Após ter jurado “dizer a verdade e nada mais do que a verdade”, Virginia Giuffre disse aos advogados que recebeu 15.000 dólares (aproximadamente 13.700 euros) por ter tido sexo com o Príncipe André de Inglaterra. E não ficou por aí. A jovem evocou também um nome que ainda não tinha surgido associado ao processo: o da banqueira e antiga namorada do senador norte Bob Menendez, Gwendolyn Beck.

Desde 1 de janeiro que quase diariamente têm sido divulgados documentos ligados ao caso de Jeffrey Epstein, o investidor norte-americano que foi acusado de abuso sexual e tráfico de menores e que morreu numa prisão federal, em 2019, enquanto aguardava julgamento.

Após, na segunda-feira, o quarto lote de documentação, que continha o testemunho de Sarah Ransome, uma das alegadas vítimas, ter indicado que os atos sexuais descritos eram gravados, as transcrições que foram tornadas públicas esta terça-feira mostram Virginia Giuffre a dizer que o magnata lhe pagou, quando ela tinha 17 anos, para ter sexo com o filho da Rainha Isabel II.

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Não sei qual é a equivalência para libras. Eu recebi em dólares norte-americanos”, disse Giuffre, que já tinha alegado ser a “escrava sexual” de Epstein, de acordo com os novos documentos do tribunal.

Giuffre respondeu ainda à pergunta sobre se pagou algum tipo de imposto pelos 15.000 dólares recebidos, tendo dito que “não”.

A suposta vítima foi questionada pelos advogados do escritório Alan Dershowitz e disse ter sido abusada sexualmente pelo Príncipe André em três ocasiões: Nova Iorque, em Londres — na banheira da casa de Ghislaine Maxwell, a companheira de Epstein que o ajudava a aliciar menores, e que foi condenada em dezembro de 2021 — e na ilha privada de Epstein, nas Caraíbas. Não se sabe, contudo, em qual delas terá este pagamento acontecido.

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O Príncipe André tem vindo a negar tais acusações, dizendo até que nunca conheceu Giuffre, apesar de haver uma fotografia de ambos, onde este aparece a agarrá-la pela cintura. Em 2022, no entanto, chegou a um acordo ela, tendo prometido pagar-lhe cerca de 10 milhões de dólares, segundo apurou o The Guardian junto de advogados internacionais, e fazer uma “doação substancial” à sua associação de apoio aos direitos da vítima.

Além do suposto pagamento, Giuffre disse ainda que foi traficada para o sul de França, por Epstein e Maxwell, para conhecer um “príncipe”. “Ele tinha um sotaque estrangeiro. Falava bem inglês, mas não estava completamente certa sobre de onde era. Ele foi-me introduzido como um príncipe”, revelou aos advogados.

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O seu depoimento, contudo, não foi a única transcrição a constar dos documentos. Também a reação de Epstein a estas acusações foi introduzida, tendo o multimilionário usado uma resposta que foi recorrente durante a investigação: a 5.ª emenda.

Segundo a Sky News, os advogados perguntaram-lhe se ele e Ghislaine Maxwell pediram à menor para ter sexo com o príncipe, em 2001, e sobre se a informação que já “tinha sido acumulada” sobre o próprio “tinha o potencial de afetar a sua reputação”.

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“De facto, seria justo, com base em todas as circunstâncias que rodeiam esta situação, dizer que forçou Virgínia a ter relações sexuais com o Príncipe André?“, perguntou o conselheiro de Giuffre, Paul Cassel. Epstein recusou-se a responder.

“O que teria acontecido se Virginia se tivesse recusado a ter sexo com o Príncipe Andrew?”, perguntou ainda, o qual mereceu a mesma resposta. Cassel questionou também se, após o alegado sexo, “Virginia lhe tinha fornecido detalhes de como este tinha sido” e se era “verdade que o Príncipe Andrew lhe tinha agradecido por ter feito com que Virginia estivesse disponível para ele para propósitos sexuais”. Mas o multimilionário evocou a 5.ª emenda para ambas as questões.

“Lembra-se de alguém envolvido nas orgias com Gwendolyn Beck?” “Do que me recordo, Jeffrey Epstein”

Houve um novo nome a surgir nos documentos divulgados esta terça-feira, para além dos que têm vindo a público.

No depoimento de Giuffre foi também evocada a banqueira e antiga namorada do senador Robert (Bob) Menendez, Gwendolyn Beck. A alegada vítima revelou que esta participou de orgias em que também estava Epstein.

A revelação foi feita após um dos advogados lhe entregar uma lista com alguns nomes e lhe perguntar se foi traficada para algum deles. “Número 7, Gwendolyn Beck”, respondeu. “Não fui traficada para ela. Ela apenas fazia parte do tráfico.”

Quando questionada sobre mais informações, Giuffre disse que ela “estava envolvida em algumas orgias”, respondendo afirmativamente à pergunta sobre se era “participante sexual nas orgias” em que ela também estava.

Antes de terminar, os advogados perguntaram-lhe ainda se sabia “quais os cavalheiros que tinham estado envolvidos nas orgias com” a banqueira. “Do que me recordo, Jeffrey Epstein”, rematou.