A gestão das contas públicas foi “extraordinariamente positiva”, mas ainda assim o excedente poderia ter sido usado para “resolver mais algumas pendências”, em vez de deixar essa resolução nas mãos do próximo governo da Aliança Democrática. As declarações são do presidente do PS, Carlos César, já depois de ser conhecido o histórico excedente de 1,2% em 2023, o mesmo que no fim de semana disse esperar que não se revelasse um “excesso”.

Em declarações ao Observador, o socialista faz questão de começar por frisar o “orgulho” que tem na governação de António Costa, um “excecional primeiro-ministro”. Depois, argumenta que o “reparo” que fez à gestão de Fernando Medina foi, na verdade, uma constatação — e uma constatação que muitos socialistas fazem agora à boca pequena, preocupados com a margem orçamental que o PS deixa ao PSD para tomar decisões que os socialistas não chegaram a tomar quando estavam no Governo.

“Primeiro, estou muito orgulhoso do legado e dos resultados da governação de António Costa, que foi um excecional primeiro ministro; segundo, o meu reparo foi apenas uma constatação de uma evidência, a de que mantendo a marca extraordinariamente positiva da gestão das contas públicas poderíamos ter resolvido mais algumas pendências com um excedente significativo mas menor”, frisa Carlos César. “Seja como for, saímos do governo de cabeça erguida e com a certeza que o país beneficiou da nossa ação. E isso conforta-me com este período histórico”.

O presidente do PS faz assim um elogio a Costa e à marca das contas certas, mas com o tal “reparo” que ilustra bem o espírito dos socialistas neste momento: mesmo mantendo essa marca da “gestão das contas públicas” que começou no tempo de Mário Centeno e se manteve com os sucessores nas Finanças, João Leão e Fernando Medina, o PS “poderia ter resolvido mais algumas pendências com um excedente significativo mas menor”.

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Entre elas deveriam encontrar-se os aumentos para algumas carreiras que o PSD prometeu fazer durante a campanha, e com as quais o próprio PS de Pedro Nuno Santos concorda — tanto que anunciou na semana passada que o PS estará pronto para viabilizar um Orçamento retificativo que inclua essas matérias, numa tentativa de não ficar de fora da fotografia de medidas vistas como populares, que ainda para mais também eram promessas de Pedro Nuno. Fernando Medina veio entretanto dizer inclusivamente que não seria preciso um retificativo — a margem prevista no atual Orçamento seria suficiente para acomodar essas medidas, apesar de o PS não ter chegado a aplicá-las.

Já Pedro Nuno Santos contava fazer uma redução da dívida a um ritmo menor do que Medina tinha imprimido nos últimos anos para tentar responder às reivindicações de algumas classes profissionais, com quem disse não querer estar “em guerra”, tendo chegado a criticar o governo por essa gestão das contas, ainda antes da crise política. Ainda assim, convidou o próprio ministro das Finanças para desenhar o seu cenário macroeconómico, garantindo sempre que as contas continuariam em ordem.

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No fim de semana, à porta da Comissão Nacional do PS, César deixou uma farpa ao ser questionado sobre se esse excedente deixado pelo PS poderia acabar por prejudicar o partido: “Tenho dificuldade em responder a isso como presidente do PS. Se eu não fosse, diria apenas que espero que o excedente [orçamental] não seja um excesso”, atirou. Esta segunda-feira soube-se que o número atinge os 1,2% do PIB, o que representa 3,194 mil milhões de euros, de acordo com os cálculos do Instituto Nacional de Estatística.

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