O domingo parecia aparentemente simples. O Real Madrid, segundo classificado da liga espanhola e óbvio candidato à conquista do título, recebia o Almería, último classificado da liga espanhola e óbvio candidato à despromoção. No Santiago Bernabéu, a equipa de Carlo Ancelotti tinha uma tarefa teoricamente acessível — mas a verdade é que o jogo depressa se tornou muito mais do que um jogo.

O Almería surpreendeu o Real Madrid na primeira parte, marcando por Largie Ramazani e Edgar González, e foi para o intervalo a vencer por dois golos de vantagem. Carlo Ancelotti mexeu logo no início da segunda parte e fez uma tripla substituição, lançando Fran García, Brahim Díaz e Joselu, mas os verdadeiros protagonistas da noite seriam outros: Francisco Hernández Maeso, o árbitro principal, e Alejandro Hernández Hernández, o árbitro responsável pelo VAR.

Ao minuto 54, na sequência de um cruzamento de Fran García, Kaiky desvia a bola no interior da grande área do Almería. O árbitro da partida nada assinalou, mas foi chamado pelo VAR a analisar as imagens para confirmar uma eventual mão na bola: Hernández Maeso viu, assinalou grande penalidade e Jude Bellingham converteu o castigo máximo, encurtando a desvantagem do Real Madrid.

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Menos de 10 minutos depois, aos 62′, Sergio Arribas aproveitou uma transição rápida para bater Kepa e, naquele momento, fazer o terceiro golo do Almería. Hernández Hernández, porém, voltou a chamar Hernández Maeso ao ecrã do VAR — e o árbitro assinalou uma falta de Dion Lopy sobre Bellingham num ponto anterior da jogada, anulando o golo. Logo depois, aos 67′, Vinícius empatou ao desviar um cruzamento de Tchouaméni de forma pouco ortodoxa. O golo começou por ser anulado pelo árbitro principal, por mão na bola do avançado brasileiro, mas o VAR voltou a intervir e Hernández Maeso acabou por considerar que o lance foi legal depois de ver as imagens.

No fim, o árbitro deu 13 minutos de tempo extra e Carvajal acabou por fazer o golo da vitória do Real Madrid aos 90+9′, mantendo os merengues a um ponto da liderança de um Girona que tem mais um jogo disputado. E as críticas à equipa de arbitragem pouco ou nada demoraram a explodir: com Xavi, treinador do Barcelona que tinha acabado de golear o Betis num jogo em que também esteve a perder por dois golos de desvantagem, a liderar os comentários ao que se tinha passado no Santiago Bernabéu.

“Já vi os lances. Se falar muito, castigam-me. Mas todo o mundo viu o que se passou. Já tinha dito no nosso jogo contra o Getafe que há coisas que não entendo nesta liga. Há coisas que não controlamos e que todo o mundo pôde ver. Lembro-me do penálti contra o Getafe, do golo do João [Félix] contra o Granada… E disso não se fala. Já teríamos seis pontos a mais. Não são desculpas, é a realidade. Temos sempre azar”, defendeu o técnico espanhol.

Em Almería, a imprensa local não teve tantos pruridos e usou expressões como “assalto à mão armada”, “escândalo mundial” ou “roubou”. “O Almería foi vítima de um dos maiores assaltos arbitrais de que há memória. O jogo honesto que estava a fazer foi cortado pela raiz na sala do VAR, que interpretou tortuosamente todas as ações dos jogadores do Almería. E tudo com um tempo extra de 13 minutos para facilitar o 3-2 final de Carvajal”, escreveu Paco Gregorio, o editor de Desporto do jornal El Diario de Almería.

Num ponto de vista mais técnico, o fundador da Mediapro — a empresa que tem o acordo com a Real Federação Espanhola de Futebol para a transmissão das imagens do VAR — defendeu que os ângulos utilizados para analisar o golo de Vinícius não foram os mais indicados. “O que quero sublinhar é que as imagens do golo do Vinícius, onde se pode ver sem discussão que jogou a bola com o braço, eram ângulos maus. A repetição de ângulo frontal deixa claro que desviou a bola com o braço. Não falo sobre as outras jogadas porque acho que esse foi o lance-chave, as outras são mais discutíveis”, explicou Jaume Roures à Cadena SER, acrescentando que o VAR recebe todos os ângulos existentes e escolhe os mais adequados para aconselhar o árbitro principal.