O presidente da Câmara de Lisboa defendeu esta sexta-feira que o troço ferroviário Sines-Caia deveria ser encarado como parte da infraestrutura de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, reforçando que a ligação entre duas capitais europeias tem de ser prioritária.

“Não percebo como é que se faz um anúncio de algo que já estava consensualizado, que é Lisboa-Porto, muito bem, mas não se faz o anúncio ao mesmo tempo de Lisboa-Madrid”, declarou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD).

Pois, acrescentou, ao mesmo tempo que se faz o anúncio de Lisboa-Porto, “o secretário de Estado (das Infraestruturas) apresenta uma linha de ferrovia entre Sines e Caia”, que já está a ser construída, ou seja, “no fundo a ligação para Madrid já está a ser construída, de Lisboa ao Porto ainda não está”.

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Em declarações aos jornalistas à margem da inauguração da Unidade de Saúde de Alcântara, o autarca de Lisboa ressalvou que a ligação entre Sines e Caia é de ferrovia para mercadoria, mas “hoje em dia pode-se passar rapidamente de mercadoria para passageiros”.

Na passada sexta-feira, o secretário de Estado das Infraestruturas, Frederico Francisco, disse que o futuro Corredor Internacional Sul, que vai ligar o Porto de Sines à fronteira do Caia, em Elvas, a partir de 2025, será o primeiro troço ferroviário de alta velocidade do país.

Apesar de esta linha ser destinada ao transporte de mercadorias, o governante disse ter a expectativa que, com a infraestrutura instalada, “passe a ser possível criar-se um serviço de passageiros entre Lisboa e Madrid decente”, eventualmente com paragem em Évora e Elvas, que permita aos viajantes “colocar o comboio como opção”.

Reiterando a sua posição sobre a implementação da Linha de Alta Velocidade (LAV) em Portugal, o presidente da Câmara de Lisboa frisou que a capital portuguesa tem de estar conectada à capital espanhola, Madrid.

“Estas duas capitais têm de estar conectadas por alta velocidade, isso não tem nada a ver com uma decisão que já tinha sido consensualizada, que foi agora anunciada, mas ela já é antiga, entre Lisboa e Porto. Obviamente que entre Lisboa e Porto tem de haver uma conexão de alta velocidade, mas entre Lisboa e Madrid tem de ser prioridade, uma prioridade nacional, porque é a ligação de duas economias”, declarou Carlos Moedas.

A este propósito, o presidente da Câmara de Lisboa e a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso (do PP, direita), assinam esta sexta-feira um artigo conjunto, publicado no jornal online Observador, em defesa da LAV, em que o troço Sines-Caia deveria ser já encarado como parte dessa ligação.

Ambos consideram que a ligação ferrovia de alta velocidade entre as duas capitais europeias é uma “oportunidade estratégica de potenciar mutuamente as economias, de gerar novos empregos, de criar mais prosperidade não só para Lisboa e Madrid, mas para todas as localidades que se cruzam com o itinerário do TGV(sigla de train à grand vitesse, comboio de grande velocidade)”, passando a Península Ibérica a ser encarada como um espaço cada vez mais próximo.

“É com consternação que nos apercebemos que os Governos socialistas, português e espanhol, parecem perder a oportunidade histórica de dar um passo decisivo na aproximação entre Lisboa e Madrid. Tal como no passado o Tejo abriu novas portas aos povos ibéricos, hoje o TGV (sigla de train à grand vitesse, comboio de grande velocidade) representa um futuro de aproximação e desenvolvimento para portugueses e espanhóis”, referem Carlos Moedas e Isabel Díaz Ayuso.

À margem da inauguração da Unidade de Saúde de Alcântara, o presidente da Câmara de Lisboa realçou o diálogo com a presidente da Comunidade de Madrid: “Várias vezes temos falado sobre o potencial dessa ligação económica, potencial para Portugal e para Espanha, e essa ligação é extremamente importante”.

“Vão perguntar ao presidente da Câmara de Évora o que é que ele acha? Ao presidente da Câmara de Elvas? Eles sabem o que é o custo da interioridade daquilo que são as suas cidades e qual era a necessidade de termos aqui esta ligação (Lisboa-Madrid). Era muito fácil, era pensarmos na terceira travessia, ligarmos Lisboa até esta linha que sai de Sines e, depois, ligá-la, Caia e Madrid, uma linha que ainda por cima já está a ser construída”, argumentou o social-democrata.

Referindo-se às críticas à sua posição em prol da ligação Lisboa-Madrid, Carlos Moedas manifestou-se “espantado de ter havido um espanto que o presidente da Câmara (de Lisboa) fale sobre isto” reforçando que deve ser “uma prioridade nacional”, porque Lisboa é a capital mais a oeste da Europa, portanto “qualquer coisa que a ligue para o centro da Europa tem sido sempre positivo”.