A Unidade Local de Saúde de São João (ULSSJ), no Porto, começou a colocar implantes cerebrais de última geração em doentes selecionados com Parkinson, entre outras doenças, um dispositivo de tamanho reduzido e carregamento ultrarrápido, foi revelado.

Em declarações à agência Lusa, no Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, a coordenadora da Unidade de Neurocirurgia Funcional, Clara Chamadoira, revelou que “o primeiro implante cerebral de última geração” em Portugal foi colocado, em fevereiro, numa paciente com menos de 60 anos.

“Agora já temos autorização do hospital para colocar mais em doentes selecionados prioritários ou que a equipa considere que beneficiam das vantagens deste dispositivo”, disse a médica neurocirurgia, mas sem avançar com estimativas de quantos doentes serão chamados.

São indicados doentes selecionados com Doença de Parkinson, Tremor Essencial, Distonia ou Epilepsia Refratária, um tipo de Epilepsia que não responde ao tratamento farmacológico.

Em causa está um dispositivo recarregável de Estimulação Cerebral Profunda (DBS) que permite a recolha de registos de atividade cerebral para terapia personalizada.

Clara Chamadoira descreveu o aparelho como “o mais pequeno e fino do mercado”, uma alteração que corresponde a menos 37% do volume em comparação com o dispositivo anterior.

Na prática estamos a falar de um implante no cérebro que é ligado a uma bateria colocada no peito. A bateria é semelhante a metade de um cartão de crédito e os carregamentos são feitos através de uma espécie de cinta à volta da região peitoral.

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À Lusa, a especialista destacou que os carregamentos com este DBS são mais rápidos do que os restantes neuroestimuladores disponíveis no mercado, o que permite uma maior longevidade, evitando a necessidade de uma nova cirurgia para a sua substituição durante 15 anos.

Já na informação remetida à Lusa pela ULSSJ lê-se que se trata de “melhorias robustas, relativamente ao neuroestimulador recarregável anterior” pois “nesta nova tecnologia da bateria, os doentes poderem carregar o seu estimulador dos 0-90% em menos de uma hora”.

“E no caso de os doentes deixarem descarregar o estimulador totalmente, não existem consequências para as baterias. Podem ser recuperadas infinitamente. Desta forma, o doente não precisará de voltar ao bloco para ser corrigida a posição do estimulador implantado”, refere.

Clara Chamadoira acrescentou que este sistema é compatível com todo o tipo de ressonâncias.

Ou seja, um paciente com Parkinson com um problema na barriga ou num pé, por exemplo, que precise de uma ressonância, se tiver este dispositivo de última geração não precisa de o desligar ao fazer o exame, algo que podia implicar ter de sedar o paciente dependendo do grau da doença.

“Este sistema regista a atividade cerebral ao mesmo tempo que faz a estimulação e o tratamento e acredita-se que, no futuro, se consiga adaptar os estímulos às necessidades. Atualmente estimula-se constantemente os doentes, é como se se estivesse a passar corrente constantemente, mas interessa que a estimulação seja adaptativa”, acrescentou a coordenadora.

Apontando que “estão já a decorrer estudos científicos no mundo nesse sentido”, Clara Chamadoira sintetizou: “É como, em vez de se fazer um fato de pronto-a-vestir para toda a gente, se fazer um fato feito à medida”.

A título de exemplo, imagine-se que o dispositivo percebe, durante a noite que o cérebro não precisa de tanta estimulação, baixando ele próprio a intensidade. No sentido inverso, poderá aumentar a estimulação quando este pratica atividade física, por exemplo.

Este e outros projetos serão celebrados na ULSSJ numa cerimónia dedicada aos 25 anos da equipa da Unidade de Doenças de Movimento e Cirurgia Funcional do São João.