Após um primeiro fim de semana esgotado no Parque Tejo, em Lisboa, o Rock in Rio ouviu as queixas do público e prepara-se para fazer alterações no espaço em que o festival se estreia — desde que chegou a Portugal, em 2004, todas as edições tinham ocupado o Parque da Bela Vista.

A estratégia começa por ser reavaliada numa das maiores necessidades num evento com tanta gente: as casas de banho. O Parque Tejo tem mais 40% do que aquelas que existiam na Bela Vista. Ainda assim, apesar dos 490 espaços espalhados pelo recinto, as filas foram longas nos dois primeiros dias do festival, sobretudo nas casas de banho que se encontram numa das vias centrais do espaço — a meio caminho entre o Palco Mundo e a zona principal da restauração. Os restantes WCs espalhados pelo parque contavam com filas, mas que avançavam de forma rápida. Para que as dificuldades detetadas se resolvam, haverá “uma equipa 30 pessoas para operacionalizar esta gestão dentro dos WCs e mais 25 pessoas do lado de fora, com megafones, para orientar o público na direção das que estiverem com menos afluência”, revela a organização do Rock in Rio. A equipa de limpeza conta com mais de 400 pessoas.

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Também os espaços de alimentação pareceram não escoar de forma eficaz os respetivos clientes, isto mesmo havendo um aumento de 17 pontos de alimentação e bebida relativamente à Bela Vista. Segundo o festival, “houve um aumento de 50% das vendas dos operadores de alimentos e bebidas” e, para dar resposta, a solução passará por fugir às ofertas mais centrais. Para isso, a organização agilizou um reforço de stock e pessoal, além de prometer uma equipa que estará, com megafones, a “orientar as pessoas para as zonas de alimentação com menos movimento”.

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As comparações com o Parque da Bela Vista são inevitáveis e irão manter-se durante algum tempo. O espaço original, descrito como um anfiteatro natural, tinha uma inclinação no terreno difícil de replicar. O Parque Tejo não é completamente plano, mas o desnível não é acentuado o suficiente para que a visibilidade para o palco principal seja perfeita. De acordo com o Rock in Rio, no primeiro fim de semana houve uma “tendência que se observou no comportamento do público que se concentrou na parte superior da clareira do Palco Mundo”. Como tal, a ideia é apostar na informação. “A organização irá reforçar a comunicação nos ecrãs para convidar as pessoas a deslocar-se para outras áreas de boa visibilidade, que não ficaram preenchidas no primeiro fim de semana”. Um dos exemplos dados é a localização do stand da Hyundai, numa das zonas laterais.

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A saída do Parque Tejo foi descrita por muitos como caótica. O RiR esclarece agora o método que implementou. Chama-se Stop&Go e o objetivo é evitar a acumulação de pessoas nas horas de maior fluxo. Como funciona? “Consiste em gerir o avanço das pessoas na fila com paragens regulares, para que o escoamento seja feito mais lentamente e em maior segurança, evitando assim um aglomerado de milhares de pessoas no trânsito ao mesmo tempo.”

Quando o número de pessoas num determinado espaço atinge o limite considerado seguro, a entrada ou a saída são temporariamente interrompidas. A circulação é restabelecida quando o fluxo começa a ser menor. De acordo com a organização, há monitores e sinalização, além de haver uma equipa a prestar informações através de altifalantes.

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O novo Rock in Rio Lisboa apostou na acessibilidade para todos. O primeiro fim de semana contou com uma plataforma para cerca de 60 pessoas (dependendo do tamanho da cadeira de rodas) com mobilidade condicionada, houve shuttles adaptados, língua gestual portuguesa nos ecrãs do Palco Mundo, língua gestual no Palco Galp, espaços Sinta o Som em todos os palcos, áudio descrição, uma oficina de apoio e empréstimo de cadeiras e kit motorizados. Registou-se uma enorme afluência à plataforma para ver os concertos do Palco Mundo e, por isso, “o espaço Sinta o Som será reformulado e serão reencaminhadas para lá pessoas que não estejam em cadeira de rodas e que consigam deslocar-se até esse espaço”, revela o RiR.

Quanto ao pó registado no recinto, a organização esclarece que instalou “cerca de 15.000m2 de relva sintética e 18.000m2 de piso compactado removível nas frentes de palco e em zonas específicas do terreno”. Antes da abertura das portas, há camiões cisterna que espalham água reutilizada pelo solo. A manobra repete-se ao longo do dia nas vias de serviço.

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Para que não fiquem dúvidas por responder, o festival passa a ter informações em tempo real, via WhatsApp. Através de um link oficial, serão feitas atualizações do avanço das filas nos espaços de alimentação e nas casas de banho, por exemplo.

As alterações surgem como resposta às críticas relativas aos dois primeiros dias do evento depois de O Portal da Queixa ter revelado um aumento de 97% de reclamações face à edição de 2022. Problemas com bilhetes, filas, acessos e alimentação foram os mais apontados. No entanto, a organização do Rock in Rio Lisboa divulga agora outros números: “O universo de queixas no Portal da Queixa representa menos de 0,08% das pessoas que estiveram nos primeiros dois dias de festival (135 em 160 mil pessoas)”. Além disso, de acordo com um estudo pedido pela organização à Multidados, baseado em 1200 participantes, 70% dos inquiridos revelou-se satisfeito com a mudança de espaço.

Depois de um primeiro fim de semana esgotado, o Rock in Rio regressa ao Parque Tejo para mais dois dias de concertos. A 22 de junho, sábado, os cabeças de cartaz são os Jonas Brothers, enquanto Doja Cat encerra o evento no domingo, 23, dia que já tem a lotação de 80 mil pessoas esgotada.