O MotoGP chegou à Índia e não à China mas nem por isso deixou de transformar os mesmos caracteres que significam crise numa oportunidade de ouro. Aliás, tudo aquilo que tinha potencial para correr mal fintou a lei de Murphy que se adivinhava e conseguiu encontrar solução. Exemplos práticos: pouco antes do Grande Prémio da Índia o Circuito Internacional de Buddh, perto de Nova Deli, não estava ainda homologado; todos os muitos intervenientes do espectáculo encontravam-se com problemas de obter vistos; não foi encontrada solução para que os pilotos não tivessem de pagar um imposto extra para entrarem no país. No final, de uma forma ou outra, tudo se resolveu. E foi neste contexto que Miguel Oliveira e companhia chegaram ao traçado que faz a estreia no Mundial, com umas tentativas falhadas pelo meio de experimentar o famoso críquete.

Se em termos de competitividade as alterações feitas no modelo do Mundial têm tentado procurar formas de encontrar maior atratividade num MotoGP que caiu quase de forma natural com a saída de cena do grande ícone das últimas duas décadas, Valentino Rossi, a Índia surgia também como a oportunidade de potenciar um novo mercado que por sinal até é o mais apetecível de todos, tendo em conta que cerca de 40% de todo o mercado de venda de motas está concentrado em território indiano. Foi nesse contexto que as equipas, a organização e a Dorna tentaram ao máximo resolver todas as questões laterais como o pagamento de um quinto de 5% dos ordenados de cada um dos pilotos. Agora chegava a competição entre a descoberta.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Parece ter um layout interessante. Tem uma grande reta mas o resto parece muito divertido de se fazer. Parece seguro para nós de fora. É promissor, vamos ver amanhã nos treinos livres. Tentaram colocar um pouco de tudo, de cada circuito. Parece muito interessante este tipo de curvas que têm tipo a do estádio, não sei se é a curva 8 ou 9. Esta direita, parece muito boa. Mas olhando para o desenho, não te lembra um tipo de pista específica, é uma mistura de tudo. Velocidade máxima da reta? Ainda não faço ideia. Mesmo em Austin não fazemos velocidades extraordinárias e é uma das maiores retas. Esta é maior mas não sei mesmo. O que é necessário é tentar perceber a fluidez do circuito e alguns pontos de travagem porque depois de uma reta, tens de ter ciente onde travar mais ou menos. Já sabíamos mais ou menos ao vir para o circuito se seria um circuito mais para a esquerda ou para a direita”, comentara Miguel Oliveira no lançamento da prova.

Esta não era um prova qualquer. Por um lado, o português vem dos dois melhores resultados consecutivos da época, com um sexto lugar em São Marino depois da quinta posição na Catalunha (melhor até aí só mesmo o quarto posto em Silverstone e o quinto nas Américas, que não foram seguidos), querendo assim dar uma continuidade ao momento para continuar a subir na classificação e aproximar-se do top 10, principal objetivo “concretizável” nesta fase. Por outro, o número 88 podia igualar um recorde de Marc Márquez ao tornar-se o segundo piloto a ganhar em três traçados estreantes de forma consecutiva, após as vitórias que teve no Grande Prémio de Portugal em 2020 e no Grande Prémio da Indonésia no ano passado. Contudo, os primeiros sinais que ficaram não foram os mais animadores, com o Falcão a não passar do 17.º registo da sessão inicial de treinos livres que agora não conta para os tempos combinados com acesso à Q2 direta.

Havia ainda assim notas que não deviam passar ao lado. Ponto 1: Raúl Fernández, companheiro do piloto português na RNF Aprilia, ficou com o quarto registo, sinal de que a equipa tinha algum potencial para melhorar a sua moto. Ponto 2: nomes como Pecco Bagnaia, Aleix Espargaró ou Álex Márquez, que tem sido uma das boas revelações desde ano, ficaram também longe do top 10 e a um segundo ou mais do mais rápido desta manhã (madrugada em Portugal), Marco Bezzecchi. Por tudo isto, a segunda sessão de treinos livres era esperada com grande expetativa para perceber quem na verdade tem moto para rodar na frente naquela que seria uma estreia para todos os pilotos, ainda em fase de experimentação ao que podem fazer em corrida.

Foi isso que se viu logo nos minutos iniciais, com Aleix Espargaró, Jorge Martín ou Pecco Bagnaia a fazerem voltas mais rápidas entre uma série de saídas para a gravilha na curva após a longa reta da meta com Marco Bezzecchi e Aleix Espargaró a serem os primeiros a passarem por ali na segunda sessão. Já Miguel Oliveira continuava à procura de outras sensações, voltando de novo às boxes após a primeira saída e tendo depois o 14.º registo (passou de seguida a 15.º) na volta lançada inicial. Pouco depois, o português encontrou o sinal que procurava, chegando ao oitavo melhor registo numa altura em que era seguido pela realização. Na volta seguinte, sétimo tempo só atrás de Bezzecchi, Espargaró, Martín, Di Giannantonio, Mir e Quartararo.

O português voltou depois a parar, o que fez com que caísse de novo para fora do top 10, mas a resposta no regresso à pista não demorou. Quando faltavam 25 minutos para o final da sessão, Miguel Oliveira cravou a sua melhor volta na Índia, com 1.45,863 que deixou o piloto da RNF Aprilia apenas atrás de Jorge Martín e Luca Marini. Ainda assim, o indicador estava longe de ser definitivo. Muito longe mesmo: à entrada para os dez minutos finais, o número 88 tinha descido já ao 13.º lugar, precisando assim de voltar a melhorar para alcançar ainda a Q2 (numa fase em que os cinco construtores estavam no top 10). Acabou por não acontecer: já depois de se ter afundado até ao 17.º posto, Oliveira guardou tudo para uma última volta mas as bandeiras amarelas no segundo e terceiro setores pela queda de Takaaki Nakagami abortaram a tentativa.

Desta forma, seguem para a Q2, na manhã deste sábado, Luca Marini, Jorge Martín, Aleix Espargaró, Marc Márquez, Marco Bezzecchi, Maverick Viñales, Pecco Bagnaia, Fabio Quartararo, Johann Zarco e Joan Mir, ao passo que vão ainda passar pela Q1, a par de Miguel Oliveira, Fabio Di Giannantonio, Brand Binder, Álex Márquez, Franco Morbidelli, Augusto Fernández, Raúl Fernández (que foi ligeiramente mais rápido do que o português na segunda sessão), Jack Miller, Pol Espargaró, Stefan Bradl, Nakagami e Michele Pirro.