A ex-presidente executiva da TAP não fecha a porta a um acordo sobre o pedido de indemnização de 5,9 milhões de euros que apresentou a contestar o despedimento de que foi alvo há quase um ano e que reafirma ter sido político.

Numa entrevista à CNN Portugal, Christine Ourmières-Widener reconhece que o valor pedido na ação judicial contra a companhia aérea é “muito elevado”, mas justifica, dizendo que serve também para reconhecer “todas as coisas difíceis que tive de enfrentar e os danos à minha reputação que também prejudicaram a minha família. Não o desejo ao meu maior inimigo”.

Questionada sobre a possibilidade de um acordo amigável, Christine responde: “Acredito na justiça, acho que com pessoas razoáveis pode haver a oportunidade de ter uma discussão adequada. Veremos. Não sei. Mas espero que este processo tenha um fim e que seja correto”.

Numa entrevista de meia hora conduzida por José Alberto Carvalho, a gestora francesa retomou críticas ao ex-ministro das Finanças, Fernando Medina, que acusa de ter feito chantagem quando lhe pediu para se demitir após a auditoria da Inspeção-Geral de Finanças que a responsabilizou pelo acordo ilegal de saída de Alexandra Reis da TAP. Recuperando um episódio já relatado na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, Christine Ourmières-Widener refere que o ainda ministro das Finanças lhe disse que não tinha feito nada de errado, “mas que tinha de me demitir por razões políticas.”

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“Fernando Medina disse-me que era melhor demitir-me para a minha reputação. Chamo a isso chantagem, foi uma ameaça”. E alega que quando lhe perguntou porque queria que se demitisse, o que implicava perder os direitos, o ministro terá dito que o bónus pelos bons resultados da TAP “poderia ser discutido após a minha saída. Mas como posso confiar em alguém que me pede que saia?”

A ex-gestora da TAP explica que resolveu agora dar uma entrevista com a resposta que a companhia aérea entregou para contestar a ação em que pede uma indemnização pela demissão por justa causa (ao abrigo do estatuto do gestor público) e sem direito a compensação. “Estou aqui por causa da resposta da TAP” que acusa de estar cheia de “mentiras, ataques e insultos”.

“A TAP está a tentar convencer todos que a minha história na industria é um fracasso. Eu para eles sou um monstro. Como acreditam que é verdade? Quando estive na TAP só recebi felicitações dos acionistas, incluindo do que me despediu. Não é credível. Isso chama-se política e não negócios”.

TAP acusa ex-CEO de esconder cargo em empresa de consultoria de viagens e aviação. Funções foram reveladas na comissão de inquérito

Sobre Pedro Nuno Santos, sublinha que o comentário feito sobre o seu desempenho à frente da TAP já depois de ser conhecida a sua demissão foi “muito positivo. Talvez reconheça o trabalho e o resultado da TAP”. E recorda que o ex-ministro das Infraestruturas, e atual secretário-geral do PS foi o principal responsável pela sua contratação. E demitiu-se do Governo quando foi conhecida a sua aprovação à indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis.

Ao longo da entrevista Christine Ourmières-Widener procurou ainda desmontar as acusações feitas pela TAP à sua carreira profissional, desvalorizando o seu contributo para os resultados recorde obtidos em 2022. E  lembra que a aviação comercial atravessou bons momentos no passado, mas que a transportadora nem por isso teve lucros. E recusa a acusação de ter escondido cargos em outras empresas que eram do conhecimento da empresa quando assinou o contrato com o Estado.

Christine Ourmières chamou ainda a si os louros por minimizar o número de slots que a TAP teve de ceder no aeroporto de Lisboa para assegurar a aprovação do plano de reestruturação pela Comissão Europeia. E ainda por ter convencido a administração a aumentar a capacidade para o ano de 2022 além do que estava previsto no plano, tirando maior partido da forte retoma vivida no setor da aviação.

Christine reconhece ainda que pode ser alvo de ataques por causa da entrevista que agora dá. “As pessoas podem achar que não sou forte porque estou sozinha”  — segundo a gestora a TAP conta com dez advogados quando ela só tem um — “mas estou aqui para dizer a verdade e não estou a concorrer a eleições. Espero que a minha reputação seja limpa. É o mais importante”.

A gestora recusa ainda o cenário de voltar a trabalhar numa empresa detida pelo Estado, sublinhando que é uma mulher de negócios e não uma política. “Quero estar em organizações que avaliam o meu comportamento com base em factos e nos resultados que entrego”.