O salário médio total bruto em Portugal aumentou 5,7% no último trimestre do ano passado face a período homólogo de 2022, mas em termos reais (ou seja, descontando o efeito da inflação) cresceu 4%. Já no total do ano a subida nominal foi de 6,6% e, em termos reais, de 2,3%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados esta quinta-feira.

No último trimestre do ano, a subida nominal de 5,7% foi inferior à registada no trimestre anterior (6,2%). Mas em termos reais, e uma vez que a inflação abrandou naquele período do ano (de 3,5% para 1,7%), os salários totais aceleraram, de uma subida de 2,7% para 4%. No trimestre que vai de outubro a dezembro, a remuneração bruta mensal fixou-se em 1.670 euros.

O INE faz uma distinção entre a componente regular (que exclui os subsídios de férias e de Natal, pelo que é menos sazonal) e a componente base, que subiram em termos nominais 6% (para 1.220 euros) e 6,3% (para 1.148 euros), respetivamente, o que em termos reais se traduziu em crescimentos de 4,2% e 4,5%.

Os números abrangem 4,7 milhões de postos de trabalho, correspondentes a  beneficiários da Segurança Social e os funcionários públicos que descontam para a Caixa Geral de Aposentações (CGA) — estes dois grupos representam mais 3,5% do que no mesmo período de 2022.

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Já no total de 2023, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador aumentou, em relação a 2022, para 1.505 euros, numa subida de 6,6% em termos nominais e 2,3% em termos reais (no ano anterior, os crescimentos tinham sido de 3,7% e 4%, respetivamente).

Em 2023, a componente regular subiu 6,6% para 1.216 euros e a componente base foi reforçada em 6,8% para 1.143 euros, o que significou aumentos reais de  2,2% e 2,4%. No total do ano, a inflação foi de 4,8%, abaixo dos 7,8% de 2022.

Salários sobem mais no privado

Tanto na comparação por trimestre como anual a remuneração dos trabalhadores da administração pública, embora seja em média superior, cresceu menos do que no privado.

No último trimestre do ano, o INE refere que a remuneração total média subiu 5,1% em termos nominais, atingindo 2.336 euros, com a componente regular a crescer 5,7% (para 1.694 euros) e a base a aumentar 5,9% para 1.596 euros. Em termos reais, as subidas foram de 3,4%, 3,9% e 4,1%, respetivamente. “Todos estes aumentos são inferiores aos observados para o total da economia”, salienta o INE.

Isto porque no setor privado “as remunerações aumentaram de forma mais expressiva”: a remuneração total registou uma variação homóloga de 6,3%, para 1.544 euros, com a componente regular a subir 6,5% para 1.130 euros e a base a crescer 6,8% para 1.063 euros. Os aumentos reais ficaram “todos acima dos observados para o total da economia”, nos 4,5%, 4,7% e 5,1%, respetivamente.

Se olharmos para o total do ano, a tendência mantém-se: a remuneração da administração pública subiu 5,9% ultrapassando a fasquia dos 2.000 euros (de 1.957 para 2.072 euros), acima dos 2,2% do ano anterior, mas inferior ao observado no setor privado (7,2%, de 1.302 para 1.396 euros). Com o efeito da inflação, a remuneração total cresceu 1,7% (tinha diminuído 5,3% no ano anterior) e no privado o aumento foi de 2,9% (também tinha diminuído 3,1% em 2022).

O INE volta a lembrar que as diferenças dos salários médios entre público e privado é tão significativa por diversos motivos, entre eles, as “diferenças no tipo de trabalho realizado”, a composição etária (“com impacto na acumulação de capital humano e de experiência profissional”) e nas qualificações dos trabalhadores que integram cada grupo.

Os trabalhadores do Estado tendem a ter, em média, níveis de escolaridade mais elevados (55,6% dos trabalhadores neste setor tinham ensino superior (24,9% no sector privado), 26,8% tinham completado o ensino secundário ou pós-secundário (32,3% no sector privado) e 17,6% tinham um nível de escolaridade correspondente, no máximo, ao 3.º ciclo do ensino básico (42,7% no sector privado).

Já quanto à dimensão da empresa, no quarto trimestre do ano em relação ao período homólogo de 2022, a remuneração total aumentou em todos os escalões de dimensão da empresa, tendo a maior variação ocorrido nas empresas com um a quatro trabalhadores (6,5%) e a menor nas empresas com 50 a 99 trabalhadores (4,6%). A remuneração total real aumentou em todos os grupos de dimensão de empresa.

No total de 2023, a remuneração total variou entre 1.011 euros nas empresas com um a quatro trabalhadores e 1.804 euros nas que têm entre  250 a 499 trabalhadores. Estes escalões de dimensão de empresa foram, igualmente, os que observaram, respetivamente, o maior (7,4%) e o menor (5,7%) acréscimo anual (sendo que também as empresas com 100 a 249 trabalhadores tiveram um aumento anual de 5,7%). Também aqui, o salário total real aumentou em todos os grupos de dimensão de empresa.

Salário mínimo subiu quase 4 vezes mais do que o salário médio em termos reais desde 2014

O INE traça, também, uma evolução salarial entre o período de 2014 e 2023, ou seja, abrangendo o final da governação de Pedro Passos Coelho e as legislaturas lideradas por António Costa. Neste período, a remuneração total aumentou 28,3%, de 1.173 euros para 1.505 euros, enquanto o salário mínimo aumentou 56,7%, de 485 euros para 760 euros. Em termos reais, com o efeito da inflação, a remuneração total aumentou 8,4% (a que não serão indiferentes os elevados níveis de inflação mais recentes), enquanto o salário mínimo aumentou 32,5%.

Os setores que têm remunerações acima do total da economia e que viram os salários crescer acima da média entre 2014 e 2023 foram as “indústrias extrativas” (mais 47,1% em termos nominais e 24,3% em termos reais, para 1.878 euros brutos) e as “atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais”, com uma remuneração bruta total de 2.392 euros a que corresponde um aumento de 32,1% relativamente a 2014 (11,7% em termos reais).

Já os setores cujas remunerações estão abaixo da média e cresceram abaixo do total da economia foram as “outras atividades de serviços”, com a remuneração mais baixa do grupo (1.211 euros em 2023), tendo aumentado 26,7% em termos nominais e 7,1% em termos reais; e as “atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas”, que foram as que mais se aproximaram da remuneração bruta total média da economia (1.471 euros vs. 1.505 euros), tendo observado um crescimento de 25,8% (6,3% em termos reais) desde 2014.

Neste período, a administração pública viu os salários subir 24,6% em termos nominais e 5,3% em termos reais, enquanto o setor privado teve subidas de 32,3% e 11,8%, respetivamente.