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"Lixo" e "fascista". Ventura ignora insultos e promete tudo a todos numa das poucas arruadas da campanha

O que entra na bolha de segurança de Ventura são apenas elogios, mas o ódio também se vai notando à medida que a caravana avança pelas ruas de Braga. Os insultos são desvalorizados e a comitiva segue.

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LUSA

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André Ventura esteve em Braga, numa das poucas arruadas marcadas para a campanha eleitoral, acompanhado por não mais de cem pessoas. No percorrer das ruas do centro da cidade foi sendo cumprimentado por apoiantes, mas também criticado — por pessoas para quem a comitiva, que tem os olhos fixados no líder, nem desvia o olhar.

“Lixo”, ouviu-se pouco depois do arranque da arruada, que ia avançando entre cumprimentos e promessas de Ventura a cada pessoa com queixas — emigrantes regressados e que querem ver os filhos de voltas, pensionistas com reformas abaixo de 200 euros, professores, polícias e ex-combatentes. “Podem contar connosco”; “não nos vamos esquecer de vocês” ou “os jovens têm o nosso apoio” são algumas das respostas que vai dando repetidamente.

Ventura desperta muitas sensações. Há quem não se queira aproximar e grite, à distância: “esse gajo não vale nada”. Mas também jovens,  que ficam contentes com uma selfie — aquelas que Ventura já tira como Marcelo, com a própria mão. Mas esses jovens, como André e André (“como ele”, diz um deles) que se mantiveram quase até ao fim da arruada não têm nem idade para votar. Estudam em Braga, têm 16 anos e estão “à espera do dia” em que podem “votar nele”. Estão longe de serem os únicos, há grupos de jovens ansiosos por uma troca de palavras, uma fotografia. “Ainda só tenho 15 anos”, atira um outro jovem chamado João, que está longe de conseguir ter uma palavra a dizer em eleições.

[Já saiu o primeiro episódio de “Operação Papagaio”, o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir também o trailer aqui.]

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A caravana segue, não pára, e há jovens que estão no ponto oposto: “Fascista. 25 de Abril sempre.” As palavras estão escritas numa cartolina colocada no ar à passagem de Ventura e ouvem-se os gritos abafados pelos bombos (“fascista”). Na caravana há quem responda, mas para o ar: “Nem sabe quem era o Salazar, se fosse meu filho levava umas chapadas.” O apoiante do Chega não quer falar, mas segue com uma bandeira do partido e outra de Portugal na mão.

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A promessa das pensões como prioridade

Depois de se cruzar com pensionistas — um a receber 160 euros, outro ex-combatente a receber um suplemento de pensão de 57 euros —, Ventura focou o discurso no final da arruada na proposta do Chega para equivaler as pensões mínimas ao valor do salário mínimo em seis anos.

“Fiz uma promessa política de vida. Ainda hoje soubemos que aumentou a pobreza em Portugal”, começa por dizer, sublinhando que muita “está nos idosos e reformados”. “Em Portugal, connosco, não haverá nenhuma pensão abaixo do salário mínimo em Portugal”, reiterou.

Enquanto segue para se comparar a Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro: “Passam a vida a discutir o choque salarial ou o choque fiscal. Nós vamos dar um choque de dignidade a este país de forma a que não haja um pensionista na pobreza.”

André Ventura explicou a quem ali estava que a proposta do Chega é faseada e que nos primeiros três anos o valor da pensão deve ser equiparado ao IAS (Indexante dos Apoios Sociais). “O custo disso é de 1,6 mil milhões de euros”, sublinhou, defendendo que pode ser pago com o combate aos desperdícios do Estado: “Todos os anos no Ministério da Saúde desperdiçam-se dois a três milhões de euros. Digam lá se não podemos gerir um pouco melhor e aumentar as pensões em Portugal” — mas André Ventura já disse que a proposta podia ser paga com o valor da economia paralela, corrupção e até com fundos europeus.

O “pacto” para a imigração à direita e a moção de rejeição ao PS

Num comício em Guimarães, cidade conhecida por ser o berço de Portugal, André Ventura focou-se no tema da imigração, nas propostas do partido para travar aquilo que diz ser uma imigração “descontrolada” e voltou a recordar que Passos Coelho entrou na campanha da Aliança Democrática para dizer, aos seus olhos, que “o Chega tem razão nesta matéria”. Pelo caminho, desafiou uma maioria à direita para um “pacto” sobre esta questão.

“A legenda de Passos Coelho podia ser assim: ‘idiotas úteis, acordem porque o Chega tem razão nesta matéria”, atirou André Ventura, dizendo que PSD levou “dois estalos” do ex-presidente por não ter abordado este assunto.

Entretanto, o líder do Chega acabou por desafiar os partidos de direita para aceitarem três propostas do partido que lidera: que só tenha nacionalidade portuguesa quem conhecer a língua e a cultura; que quem cometer crimes deve cumprir pena de prisão e ser expulso do país e que os subsídios a imigrantes só podem ser atribuídos depois de cinco anos a viverem em Portugal.

Tal como tem dito sempre sobre o tema, insiste que a imigração “não pode ser descontrolada” , que as “nossas regras” são para cumprir, e que com o “deixar entrar toda a gente sem critério está-se a permitir a destruição da sociedade”. Reconhecendo que há vários setores económicos em que são precisos imigrantes, Ventura realçou que as pessoas não podem entrar em Portugal se não tiverem um contrato de trabalho e meios de subsistência.

E colou o tema à insegurança, frisando que “se um imigrante cometer crimes em Portugal só há um caminho: cumprir pena de prisão e ser posto a andar“. “Não queremos mais bandidos do que aqueles que já temos”, atirou, trazendo ainda para cima da mesa a questão dos visto da CPLP e frisando que “até os frouxos da União Europeia abrem um processo [a Portugal] por causa da imigração. Ainda sobre o tema, deixou uma garantia para o “dia zero” caso chegue ao Governo: “É revogar esta trapalhada toda.”

Aos olhos de André Ventura, o Chega é o único partido que ama Portugal, já que nos outros vê “bandeiras arco-íris”, mas não “bandeiras de Portugal”. “Parece que têm vergonha do país e dos símbolos do país”, atirou, para rapidamente chegar à brincadeira sobre roupa interior: “Confesso que uso roupa interior com o símbolo de de Portugal”, disse, o que arrancou uma gargalhada coletiva na sala — e o que acabou num desafio aos apoantes: “Comprem roupa interior com a bandeira de Portugal.”

Mais a sério, e mesmo a encerrar o discurso, Ventura fez questão de regressar aos cenários de governabilidade no dia a seguir às eleições — que continuam em cima da mesa e em que Luís Montenegro prossegue sem deixar tudo claro —, para colocar em pratos limpos o que acha que o presidente do PSD não é capaz de dizer (e ainda que já tinha referido por várias vezes que não viabilizava um governo socialista):

“Nós não vamos viabilizar o PS independentemente do resultado”, sublinhou o líder do Chega, sugerindo que, por sua vez, “o senhor Luís Montenegro tem todo o ar de quem vai viabilizar governo do PS”. E porque, realçou, em política “as coisas devem ser claras como a água”, André Ventura não quis deixar espaço para dúvidas: “Tenha o PS quando votos tiver, se houver uma maioria de direita apresentarei uma moção de rejeição.”

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