Aquilo que está a ser feito, sem ouvir os portugueses e as entidades competentes, é a tomada e o controlo ideológico das escolas, que a Constituição da República Portuguesa proíbe terminantemente no seu Artigo 43.º  alínea 2. «O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.»

Por mais fracturantes que sejam estas políticas – propostas nos Projectos de Lei n.º 332 (PS), n.º 21 (PAN), e n.º 359 (BE), todos sobre a matéria de alteração e desenvolvimento da Lei n.º 38/2018, de 7 de Agosto, que foram discutidos, votados e aprovados na generalidade na reunião da Comissão de 18 de Julho/2023,  e que se preparam para ser votados (e aprovados pela maioria absoluta) na especialidade na próxima comissão, sem que tenha havido qualquer debate público e rejeitando ouvir os muitos  especialistas na área, que pediram para ser ouvidos – em termos de violação da relação pais-filhos e da usurpação do poder parental, por parte do Estado, o mais perturbador são as dúvidas semeadas nas mentes dos alunos, a partir do infantário, na idade em que as suas faculdades cognitivas estão a aprender a testar a realidade.

Nas escolas deste País, e sem que o Projecto de Lei n.º 332 tenha sequer sido discutido, votado e aprovado, o conceito ideológico de uma identidade de género apreendida e auto-determinada já há alguns anos faz parte do programa escolar e é transversal a todas as disciplinas.

Sem que os pais tenham conhecimento, é incutido na mente tenrinha das crianças, a partir dos 3 anos, repito (Manual Kinder, págs. 80-86), que o sexo biológico e o género estão muitas vezes separados; que um não tem qualquer ligação essencial com o outro e que algumas pessoas, cuja identidade de género se alinha perfeitamente com o sexo que lhes foi atribuído à nascença, são chamadas “cisgénero”, que significa “deste lado do género”, termo cunhado para ser a definição oposta a “transgénero”, que significa “do outro lado do género”.

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Eu não sei se o leitor percebe, mas, tal como é apresentado na Escola por activistas, ser “cisgénero” (heterossexual) parece uma imposição dos médicos, ou dos pais, que, de acordo com os ideólogos do género, atribuíram/impuseram o sexo – masculino ou feminino – aos recém-nascidos, coitadinhos, e querem obrigá-los a ser heterossexuais, e até homens e mulheres, para perpetuar o patriarcado machista opressor e a opressão do homem sobre a mulher, blá, blá, blá…

Assim, perante o número crescente e infinito de identidades de género à escolha, é difícil imaginar que as crianças não se identifiquem com uma das letras do abecedário colorido, não façam parte do movimento revolucionário do século e não se alistem no colectivo cuja bandeira se tornou omnipresente. Por exemplo, numa escola, em Vila do Conde, há uma em cada sala de aula e, há alguns meses, a ideologia pode ser vista logo no hall de entrada (tenho as fotos desse hall, caso seja preciso provar o que digo).

Em muitas escolas, professores e Associações lgbt+ (às quais o actual governo concedeu o estatuto de “utilidade pública”) encorajam os alunos, que lutam com a sua identidade sexual, a aderir à “comunidade” do arco-íris, para que possam ser afirmados na sua disforia ou na sua (des)orientação sexual e protegidos do bullying contra pessoas lgbt+ (os outros, os que não juram a bandeira colorida, não têm nenhuma associação que os proteja). Para além dos grupos que se apresentam nas AECs, na disciplina de cidadania e nas demais disciplinas, em muitas escolas os professores são instruídos a questionar, diária ou semanalmente, os alunos sobre a sua identidade de género e a tratá-los pelos seus pronomes preferidos.

Um panfleto infame, criado pelo grupo Trans Student Educational Resources (TSER) (Recursos Educacionais para Estudantes Trans), presente no site de Educação para a Cidadania, na RTP Ensina, na Escola Virtual, em todos os sites, panfletos e apresentações das Associações lgbt+, e em muitas salas de aula deste país, mostra um unicórnio de desenho animado chamado “Unicórnio de Género” que pretende redefinir o que são os seres humanos, empregando eufemismos e frases de género. Da cabeça deste unicórnio emerge um balão de pensamento que contém um arco-íris que, segundo se diz, representa a identidade de género, embora esta seja definida, em geral, como qualquer género com o qual uma pessoa se possa identificar e que inclui o agénero que significa não ter género algum. O unicórnio é mostrado com dois corações, presumivelmente representando as várias atracções sexuais por homens, mulheres ou “outros géneros”. Na zona das virilhas do unicórnio há uma dupla hélice de uma cadeia de ADN, que representa o “sexo atribuído à nascença” da criatura que, de acordo com o documento, pode ser masculino, feminino ou “outro/intersexo” [hermafrodita].

