São já sete as pessoas mortas por elefantes transferidos para uma zona protegida no Malawi, avança o jornal Guardian. Uma das organizações responsáveis pela realocação dos animais foi liderada pelo príncipe Harry, o quinto na linha de sucessão ao trono britânico.

Em julho de 2022, mais de 250 elefantes foram transferidos do parque nacional Liwonde, no sul do Malawi, para a segunda maior área protegida do país, Kasungu, numa operação levada a cabo pelo serviço de parques nacionais do Malawi e duas organizações não governamentais: o Fundo Internacional de Bem-Estar Animal e o African Parks. O príncipe Harry foi presidente desta última ONG durante seis anos, até que, no ano passado, passou a fazer parte do conselho de administração da organização.

A realocação dos animais originou interações entre os elefantes e os habitantes de várias aldeias da região, o que teve um desfecho trágico em diversas ocasiões. Logo no verão de 2022, pouco dias após a transferência dos elefantes, duas pessoas foram mortas. Em setembro do mesmo ano, registou-se uma outra morte. As comunidades estabelecidas nas proximidades do Parque Nacional de Kasungu acusam as ONG de se terem preocupado mais com os elefantes do que com a segurança das populações, ao terem colocado os animais perto de numa zona semi-habitada — os elefantes entram com frequências nas aldeias e invadem as zonas de cultivo.

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O African Parks rejeita que a transferência dos animais tenha sido feita de forma apressada e garante que o processo estava a ser preparado há três anos. As comunidades locais acusam também as responsáveis pela transferência dos animais de não terem construído, como tinha sido prometido, uma cerca elétrica à volta do parque, para evitar as interação entre os elefantes e os habitantes da região. Nos últimos meses, mais quatro pessoas perderam a vida (mortas por elefantes), o que voltou a trazer o tema para cima da mesa.

Em junho, um homem de 31 anos foi morto e o filho ficou ferido na sequência de um ataque de um elefante, que deixou os limites do parque de Kasungu. Em agosto e em setembro de 2023, outras três pessoas foram mortos, em circunstâncias semelhantes. Malidadi Langa, presidente de uma associação de aldeias perto do parque nacional de Kasungu, defende que “as coisas podiam ter sido feitas de outra forma, para prevenir e mitigar o impacto negativo da transferência no conflito elefantes-humanos”. O responsável propõe a criação de uma espécie de fundo para compensar as famílias afetadas pelas mortes e exige a conclusão da construção da cerca em redor do parque nacional de Kasungu.

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