Pedro Nuno Santos apresentou-se nos Açores como marketeer político e deu um nome à coligação de direita: “Chega-D”. É um misto de Chega e PSD. Num último grande evento do PS/Açores antes das regionais, em Vila Franca do Campo, o líder do PS atacou José Manuel Bolieiro com força, mas poupou Luís Montenegro — que apresentou como um papão dos pensionistas, mas sem nunca o colar ao partido de André Ventura.
Pedro Nuno Santos assumiu o papel de político regional. “Só estamos aqui hoje porque Bolieiro não conseguiu garantir aquilo que prometia: que era estabilidade aos Açores”, começou por dizer. Num extenso rol de críticas ao presidente do governo regional, o líder do PS disse que foi criada uma “nova aliança política o Chega-D, que não resolveu nenhum problema, antes acrescentou.” Criticou ainda o facto de Bolieiro ser titubeante sobre uma coligação pós-eleitoral com o Chega: “Diz que não abre portas, que não fecha portas, que não é o cenário”, mas não tem “credibilidade”porque há três anos “disse uma coisa e fez exatamente o contrário pós-eleições.”
Pedro Nuno Santos diz que o “Chega-D” — forma como se referiu várias vezes — em áreas como as finanças públicas (“apresentou-se como o paladino das contas certas, mas nunca conseguiram cumprir”) ou no combate à pobreza (“aumentaram em pobreza”; “Açores voltara a ser a região mais pobre do país”).
O líder do PS contrariou ainda qualquer ideia de normalizar o Chega, dizendo que não é apenas uma “questão aritmética”, mas que tem “consequências” na vida das pessoas: “Não é por acaso que Bolieiro fez um corte radical nos apoios sociais” e que “a pobreza aumentou por cortes de Bolieiro, influenciado pelo Chega.” Era uma referência à redução de beneficiários de RSI.
Ataques a Montenegro centrados nos pensionistas
Pedro Nuno não atirou, assim, a ligação entre o PSD e o Chega nos Açores, contra Montenegro. Pelo menos para já, uma vez que esta sexta-feira de manhã tem ainda uma arruada em Água de Pau, também na ilha de São Miguel. Optou por fazê-lo na área onde mais dói, do ponto de vista eleitoral, ao PSD: “Há um partido que se quer reconciliar com os reformados, com os pensionistas. Sabem que têm de se reconciliar, porque eles foram os mais maltratados durante o governo PSD.”. O líder do PS lembrou que o PSD “cortou pensões, congelou pensões.”
Já antes disso, quando falava da dívida, tinha atirado ao governo Passos Coelho: “Não cumpriram desde logo no Governo da República em 2011, cortaram salários e pensões, mas quando saíram em 2015, deixaram uma dívida maior do que aquela que deixaram.”
Vasco Cordeiro: “Açores correm o risco de ser a primeira região do país onde a extrema-direita entra para o Governo”
A tarefa de agitar o medo sobre a presença do Chega no Governo ficou, assim, para Vasco Cordeiro. O candidato do PS à liderança do governo regional começou por dizer que “quem nunca conseguiu dar estabilidade aos Açores nos últimos três anos, não é capaz de trazer estabilidade num futuro próximo.”
Vasco Cordeiro diz que o que está em causa é a “democracia, tolerância e respeito pela diferença”. O líder do PS/Açores alertou que as sondagens mostram que “os Açores correm o risco de ser a primeira região do país onde a extrema-direita entra para o Governo regional”. E apela: “Nós não podemos permitir isso.”
O líder regional do PS nos Açores pede “uma grande coligação de açorianos que defendam a liberdade e o respeito pelo outro, sejam socialistas, não socialistas, da esquerda, do centro.” E deixou uma palavra de ordem que foi utilizada na Guerra Civil espanhola na propaganda contra o fascismo: “Não passarão.”
Os “cartões vermelhos” de 50 polícias
Ainda antes da noite acabar, o líder do PS foi recebido à entrada da Arena Açores por 50 profissionais das forças de segurança (PSP, GNR e guardas prisionais) que lhe mostraram cartões vermelhos. Pedro Nuno Santos acabou por se dirigir aos polícias para destacar que o papel que têm na “segurança do país é tremendo.”
O líder socialista disse que o PS tem “bem consciência” da importância dos polícias e fez vários elogios aos profissionais das forças de segurança: “Vocês são os responsáveis por Portugal ser um dos países mais seguros do mundo. É o vosso trabalho. Nós temos respeito pelo vosso trabalho e estamos a trabalhar numa solução para que se sintam dignificados.”
Sobre o timing para apresentar essa solução, Pedro Nuno Santos remete para “o programa eleitoral“, momento em que terá a “oportunidade” de o fazer — como já prometeu numa reunião com a plataforma.