O ministro da Saúde classificou como “pontual” o caso de uma grávida de 17 anos que teve de dar à luz no Hospital de Abrantes, a mais de 70 quilómetros da área de residência, devido aos constrangimentos nos serviços do Hospital Distrital de Santarém. Manuel Pizarro afirmou esta sexta-feira que o caso mostra que o funcionamento em rede está “a dar resposta com qualidade e segurança”.

A jovem, com gravidez de risco, dirigiu-se, na quinta-feira à tarde e pelos próprios meios, ao Hospital de Santarém. O Serviço de Urgência de Ginecologia e Obstetrícia e o Bloco de Partos estavam encerrados, por deliberação da Direção Executiva do SNS.

A rapariga foi, por isso, levada de ambulância para o Hospital de Abrantes, a mais de 70 quilómetros de distância, onde deu à luz.

Na saúde, não se pode nem se deve desvalorizar nenhum caso que corra menos bem. Há casos pontuais que reconheço que correm menos bem, como este. A verdade é que têm sido mesmo pontuais. E repito que não os desvalorizo”, começou por dizer Manuel Pizarro aos jornalistas, quando confrontado com o caso.

E prosseguiu: “O caso também nos permite avaliar que o funcionamento em rede dos serviços tem permitido dar resposta com qualidade e segurança. Mas reconheço o incómodo, que é indesejável, e espero que as coisas possam melhorar”.

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O Serviço de Urgência de Ginecologia e Obstetrícia e o Bloco de Partos do Hospital Distrital de Santarém estão encerrados até segunda-feira, numa medida prevista no plano da Direção Executiva do SNS. O hospital tinha divulgado uma nota a recordar que estes constrangimentos estariam em vigor e a indicar que as utentes da área de influência da instituição devem dirigir-se à urgência com bloco de partos mais próxima, que fica no Hospital de Abrantes.

Trinta e três serviços de urgência com limitações na próxima semana, apesar de “melhoria real” nas especialidade

“Acompanhante da grávida decidiu, sem consultar os profissionais do hospital, ligar para o 112”, diz hospital

Numa resposta por escrito enviada ao Observador, o Hospital Distrital de Santarém começa por recordar que o Serviço de Urgência de Ginecologia e Obstetrícia e o Bloco de Partos estão encerrados e que o mesmo “foi devidamente comunicado às entidades competentes”.

Relativamente ao caso reportado, a grávida deslocou-se à Urgência do HDS através dos seus próprios meios. Nestes casos, as orientações são que seja realizada ficha de admissão e feita avaliação por enfermeiro e médico do Serviço de Ginecologia/Obstetrícia que estão de urgência interna. Após avaliação, se for necessário, a grávida é transportada para a urgência com bloco de partos mais próxima, sempre acompanhada por um profissional de saúde do HDS”, prossegue a nota.

A instituição adianta que “o acompanhante da grávida decidiu, sem consultar os profissionais do HDS, ligar para o 112, sendo acionada ambulância de socorro e a VMER (viatura médica de emergência e reanimação), que acompanharam a grávida para a Urgência do Hospital de Abrantes”. E termina: “O HDS tem conhecimento que a grávida chegou ao Hospital de Abrantes em início de trabalho de parto sem complicações”.

“Este caso é uma vergonha. A continuar assim, o PS será o coveiro do SNS”, diz autarca de Santarém

O presidente da Câmara de Santarém afirma que este caso “é uma vergonha” e pede responsabilidades, deixando duras críticas ao ministro da Saúde. Em declarações ao Observador, Ricardo Gonçalves (PSD) dá mais detalhes sobre o que se passou.

A jovem tinha dores de parto. Ao entrar no hospital, dizem-lhe que não pode fazer a ficha (de admissão). Mas as pessoas que vêm pelos meios próprios têm de ser atendidas. Se tivesse vindo de ambulância, aí sim, ela teria sido desviada para outro hospital. Esteve uma hora à espera, dentro do hospital. Aflitas, as pessoas que a acompanhavam ligaram para o 112″, explica o autarca.

Ricardo Gonçalves adianta que o 112 acionou para o hospital a VMER e os Bombeiros Voluntários de Santarém, que transportaram depois a grávida para Abrantes onde o parto decorreu sem complicações.

Ouça aqui as declarações do autarca:

Grávida sem assistência em Santarém. Autarca avisa: “A continuar assim, o PS será o coveiro do SNS”

“A senhora tinha de ter sido atendida. Mas não aconteceu por incompetência de muita gente. Já alertámos várias vezes para esta situação. Alguém que seja responsável. Isto é uma vergonha”, critica o autarca. Segundo Ricardo Gonçalves, o conselho de administração disse-lhe que “o hospital tem de ter sempre duas obstetras em permanência nestes dias”, mas “só tinham uma” porque faleceu o pai de uma das profissionais.

Questionado sobre a reação do ministro da Saúde, que fala num caso pontual, Ricardo Gonçalves não poupa nas críticas.

O sr. ministro está perdido, tal como o Governo está perdido em relação às matérias de saúde. O PS bate muito no peito ao dizer que são os pais do SNS. Mas, a continuar assim, o PS será o coveiro do SNS” avisa.

Contactados pelo Observador, os Bombeiros Voluntários de Santarém recusaram prestar declarações e remeteram esclarecimentos para segunda-feira. À TVI, o comandante, Rui Carvalho, alerta que a “o socorro foi vedado” à utente, que estava de cadeira de rodas quando os bombeiros chegaram.

E o caso não é inédito: “Há uns meses, fomos buscar uma senhora, com uma gravidez de risco, à porta da maternidade, após ter feito a ficha e a triagem. Fomos acionados via CODU e a grávida também foi para o Hospital de Abrantes”, recorda o comandante dos Bombeiros Voluntários de Santarém.