Às portas da reunião do Conselho Europeu que vai discutir as negociações para a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE), a Comissão Europeia decidiu desbloquear uma verba de 10,2 mil milhões de euros que tinha vedado à Hungria por desrespeito do Estado de direito, após melhorias no sistema judicial.

timing do anúncio da Comissão Europeia levanta algumas suspeitas, uma vez que, durante esta quarta-feira, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, garantiu que Budapeste vetaria as negociações para a entrada da Ucrânia na UE. “A União Europeia está a preparar-se para cometer um erro terrível e nós devemos prevenir que os outros 26 [Estados-membros] cometam esse erro”, afirmou o primeiro-ministro húngaro.

Na ótica de Viktor Orbán, considerado o líder europeu mais próximo do Presidente russo, Vladimir Putin, a União Europeia pode dar um “sinal geoestratégico” de apoio à Ucrânia, mas não pode traduzir-se na adesão ao bloco comunitário. Para o primeiro-ministro húngaro, “os números e as análises económicas” até ao momento não permitem que a Ucrânia concretize a adesão à UE.

Para tentar desbloquear este veto húngaro sobre a adesão da Ucrânia à UE, alguns eurodeputados estão a acusar a Comissão Europeia de ceder perante a “chantagem” de Viktor Orbán. Não obstante, o executivo comunitário liderado por Ursula von der Leyen assegurou ter existido uma “avaliação exaustiva e várias trocas de pontos de vista com o governo húngaro” antes da tomada de decisão. Para além disso, ainda estão suspensos 21 mil milhões de euros de apoios dirigidos a Budapeste.

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No entanto, as justificações da Comissão Europeia não agradam a várias famílias políticas do Parlamento Europeu. Citado pelo Guardian, Petri Sarvamaa, porta-voz de assuntos ligados ao orçamento do Partido Popular Europeu (de quem fazem parte o PSD e o CDS-PP), considera que ainda é demasiado cedo para fazer uma “avaliação exaustiva” das melhorias da avaliação judicial.

“Parece que a chantagem de Orbán resultou”, atirou o porta-voz popular, acrescentando que não acredita que o “timing terrível desta decisão foi apenas uma má consciência”, considerando a forma como é que Viktor Orbán fez reféns os restantes 26 Estados-membros durante os últimos dias.

De igual modo os socialistas europeus reagiram negativamente. Na sua conta pessoal do X (antigo Twitter), a líder Iratxe García Perez escreveu que o facto de os fundos terem sido desbloqueados foi um “erro sério” cometido por Ursula von der Leyen.

“Apesar das promessas de reforma, o poder judicial na Hungria não é independente. Lamentamos a decisão da Comissão, uma vez que expõe os húngaros a mais ataques ao Estado de direito no futuro”, denunciou Iratxe Garcia Pérez.

Zelensky desafiou Orbán

Em Oslo, num encontro com líderes dos países nórdicos, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que o primeiro-ministro da Hungria não tem “motivos para bloquear a adesão da Ucrânia à União Europeia”.

Na breve conversa que manteve com o primeiro-ministro húngaro na tomada de posse do Presidente argentino Javier Milei, o Chefe de Estado ucraniano relatou que pediu a Viktor Orbán “uma razão, não três, cinco nem dez” pela qual Budapeste se opõe à entrada da Ucrânia na União Europeia.“Ainda estou à espera de resposta”, atirou Volodymyr Zelensky.

Ainda sobre o bloqueio húngaro, o Presidente ucraniano diz ser um “facto”, mas sublinhou que Kiev tem assumido um papel “construtivo”. “Nós temos feito tudo e temos cumprido com todas as recomendações da Comissão Europeia e com todas as recomendações dos nossos parceiros”, garantiu Volodymyr Zelensky.

Para além disso, Volodymyr Zelensky sugeriu que, como a “Rússia não teve vitórias” no campo de batlaha e não conseguiu “alcançar nada”, Moscovo está a “trabalhar com países não apenas na Europa, como também em vários países para os pressionar” a bloquear ajuda à Ucrânia.