Quando saiu da Brians 2, em Sant Esteve de Sesrovires, Dani Alves deixou a prisão 14 meses depois mas não demorou a perceber o verdadeiro sentido literal do termo “liberdade condicional”. Logo ali, nessa tarde de segunda-feira, ouviu os protestos pela libertação da parte de guardas prisionais que estavam a manifestar-se à porta não pelo caso do jogador brasileiro mas pelo homicídio de uma cozinheira na cadeia por um recluso em Tarragona. Na chegada a casa, não gostou de ouvir algumas das perguntas feitas pelo autêntico batalhão de jornalistas mas também respondeu apenas com um olhares que valiam por mais do que mil palavras. Nas horas que se seguiram, se dúvidas ainda existissem, percebeu que se tornou num “ativo tóxico”.

Ninguém conhece a proveniência mas o dinheiro apareceu: Dani Alves paga 1 milhão de euros e sai da prisão 14 meses depois

Depois da recusa por parte da família Neymar em voltar a apoiar o jogador de 40 anos, Dani Alves demorou mais de quatro dias para angariar um milhão de euros para pagar a caução a que estava obrigado. Questão? Quem tinha ajudado o brasileiro que tem os seus bens congelados. De acordo com a imprensa mexicana, e entre vários outros amigos, Memphis Depay, avançado neerlandês do Atl. Madrid, teria sido um dos nomes a ajudar nessa angariação até por ter defendido antes que, mesmo estando contra determinados atos, nunca abandona os amigos. “Isso são fake news. Não é verdade”, garantiu o agente, confirmando esse “estado” geral de, com maior ou menor solidariedade com a situação, ninguém querer estar perto de si.

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O recurso teve sucesso: Justiça espanhola concede liberdade condicional a Dani Alves (mediante o pagamento de um milhão de euros)

“Tenho uma filha de 15 anos. Se ele tivesse feito isso com a minha filha, acho que não estaria aqui para dar esta entrevista. Acho que o ser humano tem que ser respeitado, a mulher tem que ser respeitada, o homem tem que ser respeitado. Tem de pagar pelo que fez. Se for condenado, tem de pagar pelo que fez e que sirva de lição para os outros não fazerem. Isto é muito sério, não podemos passar a mão na cabeça de ninguém. Têm de pagar, e depois de pagar a pena e sair, têm que ser ressocializados. Acho, inclusive, pouco tempo de pena. Já saiu da cadeia. Acho pouco para quem fez aquilo a uma mulher. Imagina o sentimento da menina, que é filha, dos pais dela… A partir do momento em que ele é condenado, acabou. Não dá para passar a mão na cabeça de ninguém. Temos o dever de educar os nossos filhos para que isso não aconteça”, apontou Felipe Melo, antigo companheiro de equipa na seleção, numa entrevista ao Globoesporte.

Segundo o La Vanguardia, o dinheiro terá sido recolhido na sua maior parte através de empréstimos não bancários com a garantia da sua advogada, Inés Guardiola, tendo em conta que também na semana passada foi conhecida uma sentença que dava ao jogador um total de 1,2 milhões de euros a receber do Fisco espanhol no âmbito de um processo pela tributação de valores cobrados pelos serviços de intermediação do agente. Já os cerca de 60 milhões de euros que tem em termos de património avaliado continuam congelados pela Justiça brasileira ainda pelo conflito que mantém em tribunal com a ex-mulher, Dinorah Santana.

Com esse obstáculo superado, e com essa esperança de não ter de voltar nunca mais à prisão apesar de estar nesta altura a aguardar o resultado do recurso depois da condenação por quatro anos e meio por agressão sexual a uma mulher numa discoteca em Barcelona (a ponto de ter confidenciado isso mesmo quando se despediu dos amigos que foi fazendo na prisão), Dani Alves vai regressando a uma vida normal dentro do “possível” e, de acordo com o “Así es la vida”, com uma festa que terminou às 5h da manhã em sua casa, onde não só recebeu amigos mais próximos e familiares como celebrou o aniversário do seu pai.

Na manhã desta quinta-feira, e pela primeira vez desde que deixou a prisão com os dois passaportes (um espanhol, outro brasileiro) confiscados e proibição de aproximação da vítima, Dani Alves fez a apresentação semanal definida na presença da advogada, Inés Guardiola. Mais uma vez, foi alvo de críticas por algumas pessoas que marcavam presença em frente à porta do Palácio da Justiça. “Oh Alves, tens muito dinheiro, não? tens dinheiro para violar e pagar bem. E vens bem vestido, c*****”, atirou uma dessas pessoas. “Se fosse no Brasil matavam-te num instante, desgraçado”, acrescentou enquanto o jogador foi seguindo o trajeto até entrar no edifício, quase sempre de cabeça baixa e sem reagir ao que ia ouvindo.