Nos anos em que foi diretor executivo de uma das maiores empresas de construção da Ucrânia, Oleh Maiboroda mantinha maços de notas num cofre atrás da secretária para subornar funcionários públicos para aprovar projetos de construção. A história, contada à agência Reuters pelo próprio Maiboroda, num artigo publicado esta terça-feira, ganha particular relevância já que o advogado que assegurava a transação era Oleh Tatarov, atual vice-chefe de gabinete do Presidente da Ucrânia.

Há muito suspeitas de corrupção pairam sobre Oleh Tatarov, que é descrito no jornal Kyiv Independent como “o símbolo da tolerância de Zelensky para com a corrupção no seu círculo íntimo”. Em 2021, houve até uma petição com mais de 25 mil assinaturas para que Volodymyr Zelenskiy despedisse o conselheiro, que foi acusado de ter tentado subornar um especialista forense para ajudar um antigo deputado num caso judicial que enfrentava.

À Reuters, Maiboroda explicou como era Tatarov que costumava resolver todos os problemas com as autoridades policiais, com subornos entre 2014 e 2019. Os contactos do advogado com a polícia, tribunais e procuradores tornaram-no o intermediário perfeito.

“Claro que ele estava a pagar” para facilitar projetos com as autoridades, incluindo a obtenção de licenças de construção, disse Maiboroda. “Estava a dar  dinheiro para que esses acordos fossem feitos”, acrescentou, sem fornecer provas das acusações à Reuters.

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As declarações de Maiboroda, recorda a agência noticiosa, reacendem uma controvérsia que tem assombrado o presidente Volodymyr Zelenskiy mesmo em tempo de guerra: acusações de adversários políticos e ativistas anti-corrupção de que Tatarov tem sido protegido de processos judiciais. Tatarov, vice-chefe de gabinete do Presidente ucraniano, negou sempre qualquer acusação e não foi condenado por nenhum crime.

Desvio de dinheiro, férias com o carro do oligarca e geradores-fantasma. A purga de Zelensky contra a corrupção vai ficar por aqui?

Zelenskiy já afirmou que a corrupção não tem lugar na sua administração. “Quero enfatizar: se aqueles que trabalham comigo forem suspeitos de corrupção, essas pessoas serão demitidas. E ainda não vi tais exemplos no meu gabinete”, disse numa entrevista em dezembro de 2020 à revista ucraniana Focus.

A Ucrânia ocupa o lugar 122 entre 180 países no ranking da Transparência Internacional. Zelensky, um antigo comediante tornado político, foi eleito em 2019 também graças à sua mensagem anti-corrupção, mas a sua parca intervenção na área após a eleição acabaria por minar os seus níveis de popularidade antes da invasão russa.

A imagem da Ucrânia no que toca à corrupção ganha particular relevância perante a tentativa de entrada para a União Europeia. Enquanto país candidato a membro da UE tem de provar que está empenhado no combate contra a corrupção.