O arranque até foi bom, as primeiras duas voltas deram uma imagem de relativa competitividade mesmo não chegando para acompanhar alguns dos tempos dos pilotos na liderança, a realidade acabou por expor aquilo que Miguel Oliveira mais temia. Apesar de ter ficado no 12.º lugar na corrida sprint do Grande Prémio da Índia, o português teve sinais negativos que não esperava após as alterações que foram sendo feitas desde o primeiro dia de treinos livres, perdendo por exemplo mais de um segundo em média para o vencedor Jorge Martín. Por isso, a corrida no Circuito Internacional de Buddh era encarada com uma confiança (ou falta dela) que nada tinha a ver com os resultados recentes que conseguiu na Catalunha ou em São Marino.

A chuva era boa conselheira mas parou demasiado cedo: Miguel Oliveira ganha sete posições mas acaba corrida sprint na Índia em 12.º

“A situação é difícil, não estamos a conseguir render como esperávamos. Há muitas curvas lentas, onde temos de voltar a dar gás e isso não nos está a ajudar muito. Por alguma razão, não estamos a ser capazes de ser competitivos. Isso não nos ajudou na qualificação e tivemos algumas dificuldades agora na corrida sprint. Estive um pouco melhor mas aconteceram imensas coisas e tive de ceder uma posição. Pelo que me disseram ultrapassei em bandeiras amarelas e tive também uma fuga de óleo. Não foi um dia fácil. Para amanhã [domingo] espero ser competitivo e finalizar nos pontos”, comentou o número 88 este sábado.

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“Foi um dia bastante difícil, tivemos mais de uma hora de sessão pela manhã e à tarde. Não é fácil de gerir e com certeza que não fizemos o esforço máximo fisicamente. Foi complicado entender onde colocar as rodas. Nós forçamos um pouco mais com os contrarrelógios na sessão de treinos, mas com o calor tem sido bastante desafiante. É uma pista muita técnica, tem muitos pontos onde não dá para soltar muito. Obviamente, é uma pista divertida de pilotar. Diverti-me, especialmente à tarde, e estou ansioso para dar mais um passo em frente”, tinha referido ainda na sexta-feira, esperando um salto que não aconteceu.

A bandeira amarela foi mesmo o vermelho à Q2: Miguel Oliveira faz 17.º tempo na Índia (após a má experiência no críquete)

Se antes da chegada à nova pista na zona de nova Deli existia até um registo histórico ao alcance de Miguel Oliveira, que passava pela terceira vitória consecutiva em pistas que faziam a estreia no calendário depois de Portugal (2020) e Indonésia (2022) como só Marc Márquez tinha conseguido, a realidade acabou por ser nefasta para o piloto português. Mais: sendo verdade que as Aprilia de fábrica também estavam muito longe da concorrência, com Maverick Viñales a ser oitavo na sprint e Aleix Espargaró a cair na parte final, Raúl Fernández, companheiro do número 88 na RNF Aprilia, esteve sempre bem mais rápido do que o português e conseguiu mesmo garantir um ponto na sprint após sair da 11.ª posição na grelha de partida.

Foi isso que se voltou a ver no warm up, um período de testes antes da corrida que não podia servir como referência a nível de tempos tendo em conta a desvantagem de mais de 3.3 segundos para Jorge Martín mas que tinha o condão de mostrar as dificuldades que Miguel Oliveira estava a sentir em conseguir adaptar a sua moto às características muito específicas deste Circuito Internacional de Buddh, descrito como uma mistura de vários pormenores de outros traçados. Até pela falta de tempo para fazer melhor a nível de set up da moto, a corrida na Índia depois dos 15 pontos na Catalunha e dos dez pontos em São Marino (e dos 13 em Silverstone, com o abandono em Spielberg) partia sobretudo como uma “minimização de danos” entre a curiosidade de perceber até que ponto Bezzecchi conseguiria “vingar” aquele toque de Luca Marini que o impediu de chegar ao pódio na sprint sendo o mais rápido e que Márquez repetiria a terceira posição.

Jorge Martín conseguiu mais uma grande saída que lhe permitiu passar para a frente mas uma curva com travagem mais em cima acabou por deixar o espanhol em terceiro, atrás de Bezzecchi e Bagnaia no final da primeira volta. Mais atrás, Miguel Oliveira mantinha o 17.º lugar em que partiu, com Maverick Viñales a ser o principal prejudicado de alguma confusão gerada na curva 1 descendo à última posição. Pouco depois, o português ganhou um posto a Stefan Bradl mas pressionado por um Viñales com um andamento melhor do que a moto da equipa satélite da Aprilia. Marc Márquez, Fabio Quartararo, Joan Mir e Zarco andavam na luta pela quarta posição, com Brad Binder a ser a melhor KTM mas a rodar em oitavo.

Marco Bezzecchi já tinha uma vantagem de dois segundos, confirmando as indicações que deixara antes na sprint, mas ganhava um novo adversário com a ultrapassagem de Jorge Martín a Pecco Bagnaia, sendo que Marc Márquez estragava a corrida com uma saída a deslizar na curva 1 que o colocou na 17.ª posição numa luta que seria agora de trás para a frente para garantir o máximo de pontos. Miguel Oliveira chegou a subir a 15.º, por ter passado Augusto Fernández. Um pouco mais à frente, Viñales já ia em 12.º após ultrapassar Pol Espargaró e Raúl Fernández, enquanto o português ia beneficiando da regularidade mesmo não tendo o ritmo que mais desejava para subir mais um lugar, neste caso superando Pol Espargaró antes da resposta do espanhol com quem teve acesos duelos em 2020 e da ultrapassagem também de Marc Márquez.

Com as posições estabilizadas na frente a nível de top 5 entre Bezzecchi, Martín, Bagnaia, Quartararo e Joan Mir, o grande foco nessa fase da corrida era a recuperação de Marc Márquez e a possibilidade de Miguel Oliveira poder fazer melhor do que o 15.º lugar (ainda assim nos pontos) após os problemas técnicos na moto de Aleix Espargaró que retiraram o espanhol da Aprilia da corrida. A oito voltas do final, com Bezzecchi a passear na frente, Bagnaia e Martín lutavam pela segunda posição de novo com o italiano na frente, sendo que Quartararo ainda não tinha descolado por completo da dupla com a perspetiva de voltar a um pódio. Foi aí que apareceu o verdadeiro golpe de teatro na corrida, com Bagnaia a sofrer mais uma queda e a estender a passadeira para Jorge Martín acabar em segundo e ficar a apenas 13 pontos no Mundial de 2023.

Mais do que nunca, era tudo uma questão de evitar erros como aquele que Pecco Bagnaia cometeu para cair e abdicar de um pódio que estava garantido, sendo que também Jorge Martín teve um pequeno problema com o fato a abrir antes de aproveitar uma zona mais lenta de curvas para resolver a questão. Miguel Oliveira era 13.º após passar de novo Pol Espargaró, ficando atrás do companheiro de equipa Raúl Fernández que estava a rodar com um aviso de ultrapassagem dos limites de pista. Na luta pelo quarto lugar, Joan Mir teve um pequeno deslize em curva e permitiu que Brad Binder subisse mais um posto, ao passo que Quartararo ainda esteve em segundo antes de Martín segurar o lugar. Miguel Oliveira ainda subiu ao 12.º posto, ficando na mesma em 13.º do Mundial mas agora com uma maior distância em relação a Franco Morbidelli.