Rita Matias e uma comitiva da Juventude Chega estiveram esta manhã na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), em Lisboa, numa ação contra a greve climática que acabou com alunos identificados pela polícia. A deputada do Chega vai apresentar queixa e garante que saiu do local após diligências da PSP, enquanto nas redes sociais se diz que os jovens do partido liderado por André Ventura foram “expulsos pelos alunos”. A porta-voz da Greve Climática Estudantil considera que o grupo não tinha “legitimidade” para estar na Faculdade e para entregar “panfletos negacionistas”.

Na rede social X (antigo Twitter) foram partilhados vários vídeos do momento em que membros do Chega foram cercados na FCSH, com legendas como “não passarão”, “fascismo nunca mais” e com a informação de que foram “expulsos”. Nas imagens é possível ver um aluno com um megafone (com o som de uma sirene a tocar) apontado a Rita Matias, mas também imagens com vários empurrões entre os envolvidos.

Em declarações ao Observador, Rita Matias esclarece que a Juventude Chega estava ali numa ação e que, por exigência da Faculdade, fizeram a distribuição de panfletos à porta da instituição — um dos papéis distribuídos tem a cara de André Ventura e da deputada e expõe as ideias do partido para os jovens; o outro pretendia “tentar passar o outro lado da história” da crise climática com o título: “Demonstrar a crise climática para totós”.

No final da ação em causa, garante a deputada, os elementos da Juventude do partido que estavam à porta dirigiram-se para a esplanada para se encontrarem com o restante grupo. Rita Matias sublinha que a ação estava a decorrer “pacificamente” até que começaram a ser “cercados por jovens” que cantavam “Grândola, Vila Morena” e entoavam “fascismo nunca mais”. Com faixas e dezenas de pessoas à volta, a deputada garante que houve “empurrões, pontapés e objetos atirados contra os membros do Chega”.

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A porta-voz da Greve Climática Estudantil e estudante da FCSH, Beatriz Xavier, conta ao Observador que o movimento está a promover vários protestos em faculdades do país e que, depois de detenções naquela instituição, foi marcada uma concentração para esta quinta-feira.

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Segundo a estudante, estavam dezenas de pessoas no local quando os membros da Juventude Chega chegaram. “Os estudantes sentiram que aquelas pessoas não pertenciam ali e sentiram-se revoltados“, explica, frisando que aquelas pessoas, a seu ver, “não tinham legitimidade para estar ali a dizer que a luta pelo clima não era legítima”. “Não representam a luta estudantil”, reitera, apontando também que os estudantes ali presentes “não se reveem nos valores que os membros do Chega colocam em cima da mesa” por considerarem o partido de André Ventura “opressor”.

A polícia foi chamada ao local por um dos membros do Chega e, apesar de a direção ter tentado evitar que as autoridades entrassem na faculdade, os agentes acabaram por se dirigir ao interior do edifício para identificar vários jovens. Rita Matias aponta para meia dúzia, mas o Observador não conseguiu resposta da PSP até à publicação desta notícia.

A dirigente do Chega, que também é aluna de mestrado na FCSH, assegura que “nem a direção nem os alunos” expulsaram nenhum membro do Chega. “Só não saímos logo porque fomos cercados, podia tudo ter sido evitado”, sublinha, frisando que vários jovens se queixaram de passar por este tipo de atitudes diariamente, ao ponto de não afirmarem que são do Chega por “medo”.

Nesse panfleto é dada uma visão sobre o que propõem o grupo a que o partido chama “extremistas climáticos“, com sugestões de que existe um “ataque ao Ocidente, ao capital, à propriedade privada” e de que existe “violência” e um “ataque às instituições”. No mesmo papel que foi distribuído está ainda a cara de Francisco Louçã, fundador do Bloco de Esquerda, para justificar que as ideias são “teorizadas na academia, implementadas através da militância ativa de organizações não-governamentais e associações, difundidas pela media convencional e implementadas pelo poder político”.