A Conferência Nacional do Conservadorismo (NatCon) — que junta vários partidos conservadores e de extrema-direita e decorre esta semana em Bruxelas durante dois dias –, foi suspensa temporariamente pela polícia, alegando motivos de segurança. De acordo com o jornal The Telegraph, a polícia entrou no auditório da conferência quando Nigel Farage, fundador do partido Reform UK e conhecido como o arquiteto do Brexit, estava no palco.

Documentos a que o The Telegraph teve acesso sugeriam que no evento iriam ser feitos discursos que poderiam ser considerados homofóbicos, ofender minorias, bem como incitar à desordem pública — o que justificou a intervenção.

O evento recomeçou poucos minutos depois, uma vez que, segundo o The Guardian, as autoridades não tinham legitimidade para encerrar o congresso — mas pouco depois foi comunicado que o evento seria encerrado de forma gradual e que tentariam encontrar um novo local para o dia seguinte, uma vez que no exterior existem várias manifestações contra a realização deste evento, que conta também com a presença do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, como convidado.

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Enquanto a polícia fazia um cerco no exterior do local, os participantes iam desfrutando da pausa para petiscar, de carpaccio com espargos a salmão fumado e guacamole. Mas até a refeição tinha sido difícil de conseguir, já que, de acordo com o Politico, até foi preciso contratar um novo serviço de catering porque o primeiro apalavrado foi impedido de chegar ao local. Mais tarde, acabaram mesmo por “desviar” comida para o jantar já que os planos não correram como previsto.

Nas redes sociais, Emir Kir, autarca de Saint Josse, explicou que foi ele próprio a emitir uma ordem para “proibir o evento para garantir a segurança pública”. “Em Etterbeek, Brussels City e Saint-Josse, a extrema-direita não é bem-vinda“, acrescentou.

Por outro lado, até o dono do local onde estava a decorrer a conferência, o hotel Claridge, veio em defesa dos organizadores, referindo que não partilhava dos valores ali plasmados, mas que tinham direito à liberdade de expressão. Um “bravo tunisino”, acabou por lhe chamar Farage.

Em reação ao sucedido, Nigel Farage disse aos jornalistas que este era um movimento “típico de comunista”. “Não concorda comigo, então tem de ser banido. É monstruoso”, disse, acrescentando ainda que o que aconteceu esta terça-feira o convence ainda mais “de que deixar a ideologia da União Europeia era a coisa certa a fazer”.

Neste seguimento, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, considerou “inaceitável” a proibição dessa reunião da direita nacionalista em Bruxelas, classificando-a como um atentado à liberdade de expressão, a poucas semanas das eleições europeias. “A autonomia comunal é uma pedra angular da nossa democracia, mas nunca pode sobrepor-se à Constituição belga, que garante a liberdade de expressão e de reunião pacífica desde 1830”, sublinhou o governante liberal numa mensagem em inglês, publicada na rede social X (antigo Twitter).

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, também condenou a ação nas redes sociais, com promessas de que não haverá desistências devido a este tipo de iniciativas. “Acho que já não suportam a liberdade de expressão. A última vez que quiseram silenciar-me foi em 1988, quando os comunistas atiraram a polícia contra mim”, afirmou.

Também o primeiro-ministro britânico, o conservador Rishi Sunak, considerou “extremamente preocupante” a decisão das autoridades de Bruxelas de ordenar hoje o fim de uma reunião da direita nacionalista em que iriam participar várias figuras britânicas, indicou a sua porta-voz. “Esta informação é extremamente preocupante”, afirmou a porta-voz sobre a suspensão do evento, onde eram nomeadamente esperados o ex-líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) Nigel Farage e a ex-ministra do Interior conservadora Suella Braverman.

A organização da conferência diz estar a tentar encontrar outro local, sendo que dois outros hotéis já tinham recusado receber o evento.

Antes da interrupção da conferência, os líderes presentes discutiram a União Europeia. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, declarou que a política promovida pela Comissão Europeia durante esta legislatura, incluindo iniciativas como o pacto migratório e o pacto verde, foi “um fracasso” e apelou para uma nova liderança comunitária. “Temos uma liderança da União Europeia (…) que falhou. A atual liderança tem de sair, precisamos de novos líderes”, afirmou Orbán, entre os aplausos do público de uma conferência sobre migrações no Parlamento Europeu.

O chefe do Governo húngaro disse também que o pacto migratório “é um erro”, porque não foi unanimemente apoiado pelos Estados-membros e considerou que, por essa razão, “não funcionará”. Mas foi mais longe e considerou que outras iniciativas prioritárias para Bruxelas nos últimos anos estão também condenadas ao “fracasso”. “A transição verde é um fracasso, porque vai contra a economia, as empresas e a indústria”, sustentou.

Orbán criticou ainda o mecanismo que condiciona o desembolso dos fundos europeus ao respeito dos princípios do Estado de direito. “Criaram um sistema de condicionalidade que é um método de chantagem”, defendeu.

Por seu lado, o ex-primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki rejeitou igualmente o pacto migratório, argumentando que “pode ser a dinamite que fará explodir a Europa”. “Se for na direção apresentada, não vai funcionar. Haverá enorme turbulência”, vaticinou o político polaco, criticando “a hipocrisia” dos responsáveis que impulsionaram aquele pacote normativo.

Por último, o ex-diretor executivo da Frontex, que agora faz parte da União Nacional (RN), o partido da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, criticou a “falsa narrativa da Comissão Europeia e das organizações não-governamentais (ONG), que dizem que é ilegal impedir a travessia ilegal das fronteiras externas” da União Europeia (UE).

Acusou ainda a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, e a comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, de tentarem adotar políticas que são da competência das autoridades nacionais dos 27 Estados-membros.