A ativista climática Joana Guerra Tadeu disse esta terça-feira que o crescimento económico é o “grande flagelo” dos objetivos de crescimento sustentado, defendendo uma mudança de regime onde se valorize o capital natural e social.

“A circularidade diminuiu de 2018 para 2023 de 9% para 7%, ou seja, nós em vez de fazermos cada vez melhor estamos a fazer cada vez pior e a extração de materiais continua a aumentar nesta lógica de crescimento económico que eu acho que é grande flagelo dos objetivos do crescimento sustentado”, defendeu esta tarde a ativista, conhecida como Ambientalista Imperfeita.

Taxa de circularidade sobe em 2020 na União Europeia. Portugal tem a segunda menor

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No Encontro Nacional de Entidades Gestoras da Água (ENEG), onde participou como oradora numa das sete mesas redondas temáticas do evento, Joana Tadeu salientou que apenas 7,2% dos materiais são reutilizados.

Para a ativista é necessário mudar o sistema económico do país e abandonar indicadores redutores como o PIB, passando a considerar o capital natural e social e não só o económico.

“A economia circular não é só reciclagem e eficiência. É também reatualização, reparação restauro, economia de partilha e de crescimento. Incluiu também regeneração ecológica, ou seja, renaturalização de algum território e a melhoria da sua resiliência. Sem estes dois lados não estamos a falar de economia circular. Estamos a falar de uma outra coisa que é [o conceito de] greenwashing que é fingir que se está a fazer pelo ambiente”, declarou.

E acrescentou: “se nós tivéssemos uma utilização circular de apenas quatro materiais industriais — o cimento, o aço, o plástico e o alumínio — conseguíamos reduzir em 40% a emissões globais de gases com efeito de estufa até 2050” e potenciar a criação de seis milhões de postos de trabalho.

Se a humanidade seguir as tendências atuais, em 2050 serão necessários três planetas, lembrou ainda a ativista, denunciando que o consumo em Portugal aumentou 65% e a extração/utilização de materiais representa já 70% das emissões de gazes com efeito de estufa.

Segundo os dados da Pordata, em 2021, Portugal consumiu cerca de 174 milhões de toneladas de materiais, o equivalente a 16,9 toneladas por habitante, quando o valor da média europeia não vai além das 14,1 toneladas por habitante.

Os dados estatísticos, diz Luísa Guimarães, da associação sem fins lucrativos Smart Wast, confirmam esta falta de investimento na economia circular em Portugal, onde a taxa de circularidade de 2,2% confronta com os 12,8% da média europeia.

“Por isso estamos mesmo mal, mas também temos de ver isto como oportunidade”, afirmou, apontando a economia circular como chave no processo de descarbonização.

Para a gestora, a economia circular deve ser encarada como um ator “muito relevante”, por exemplo, na crise das matérias-primas, na medida em que a reutilização de materiais e recursos pode ajudar a diminuir a dependência externa ou até a produzir novas formas de energia, atenuando a crise no setor.

Já o vice-presidente da Câmara do Porto e presidente das Águas e Energia do Porto, Filipe Araújo, salientou a importância de olhar para tudo o que as cidades produzem, consumem e seguir modelo de reutilização de recursos, salientando que é nestes aglomerados que vive a grande maior parte das pessoas.

Para além do investimento que tem sido feito na reutilização de recursos no setor água, Filipe Araújo defendeu ainda que os fenómenos extremos de grande precipitação trouxeram preocupações acrescidas ao município que esta agora a “olhar para a cidade” e alterar “tudo o que pode alterar”, sejam pequenos jardins, tanques de emergência, parques, por forma a preparar a cidade.

“O Parque Urbano da Asprela tem a função de aguentar 10 mil cúbicos de água. Se não fosso parque teríamos outros problemas provavelmente causados”, sublinhou, indicado que esta preocupação está vertida nos projetos do Parque Urbano da Lapa e da Alameda de Cartes.