (Teerão nunca admitiu a sua detenção). “Insto o regime iraniano a fornecer um relato detalhado do que aconteceu a Bob Levinson. A família Levinson merece respostas”, disse.

O Presidente dos EUA aproveitou ainda para anunciar que Washington irá impor novas sanções a entidades iranianas. Concretamente, as restrições visam o ex-Presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, e o Ministério de Informação iraniano que, dizem os EUA, têm desempenhado um papel decisivo na detenção de cidadãos seus ao longo dos anos.