Quando se olha para aquele corpo franzino, pequeno e com o seu quê de frágil que não é, custa acreditar que, aos 16 anos, Rodrigo Mora andava a dar cartas na Segunda Liga. Logo à cabeça porque o segundo escalão é o lugar onde existem defesas mais competitivos prontos para cortar qualquer vaza que lhes passe pela frente. Depois, porque era mesmo novo. Tão novo que se estreou na segunda divisão do futebol nacional ainda com 15 anos, tão novo que se tornou o mais jovem de sempre a marcar no escalão superando o recorde que era de Cher Ndour, então no Benfica. No entanto, isso foi apenas um percurso para chegar ao destino final.

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Ninguém poderá adivinhar ao certo como será a carreira do avançado. Olhando para o que faz, como faz, onde faz e porque faz, é fácil apontar a voos mais altos. Ainda assim, é sempre uma incógnita. Aquilo que se pode dizer além do que joga, porque é um facto, é que Rodrigo Mora tem aquele toque divino dos jogadores predestinados para aparecer nas grandes competições. Tinha sido assim na Youth League, foi agora de novo no Campeonato da Europa Sub-17. Com o mesmo sucesso pessoal entre a frustração coletiva.

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Na Liga dos Campeões de Sub-19, Mora começou por bisar frente ao Shakhtar e acabou a fase de grupos com cinco golos em seis encontros, chegando à Final Four de Nyon com um total de sete depois de novo bis na goleada na Alemanha frente ao Mainz. O título de melhor marcador da competição, neste caso a par de Amin Chakha do Copenhaga, estava garantido mas faltou o resto e, depois de uma grande reviravolta diante do AC Milan, um golo nos descontos levou tudo para as grandes penalidades que favoreceram aos italianos. Agora no Europeu Sub-19, repetiu-se o filme: marcou com a Espanha, bisou e assistiu com a Inglaterra, assistiu com a França, marcou à Polónia, marcou à Sérvia. Tudo acompanhado de exibições de classe que não foram passando ao lado da imprensa europeia. “Problema”? Portugal voltou a entrar mal, a sofrer mas desta vez não conseguiu dar a volta e sobrou ao jovem jogador o prémio de melhor marcador da competição.

“Foi um pouco o que aconteceu em todo o Europeu, entrámos um bocado mal em todos os jogos. Eles marcaram dois golos nos primeiros 15 minutos. Nos outros jogos reagimos rapidamente e marcámos cedo, neste não aconteceu isso. Agora temos de recuperar e seguir em frente. Daqui a dois anos temos o Europeu Sub-19. Foram dois anos de muito trabalho e foi muito injusto acabar o Europeu Sub-17 desta forma mas temos de olhar em frente”, apontou Rodrigo Mora após o jogo. “Se espero ficar no plantel do FC Porto? São coisas que não posso prever. Seja o que for que acontecer, vou ficar sempre muito feliz. Agora só quero aproveitar as férias e descansar”, acrescentou ainda o avançado sobre o futuro em 2024/25.

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Como será? No FC Porto, garantidamente. Um escalão acima, possivelmente. Rodrigo Mora é visto pelos responsáveis dos azuis e brancas como uma “bandeira” do melhor que o Olival consegue fazer no plano da formação, algo importante na fase que o clube atravessa a iniciar um novo ciclo. Mas não é apenas isso: por aquilo que consegue fazer e pode dar à equipa no plano individual e coletivo, o avançado fará a pré-época com o conjunto principal comandado por Vítor Bruno, podendo depois permanecer em termos definitivos nas opções da equipa A (o que vai depender também como ficará o plantel dos dragões) ou andar entre A e B para manter o ritmo competitivo, como também é habitual neste tipo de situações com jogadores jovens.

Uma coisa é certa: ainda antes deste Europeu Sub-17, Rodrigo Mora era tido como uma prioridade para a atual administração, sabendo que nesta fase o jogador está “blindado” como é possível: assinou o primeiro contrato profissional mas que, por ter menos de 18 anos, não poderá passar de uma validade de três épocas. Assim, tendo contrato até 2026, é possível fazer depois um vínculo de maior ligação (por norma de cinco temporadas) a partir de maio de 2025, quando o avançado cumprir o seu 18.º aniversário. E esse é um dos objetivos a breve/médio prazo dos responsáveis portistas, por forma a blindar a sua “pérola”.