Mais de meia centena de pessoas juntou-se, esta segunda-feira, numa vigília em Lisboa para assinalar o Dia Internacional da Memória Transgénero, relembrar as vítimas mortais de violência transfóbica e apelar para a inclusão e tolerância em relação às minorias.

A vigília, que teve início ao final da tarde no Jardim do Cerco da Graça em Lisboa, reuniu membros de várias organizações de defesa dos direitos trans e apoiantes da causa, tendo como objetivo consciencializar o público sobre a violência e os problemas que esta comunidade enfrenta.

No decorrer da vigília os participantes colocaram velas em redor de um memorial onde constavam os nomes das vítimas de violência transfóbica no último ano, havendo também cartazes no chão, onde se podiam ler mensagens como “A nossa existência tornou-se política”.

Estamos aqui hoje para celebrar o dia da Memória Trans e para relembrar as pessoas que sofreram mortes violentas por transfobia este ano, para tentar promover um sentido de comunidade e de cura, porque precisamos de ultrapassar estas violências”, disse uma das diretoras da Associação Clube Safo, Joana Isabel, em declarações à agência Lusa.

A representante da única associação exclusivamente de direitos de pessoas lésbicas em Portugal lamentou a falta de empatia e tolerância face à comunidade LGBTQ+ e as tendências de violência crescentes, inclusive em Portugal.

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Em Portugal muito recentemente com a situação da Miss Portugal, mais violências foram reportadas, mesmo a nível da comunicação social, sem a menor consciência do impacto que isso tem nas pessoas trans, nas suas famílias e nas suas redes de afetos”, salientou Joana Isabel.

Uma das participantes da vigília e membro da comunidade trans, Ângela Sampaio, reiterou alguns dos problemas apontados pela diretora do Clube Safo.

Esta vigília é importante, principalmente nos dias de hoje que estamos a sofrer ataques de tantos lados. Ainda não conseguimos trabalho, ainda há pessoas a morrer e ainda há muita coisa a ser feita”, disse.

Ângela Sampaio apelou para a igualdade de tratamento das pessoas transexuais e apresentou prioridades. “Primeiro que tudo que parem de nos matar, segundo que sejamos todos iguais e que parem de nos subclassificar”, afirmou.

Segundo a organização não-governamental Transgender Europe, a realidade europeia demonstra tendências alarmantes de transfobia, discriminação, racismo, misoginia e xenofobia, com 321 pessoas assassinadas em casos de ódio transfóbico no último ano.

Do número total de vítimas mortais entre 2022 e 2023, 94% eram mulheres transexuais, 48% trabalhadoras do sexo e 45% pertenciam eram migrantes ou refugiados.

A América Latina e as Caraíbas registaram o maior número de homicídios de pessoas ‘trans’ do mundo, tendo quase um terço ocorrido no Brasil (31%), com a Arménia, a Bélgica e a Eslováquia a registarem pela primeira vez vítimas deste tipo de violência.

Questionada sobre como colmatar os problemas existentes na comunidade ‘trans’, Joana Isabel disse que “a mudança passa por ouvir sem preconceito e sem julgamento”.

“Todas as pessoas parecem ter uma opinião sobre aquilo que não sabem, não vivem e não experienciam e ninguém nos pergunta a nós, as pessoas que vivem isto todos os dias o que nós pensamos, achamos, sentimos e experienciamos”, concluiu.