O julgamento de uma das maiores redes de tráfico de droga está ainda no início, mas já foram revelados alguns detalhes que permitem perceber como é que este grupo atuava. Esta terça-feira, foi ouvida a primeira testemunha, o inspetor da Polícia Judiciária que investigou o caso. Em tribunal, desta vez com a presença de menos arguidos do que na primeira sessão — estavam apenas os oito detidos e dois arguidos que aguardam em liberdade –, o inspetor Hugo Sousa explicou que este grupo, agora acusado pelo Ministério Público de crimes de tráfico de droga, associação criminosa e branqueamento de capitais, foi identificado a partir de uma apreensão de droga feita no porto de Setúbal. E adiantou ainda que os arguidos tinham ligações a Sérgio Carvalho, conhecido como ‘Escobar brasileiro’, tendo este estado em Portugal.

“O porto de Setúbal é uma das portas de entrada de droga em Portugal. Fazemos fiscalizações com frequência a contentores, sobretudo de fruta, bananas”, explicou o inspetor da PJ. Ainda antes de perceberem que esta rede existia, as autoridades apreenderam 400 quilos de cocaína, que chegaram a Setúbal em contentores de ananases. Nessa altura, chegaram então aos nomes de Luís Vicente e Luís Ferreira. A partir daí, surgiram os outros nomes que constam na acusação deduzida pelo MP.

O inspetor da Polícia Judiciária explicou ainda que o grupo utilizava a aplicação encriptada EncroChat e esta polícia conseguiu identificar cerca de 60 mil mensagens trocadas entre vários dos arguidos. “Estas plataformas operavam no submundo do crime”, acrescentou. No EncroChat, aplicação desmantelada em 2020 pela polícia francesa, este grupo planeava os passos do tráfico de droga.

Já no final da sessão da manhã, o inspetor da PJ disse ainda que Sérgio Carvalho esteve em Portugal e que teria ligações a Rúben Oliveira, o principal arguido e conhecido por ‘Xuxas’.

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Segundo o MP, esta rede de tráfico de droga tinha ligações com grupos de narcotráfico da Colômbia e do Brasil desde 2019 e era destes países que era importada a droga que entrava em Portugal. Esta organização, lê-se na acusação, teria ainda domínio nos portos de Leixões e de Setúbal, o que permitiria a entrada da droga no país, evitando a fiscalização das autoridades. A PJ chegou a fazer apreensões de cocaína nestes portos, estando nestes locais alguns dos arguidos deste processo.

Ministério Público considera inequívocos indícios de que “Xuxas” liderava rede de tráfico de droga

Ainda de acordo com a acusação do Ministério Público, a droga entrava em Portugal através de empresas de importação de frutas e de outros bens alimentares, em contentores que chegavam aos portos. Mas este grupo tinha ainda outras formas de atuar e chegaram a trazer, diz o MP, droga dentro de malas, em viagens do Brasil para Portugal.