Manuel Monteiro entende que é um erro estratégico para a direita traçar cordões sanitários em torno do Chega. Para o antigo líder do CDS, as circunstâncias mudaram e é inevitável que o Chega continue a ser uma peça fundamental para as maiorias de direita. O que fazer com essa evidência é o grande teste à resiliência de PSD, mas também do CDS. “Eu nunca teria dito [o não é não]. Na minha opinião,  a única forma de alterar essa situação passa pela afirmação do CDS como um partido conservador.”

Em entrevista ao Observador, a partir do 31.º Congresso do CDS, que decorre entre sábado e domingo em Viseu, Manuel Monteiro acredita que, em determinada altura, “o CDS se perdeu dentro de si próprio” e que esta é a oportunidade de se reencontrar como partio sem vergonha de dizer que é de direita. “A minha expectativa e a minha esperança é que o CDS perceba que tem agora aqui um início de caminho para ser o irmão da direita do PSD”, disse.

“Temos que saber ler  o comportamento das pessoas e perceber que há um conjunto de pessoas desiludidas, como diz o doutor Passos Coelho, que convergiram na sua desilusão para um determinado espaço. Agora, não posso ignorar a desilusão. E tenho que saber recuperar bandeiras, causas, valores e princípios em democracia que sempre caracterizaram o CDS. O CDS não deve abandonar essas bandeiras e falar uma linguagem muito simpática mas muito hermética”, insistiu o antigo presidente do CDS.

“Não podemos considerar que uma pessoa quando vota em nós é muito inteligente e quando não vota em mim já é burro. Não podemos meter a cabeça na areia e desconhecer que amigos nossos, familiares nossos, vizinhos nossos, que sempre votaram ou no PSD ou no CDS, desta vez foram votar Chega. E eu tenho que dizer a esses eleitores ‘compreendo-vos, respeito-vos’. Não estou a falar dos fascistas, não estou a falar de pessoas que não gostam da democracia. Estou a falar de pessoas conservadoras que se desiludiram com as nossas áreas. Eu tenho que lhes dizer ‘eu compreendo-vos.”

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Manuel Monteiro defendeu ainda que o CDS volte a falar de política e de ideologia, sem reservas ou constrangimentos. “Penso que a política se esvaziou muito. Houve uma altura em que o professor Cavaco Silva, com todo o respeito, trouxe para a política portuguesa esta noção: ‘Os portugueses não comem ideologia. Eu percebo isso. Mas quando retiramos a política da política, é a mesma coisa que retirar o tempero à comida. E, portanto, a não ser as pessoas que são obrigadas, por receita médica, a comer comida sem tempero, a comida com tempero tem outro sabor. Precisamos de reinstituir a política na política”, rematou.

Manuel Monteiro: “A política precisa de tempero”