Acusações sobre o contrato de alteração da luminária da cidade e um pedido de Carlos Moedas para que ficasse registado em ata que João Ferreira lhe tinha chamado “ladrão”. A reunião fechada da Câmara Municipal de Lisboa (CML) desta quarta-feira ficou marcada por uma discussão entre o líder do Executivo e o vereador comunista. No entanto, tanto João Ferreira como Pedro Anastácio, vereador socialista presente na sala, negam que a expressão “ladrão” tenha sido utilizada durante o debate, ao contrário do que defendeu Moedas.

Há vários meses que os comunistas acusam o executivo de Carlos Moedas de estar a fazer uma “negociata” que irá lesar a autarquia de Lisboa em 10 milhões de euros. Em causa está o processo de transferência das luzes da cidade para tecnologia led. A acusação foi repetida esta quarta-feira de manhã, nos Paços do Concelho, numa reunião à porta fechada, e acabou por gerar um momento tenso, com o presidente da autarquia a exaltar-se, segundo informações recolhidas pelo Observador.

Fonte oficial da vereação do PCP na CML recusa categoricamente que o vereador João Ferreira tenha chamado ladrão a Carlos Moedas e garante que o mesmo “pode ser atestado por qualquer um dos presentes” na reunião. E acrescenta: “Não temos aliás nenhuma objeção a que o presidente divulgue o registo áudio da reunião.”

Os comunistas, em declarações ao Observador, asseguram que “o recurso a expedientes desta natureza, sendo condenável, não atenuará a determinação dos vereadores do PCP no sentido de escrutinar e denunciar decisões da atual gestão PSD-CDS que consideram lesivas do interesse da Câmara Municipal de Lisboa e do interesse público”. E recordam que o presidente da CML “continua sem responder às questões suscitadas há mais de seis meses pelos vereadores do PCP, reafirmadas num requerimento escrito”.

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No requerimento datado de 21 de novembro, os vereadores João Ferreira e Ana Jara garantem que, segundoinformações recolhidas junto de técnicos especialistas” em luminária, “o custo real do investimento a ser realizado, na substituição das 16 mil luminárias, aos dias de hoje, se situe em torno dos 11,5 milhões de euros (+ IVA)”. Valor que consideram “muito distante dos 21,2 milhões de euros” que a CML se propõe pagar à ESE — a empresa contratada pela autarquia — ou seja, garantem que “este será um excelente negócio para a ESE, mas um mau negócio para a CML, que poderia realizar a totalidade do investimento à cabeça”. Os autarcas do PCP defendem que “contratando no mercado, através de concurso público, quer os materiais, quer a mão-de-obra”, haveria lugar à poupança de cerca de 10 milhões de euros.

Em declarações ao Observador, Pedro Anastácio, vereador socialista que esteve presente na reunião desta quarta-feira, nega que João Ferreira alguma vez se tenha referido a Carlos Moedas enquanto ladrão e garante que o líder da CML “aproveitou este momento para o transformar em algo muito diferente e sem correspondência com o que se passou na reunião, empolando-o para se vitimizar”.

Para o autarca do PS, “o ataque feito por Carlos Moedas aos outros é político, mas os ataques contra si serão sempre pessoais” e que “só isto explica que seja possível transformar uma afirmação de um vereador que determinada decisão municipal é lesiva do interesse público municipal num ‘chamou-me de ladrão’”.

“Só Carlos Moedas consegue fazê-lo. Carlos Moedas tem uma estratégia sobre polarização e vitimização. Escolhe empolar para polarizar e depois se vitimizar. É um presidente de câmara com pés de veludo”, acusa o vereador.

“É o presidente que se diz interessado em destruir a polarização, mas a respeito da discussão de temas políticos já teve oportunidade de acusar outras forças de serem racistas e xenófobos. Ou até sair, de forma sistemática, mais cedo das reuniões antes que a oposição fale. Ou até o Presidente que a respeito da pichagem feito da CML e na censura ao vandalismo – que nada teríamos a opor – disse ser um ataque ao património cultural, a um povo, mas sobretudo um ataque a si próprio e assim à República”, acrescenta Pedro Anastácio.

O Observador contactou o gabinete de Carlos Moedas para conhecer a sua versão dos acontecimentos, mas até ao momento não obteve resposta.