Um dia que obrigou Paulo Raimundo a dividir esforços entre Lisboa, Alverca e na Marinha Grande, teve momentos de saudade por uma cara mais conhecida, Jerónimo de Sousa. Horas depois, e a descer a rua Catarina Eufémia, em Alverca — uma rua não escolhida ao acaso,  nome de uma mulher que morreu assassinada a tiro pela GNR, e que se tornou um símbolo da violência do Estado Novo — que o atual secretário-geral do PCP foi convidado a entrar, por um eleitor convicto, que queria falar, acima de tudo do seu antecessor.

Enquanto dezenas de pessoas cantavam, de bandeiras em riste e chapéus de chuva bem junto à cabeça: “Vota, vota CDU, voto eu e votas tu” Paulo Raimundo entrou no café para ser recebido com largos elogios numa mesa com dois homens com cabelos grisalhos.

“É o melhor homem do nosso país, mas já agora um aparte” começou por dizer com os dois braços agarrados aos ombros do secretário-geral. E esse aparte era sobre a vida de Jerónimo de Sousa.

“O que é que é feito dele? Ainda fiquei com medo que tivesse ido parar ao hospital“, perguntou com os dois braços agarrados aos ombros de Paulo Raimundo. O secretário-geral não conteve o sorriso e respondeu com garantias de boa saúde: “Anda aí na estrada, está rijo. Ainda nos vamos cruzar por aí.” E mesmo antes de virar costas rematou: “Olhe é melhor o Jerónimo que o Passos Coelho“.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O regresso de Passos Coelho tinha surgido no início da arruada, quando à chuva e perante a insistência dos jornalistas, o secretário-geral do PCP considerou até que o antigo primeiro-ministro era bem vindo. Ou quase. “Fica claro para onde nos querem levar o PSD, Chega e Iniciativa Liberal, ao menos fica claro”. Seriam as únicas referências ao regresso de Passos Coelho.

Raimundo haveria de admitir aos jornalistas que a presença de Jerónimo na campanha era “muito expectável, é uma surpresa que temos para anunciar“. A chuva não deu tréguas, nem à memória do antigo secretário-geral comunista. Não parou de cair durante a curta arruada que em apenas 20 minutos percorreu a rua Catarina Eufémia e a avenida Capitão Meleças, onde Paulo Raimundo fez curtas visitas a cafés e lojas para trocar cumprimentos com os locais.

As dezenas de comunistas juntaram-se na Praça João Mantas, num palanque junto a um pelourinho. Com António Filipe ao lado de Paulo Raimundo, o secretário-geral do Partido Comunista Português dedicou uma primeira palavra à chuva. “A gente aguenta a chuva, aguenta tudo pelos trabalhadores” e rapidamente partiu ao ataque — no dia em que foi conhecido que o BCP atingiu 856 milhões de lucros no ano passado e que mereceu uma forte assobiadela de todos os comunistas presentes — Raimundo prometeu cortar os lucros “excessivos da banca” e enfrentar a “liberalização” do mercado da habitação.