Marcus Rashford tem sido um dos jogadores mais visados da temporada inconstante do Manchester United. Com apenas cinco golos e cinco assistências em 32 jogos, o avançado inglês tem sido criticado pelas exibições apáticas, pelas oportunidades desperdiçadas, pela quebra de rendimento e também pelas noites passadas em bares ou discotecas depois de derrotas. Tão criticado que, a mais de metade da época, decidiu falar.

Num longo texto no The Players’ Tribune, Rashford garantiu que não queria atirar-se à comunicação social, às redes sociais ou a todos aqueles que o criticaram nos últimos meses. Escreveu vários parágrafos sobre o período da pandemia, em que assumiu um papel cívico muito importante e até mereceu uma condecoração por parte de Isabel II, lembrou a infância difícil nos subúrbios de Manchester e os primeiros tempos na formação do United. Mas deixou o recado para o fim.

“Se for realmente honesto, uma parte de mim não quer saber se as pessoas duvidam de mim. Quando todos dizem que me adoram, desconfio. Eu sei como é que o mundo funciona […] Prometo-vos que o mundo ainda não viu o melhor desta equipa do United, destes jogadores. Queremos voltar à Liga dos Campeões e depois temos uma competição internacional enorme no fim da temporada. Vamos voltar ao sítio onde pertencemos. Só temos de continuar a trabalhar e isso começa comigo. Se me apoiam, boa. Se duvidam de mim, melhor ainda”, atirou o internacional inglês.

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De forma natural, o texto servia como antecâmara para o dérbi deste domingo. O Manchester City recebia o Manchester United no Etihad já depois de o Liverpool ter derrotado o Nottingham Forest e sabia que era proibido perder pontos, enquanto que os red devils procuram vingar a goleada sofrida em Old Trafford na primeira mão e aproximar-se dos lugares de acesso às competições europeias.

Sem contar com o lesionado Jack Grealish, Pep Guardiola lançava Bernardo Silva, De Bruyne, Phil Foden e Jérémy Doku no apoio a Haaland, com Rúben Dias a manter a natural titularidade no eixo da defesa e Matheus Nunes a começar no banco. Do outro lado e ainda sem o também lesionado Højlund, Erik ten Hag tinha Rashford como referência ofensiva e Bruno Fernandes, Kobbie Mainoo, McTominay e Garnacho nas costas do avançado, com Diogo Dalot a integrar o onze inicial na direita da defesa.

O City começou o jogo a assumir uma superioridade natural e expectável, mas o United não demorou 10 minutos a colocar-se em vantagem: Onana colocou a bola no meio-campo adversário e em Bruno Fernandes, o português amorteceu para Rashford e o avançado, com um pontapé fortíssimo e indefensável, abriu o marcador com um golo impressionante (8′).

A equipa de Guardiola correu atrás do prejuízo ao longo de toda a primeira parte, atuando quase sempre inserida no meio-campo oposto, mas a defesa do United mantinha-se organizada e coesa — ao ponto de permitir escassas oportunidades de golo. O conjunto de Ten Hag apostava essencialmente no contra-ataque, criando perigo sempre que se aproximava da baliza de Ederson, e o jogo chegou ao intervalo com vantagem mínima dos visitantes e um falhanço inacreditável de Haaland, que atirou por cima na pequena área e com a baliza praticamente deserta (45′).

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e depressa se percebeu que a lógica ia manter-se, com o United a permanecer à espera do City e a tentar resguardar a valiosa vantagem alcançada ainda dentro dos 10 minutos iniciais. Onana permanecia crucial, não só nas intervenções na própria área como na forma como colocava as bolas longas para começar a construção, e Haaland, Doku, Bernardo e companhia não conseguiam desbloquear a inspiração.

Até ao momento em que Foden o fez. Ainda antes da hora de jogo, o inglês recebeu descaído na direita, puxou para dentro e atirou um remate brilhante de pé esquerdo, sem qualquer hipótese para Onana e empatando o dérbi (56′). Guardiola reagiu ao golo com a primeira substituição, trocando Doku por Julián Álvarez, e Ten Hag respondeu pouco depois com a entrada de Kambwala para o lugar do esgotado Jonny Evans.

O City não começou a jogar melhor depois do empate, mas o United caiu demasiado no terreno e não conseguiu recuperar o ânimo. A equipa de Ten Hag baixou as linhas, encostou-se completamente à própria baliza e procurou resguardar o ponto, permitindo o controlo absoluto do adversário — mais por demérito próprio do que por mérito do conjunto de Guardiola. Já dentro dos últimos 10 minutos, porém, a inspiração de um único homem voltou a fazer a diferença.

Foden descaiu na esquerda, combinou com Álvarez, entrou na grande área e atirou cruzado para voltar a bater Onana (80′), bisando na partida e tornando-se o herói do dérbi. Haaland ainda se redimiu do falhanço da primeira parte com um golo nos descontos (90+1′), para fechar as contas, e o Manchester City venceu o Manchester United no Etihad com direito a reviravolta e muito graças a uma tarde memorável de Phil Foden. Os citizens mantêm-se a um ponto da liderança do Liverpool, sendo que já na próxima semana deslocam-se a Anfield para defrontar os reds.