O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, defendeu este sábado a intensificação das consultas sobre o mar do sul da China, propondo que aquelas águas sejam geridas regionalmente e sem “instalações militares permanentes”.

“As consultas sobre o Código de Conduta no mar do sul da China devem ser intensificadas. O diálogo ativo e as negociações bilaterais entre Estados reivindicantes devem ser intensificados sempre de boa-fé, evitando fatos consumados para manter a confiança”, disse o também prémio Nobel da Paz.

José Ramos-Horta falava na edição anual do Diálogo Shangri-La na sessão dedicada à melhoria da gestão das crises perante o aumento da competição, que decorre em Singapura até domingo. O Diálogo Shangri-La é uma plataforma de debate sobre os desafios de segurança na Ásia.

“Idealmente, o mar do sul da China deveria ser uma zona de paz e fraternidade, gerida regionalmente e livre de instalações militares permanentes“, salientou o chefe de Estado timorense.

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China, Filipinas, Vietname, Malásia, Taiwan e Brunei têm reivindicado a soberania sobre várias ilhas e atóis do mar do sul da China, fundamental para o comércio marítimo global e rico em recursos naturais. Aquele mar é atravessado por 30% do comércio mundial e alberga 12% dos navios pesqueiros do mundo, bem como depósitos de petróleo e gás.

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Na intervenção, o Presidente timorense considerou também que a “catástrofe de Gaza” podia ter sido evitada. Para isso seria necessário a liderança palestina estar “unida, pragmática, moderada, conciliadora e focada em transformar Gaza e a Cisjordânia em modelos de paz, reconciliação, boa governação, liderança, prosperidade e respeitando o direito de Israel de viver em segurança”.

José Ramos-Horta criticou também Israel, que “escolheu minar a Autoridade Palestina” e “apoiar o Hamas” para “minar a solução de dois Estados”. “E o Hamas, apoiado pelo Irão, travou uma campanha feroz contra a Autoridade Palestina, expulsando-a de Gaza, e usou Gaza como uma plataforma para continuamente assediar Israel. Hamas e o primeiro-ministro Netanyahu contribuíram para a catástrofe de hoje. Eles eram ‘aliados'”, salientou o Presidente timorense.

Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza após um ataque mortífero do Hamas a 7 de outubro, no qual militantes palestinianos invadiram o sul do território israelita, mataram quase 1.200 pessoas, na maioria civis, e levaram cerca de 250 como reféns.

A operação israelita em grande escala de retaliação no enclave palestiniano já matou mais de 36 mil pessoas, na maioria também civis, de acordo com o governo local do Hamas, e deixou o território numa grave crise humanitária.

“Devemos refletir seriamente sobre o fracasso da comunidade internacional na prevenção de conflitos”

O prémio Nobel da Paz referiu-se também ao conflito no Myanmar, considerando a situação no país como mais um caso de “prevenção de conflitos fracassada”, lembrando que a “única proposta validada” é o consenso de cinco pontos da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

O conflito civil, desencadeado pelo golpe de Estado de 2021 contra o governo da Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, intensificou-se nos últimos meses na sequência de uma série de ataques de grupos de minorias étnicas em várias regiões de Myanmar. “Devemos refletir seriamente sobre o fracasso abismal da comunidade internacional na prevenção de conflitos globais e repensar os mecanismos de prevenção e mediação de conflitos, tanto regionais, quanto globais para que possamos fazer melhor no futuro”, pediu José Ramos-Horta.

O Presidente timorense pediu também que os envolvidos nos atuais conflitos façam uma “pausa humanitária de pelo menos seis meses para cuidar dos mortos, feridos, órfãos, reunir famílias, reiniciar escolas, reativar serviços essenciais e a economia e o comércio internacional”.