Ora, o sexo, como sempre se soube, não é “atribuído” por nenhum médico ou qualquer outra pessoa. O sexo está gravado no ADN e presente em cada célula do corpo humano desde o momento da concepção.

O argumento de que “pessoas intersexuais existem!” – frequentemente utilizado pelos activistas para silenciar todos os outros argumentos – da forma como é utilizado, é falso. A verdade científica é que uma pequeníssima percentagem da população humana pode ter uma configuração cromossómica rara que não é XX nem XY. A doença de Klinefelter e a síndrome de Turner são dois exemplos destas anomalias genéticas, frequentemente designadas por “perturbações do desenvolvimento sexual” (DSD) ou condições “intersexo”.

Todas as pessoas que nascem com uma DDS, que pode ou não manifestar-se numa aparência invulgar das suas características sexuais secundárias, são sempre do sexo masculino ou feminino. Existem apenas óvulos e espermatozóides; não existe um terceiro gâmeta, nem um terceiro sexo. Mas isto não impede os agentes políticos de aprovar leis absolutamente ideológicas, que, propositadamente, confundem os DDS com a “identidade de género”, sendo que esta última é inteiramente uma construção auto-sentida e não genética.

Mesmo quando os ideólogos do género misturam duas ideias não relacionadas, sob a égide da diversidade de género, as políticas identitárias vão mais longe e declaram que o “género” de uma pessoa é um fenómeno que ocorre dentro dela própria e que só pode ser conhecido pelo eu soberano: “Sinto, logo sou.”

As políticas públicas estão apostadas em rejeitar a realidade e estão a transformar a instrução em doutrinação.

O resultado desta cruzada ideológica é que o sistema educativo, e cada vez mais as burocracias governamentais, deixarão de ter em conta o sexo biológico, uma realidade existencial na vida de cada pessoa, e as crianças passarão a poder escolher ser o que não são e também o nome correspondente. Recentemente, numa sala de aula, em Lisboa, um adolescente disse à  professora que era gender fluid [género fluído], que de manhã se sentia rapaz, à tarde rapariga e… Estarrecida, pois o aluno nunca demonstrara qualquer sinal de vir a ser o que agora auto-determina, a professora perguntou-lhe como se poderia dirigir a ele sem usar um pronome errado, no momento errado. Resposta: pode tratar-me por They [eles]. Estou mesmo a ver: «Eles, vem ao quadro!»

O debate sobre o conceito ideológico de uma suposta identidade de género criou uma guerra contra a própria língua, utilizando as palavras para dissociar os estados psicológicos pessoais da natureza e da realidade. A psicologia e a auto-determinação não podem mudar a realidade de que o sexo é imutável. No entanto, a maioria eleita persiste em impor ao sistema de ensino uma ficção que leva as crianças a questionar a sua própria natureza e destrói a sua percepção da realidade.

Quando os impulsos sexuais de uma pessoa são vistos como o núcleo da sua identidade humana, quase não há limite para o número de categorias que as pessoas desenvolverão para satisfazer e normalizar as suas experiências. Estas categorias são frequentemente contraditórias entre si. Hoje, há crianças a identificar-se como: “não-binárias”, “demi-sexuais”, “dois espíritos”, “genderqueer”, “pansexuais”, “transgénero”, etc..

Os seres humanos parecem ter um desejo insaciável de se “colocarem em caixas” para explicar e justificar as suas auto-percepções e comportamentos. Por exemplo, conhecemos pessoas que justificam o facto de serem mal-educadas ou excessivamente agressivas com questões de personalidade. No entanto, quando se trata de sexualidade, este tipo de explicação-como-justificação pode tornar-se perigoso e abusivo, como acontece com a normalização da pedofilia, que já é designada como “Minor-Attracted Persons” MAP [Pessoas atraídas por menores]. Por definição, a teoria queer e a teoria da identidade de género quebram as categorias do sexo masculino e do sexo feminino e colocam no seu lugar a auto-percepção como criadora do novo homem, como deus.

Por mais disparatado que tudo isto possa parecer às pessoas comuns, a maioria eleita pelo povo português e os partidos à esquerda levam muito a sério a ideologia que defendem e preparam-se para a impor sem sequer ouvir o povo.

Vamos permitir?