Ao fim de dois projetos-lei que conseguiu passar no Parlamento sem ter maioria à esquerda, o líder do PS veio colher louros, colando Luís Montenegro às ideias de “instabilidade” e “incapacidade”. Ao mesmo tempo garante que não tem o Chega — que esteve ao seu lado no fim das portagens nas ex-SCUT e na proposta de redução do IRS — como aliado: “O PS está nos antípodas do Chega. O PSD está muito mais próximo do que nós.”

Em entrevista à SIC e à SIC-Notícias, Pedro Nuno Santos garantiu que não tem pressa de ir para eleições legislativas novamente e disse que quem “parece que quer é o Governo que está em combate com toda a gente”. Ao fim de um mês de novo Executivo, liderado pela AD, o socialista afirmou que “se esperava sinal de esperança e de estabilidade”, mas que o que se vê é “um Governo de combate, contra o Governo anterior, contra o que foi feito e contra as oposições”.

Aproveita todos os pontos, incluindo as exonerações como a de Ana Jorge na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ou a saída de Fernando Araújo da direção executiva do SNS, para sustentar a sua tese sobre os primeiros 30 dias de Montenegro como primeiro-ministro: “A impressão que fica é de uma profunda instabilidade e desorientação”.

Mas nesta sua narrativa o socialista não coloca o PS como um ativo dessa “instabilidade”. Aliás, Pedro Nuno mostrou-se antes apostado em sacudir essa responsabilidade garantindo que o PS “não é uma força de bloqueio, mas que procura estabilidade” — e aqui até deu como exemplo a disponibilidade manifestada para “viabilizar” o que sair das negociações com os professores para a reposição do tempo de serviço congelado, onde chegou mesmo a dizer ser coisa pouca o que tem defendido o PSD e o PS nesta matéria.

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Mas no histórico (ainda) breve como líder da oposição, conta com a acusação de estar a tentar governar a partir do Parlamento, com a AD a apontar dois projetos socialistas concretos (IRS e portagens). Em sua defesa o líder socialista diz que o PS não pode estar “condicionado” e que “não é uma força de bloqueio”, mas tem “iniciativas para apresentar” e “não deve ser demonizado” por isso.

A entrevista serviu para um esclarecimento da posição do PS no atual quadro político, evitando qualquer colagem ao Chega através da normalização dos processos legislativos no Parlamento. “Já não é a Assembleia Nacional e os partidos não estão a assistir”, afirmou o líder dos socialistas que defende que “não se pode pedir ao PS que se anule” e que “quem quer aprovar os projetos do PS aprova”.

Mas ao seu lado, na viabilização destas iniciativas concretas no Parlamento, tem tido o Chega, um cadastro que não quer ter colado a si, pelo que garante que “o PS não condiciona a sua ação em função do que o Chega pode ou não fazer”. E mais do que isso, que “não aprova medidas com o Chega” e que está mesmo “nos antípodas” do Chega. Essa “proximidade” é atribuída antes ao PSD que “está muito mais próximo do Chega do que o PS”, afirmou mesmo.

Influencer: se não houver mais nada “é alarmante” e deve “haver reflexão”

É na imigração que encontrou o tema para ajudar a essa separação maior, acusando muito diretamente o partido de André Ventura de “promover o ódio, a divisão e o ressentimento” e de ter ficado aquém na reação ao caso de agressões no Porto que só merecia “uma condenação inequívoca e sem hesitações”. “A atmosfera de ódio abre a porta à violência”, afirmou. acrescentando, no entanto, que “a imigração é um fenómeno a que é preciso dar resposta”. Mas a linha do PS é a do “combate ao tráfico de seres humanos”, “à imigração ilegal” e não “a resposta não é o ódio e apontar o dedo”. “Há muito trabalho a fazer em termos de integração e no combate à imigração ilegal”, disse ao mesmo tempo que também defende que se deve “cuidar de quem já estava”, acusando o Chega de ter “um discurso fácil que “cria ódio e divisão” na sociedade. Afirmou mesmo, ainda a este propósito, que “vários setores económicos no país paravam se não fossem os imigrantes”.

Ainda confrontado com os processos judiciais que envolveram e estiveram na génese da queda do Governo de maioria absoluta do PS, Pedro Nuno Santos mostrou-se favorável a uma “avaliação” do poder judicial. “Somos todos avaliados e escrutinados”, afirmou argumentado a favor da prestação de contas dos agentes judiciais. Não defendeu, no entanto, que a procuradora-geral da República seja ouvida no Parlamento sobre casos concretos, mas sim sobre a atividade anual do Ministério Público. Recusou-se mesmo a falar de Lucília Gago em concreto, rejeitando “personalizar o debate”, ainda que tenha lamentado um “Governo de maioria que deixou de existir” e que se se chegar ao fim do processo Influencer sem “mais nada além do que se sabe, é muito alarmante. Isso tem de provocar uma reflexão em todos”.