Era como uma conjugação cósmica de fatores que se cruzava no Circuito Internacional de Buddh, logo ali nos arredores de Nova Deli. Miguel Oliveira atravessava o melhor momento da época a conseguir pela primeira vez dois resultados consecutivos de mérito com o quinto lugar na Catalunha e a sexta posição em São Marino. Depois, a Aprilia provou no último Grande Prémio que encontrou novas soluções que colocam as suas motos (pelo menos as de fábrica) ao nível das melhores – o que nem sempre aconteceu no início da temporada. A seguir, existia ainda a possibilidade de igualar o registo histórico de Marc Márquez de três vitórias seguidas em circuitos que faziam a estreia no Moto GP, neste caso a seguir a Portugal (2020) e Indonésia (2022). No entanto, o primeiro dia de treinos livres, que deixou o português em 17.º, baixou as expetativas.

A bandeira amarela foi mesmo o vermelho à Q2: Miguel Oliveira faz 17.º tempo na Índia (após a má experiência no críquete)

Depois de uma primeira sessão matinal muito discreta, o Falcão ainda conseguiu abrir asas em algumas fases da segunda sessão com subidas ao terceiro lugar e permanências no top 10 que dava qualificação direta para a Q2 mas acabou por afundar-se nos minutos finais quando preparava a última saída e teve o “azar” de ver bandeiras amarelas no segundo e terceiro setores após uma queda de Takaami Nakagami quando estava a fazer a volta para a qual tinha guardado. Foi quase como um balde de água fria que separou uma possível entrada nas quatro primeiras linhas e o assumir de que o circuito da Índia não trazia boas sensações.

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Miguel Oliveira espera “marcar pontos” na estreia do MotoGP na Índia

“Hoje [sexta-feira] foi um dia difícil, tínhamos uma sessão de mais de uma hora de manhã e à tarde. Não é fácil gerir, não fomos ao limite fisicamente. A sessão da manhã foi difícil perceber onde meter as rodas. Puxámos mais no time attack na sessão da tarde mas, com o calor, foi difícil. É muito técnica, a pista tem muitos pontos de travagem onde não podes soltar demasiado. É uma pista divertida de se conduzir, desfrutei sobretudo na sessão da tarde e já olho para amanhã [sábado] para dar outro passo em frente”, comentou o português após um dia bem menos conseguido do que esperava. “Penso que falhámos o apex em todas as curvas. Acho que estávamos à espera que a pista fosse um pouco mais rápida, para ser honesto. Mas achei-a muito estreita e difícil para entender os marcadores de travagem”, acrescentou ainda.

Não estava bem, também não melhorou na qualificação. Mais: a própria Aprilia, que através das suas motas de fábrica tinha dado sinais de poder continuar a andar na frente (mesmo que não tivesse aquele domínio alcançado em São Marino, com 1-2 na corrida), não teve um dia propriamente fácil à exceção da surpresa Raúl Fernández, que de forma inesperada ascendeu à Q2 e ficou no 11.º lugar da grelha logo atrás de Aleix Espargaró e Maverick Viñales com quatro Ducatis na frente (Marco Bezzecchi, Jorge Martín, Pecco Bagnaia e Luca Marini) e duas das renascidas Hondas logo a seguir (Joan Mir e Marc Márquez). Miguel Oliveira, esse, acabou por não ir além de um modesto 19.º posto, numa das piores qualificações do ano.

Ainda assim, a manhã seria tudo menos calma e “normal” devido às condições climatéricas que se fizeram sentir na Índia, com muita chuva a deixar a pista demasiado molhada e a atrasar tudo, a começar logo pela qualificação do Moto3. Mais um atraso, mais chuva, mais expetativa para perceber se a pista poderia estar ou não “praticável” tendo em conta o desconhecimento que existia ainda do traçado, Miguel Oliveira a mostrar que aquele podia ser o seu terreno ao ficar com o quarto tempo nos 15 minutos de warm up antes da corrida sprint que confirmou que a pista estava a ficar seca. Quase uma hora e depois, tudo normalizara.

Com Álex Márquez de fora após uma queda na qualificação que levou a que tivesse mesmo de ir ao hospital para despistar a existência de qualquer fratura (um problema que se confirmou mesmo), a primeira curva acabou por marcar grande parte daquilo que foi e podia ter sido a corrida sprint, com Luca Marini a travar demasiado tarde e a tocar Marco Bezzecchi para a queda de ambos, algo que se passou também mais atrás com Stefan Bradl, Augusto Fernández e Pol Espargaró. Assim, Jorge Martín acabou por agarrar de imediato a liderança e partir para uma vantagem confortável na frente com Pecco Bagnaia na perseguição.

Miguel Oliveira aproveitou toda a confusão para se colocar por dentro na curva 1 e subir a 11.º, sendo que teve de ceder pouco depois a posição a Nakagami por ter ultrapassado num período que já estava com as bandeiras amarelas. Esse abrandamento fez com que o português perdesse algum ritmo e fosse também superado de seguida por Bezzecchi e Di Giannantonio mas uma queda de Joan Mir, quando seguia em quarto, promoveu a subida do português a 13.º. Johann Zarco também teve uma queda pouco depois mas o andamento do número 88 não dava para muito mais, rodando em 12.º à frente de Nakagami antes de ser ultrapassado por Aleix Espargaró que caiu pouco depois. Com Bezzecchi a fazer uma recuperação de sonho até ao quinto posto, a luta estava centrada no terceiro lugar com Martín e Bagnaia na frente e Marc Márquez a tentar defender-se de Brad Binder. Tudo ficaria assim, com Oliveira a confirmar mesmo o 12.º.