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Um potencial regresso de Donald Trump à Presidência norte-americana e o crescimento da extrema-direita europeia anti-NATO são a maior ameaça à Aliança Atlântica e, combinados, criarão uma “tempestade perfeita” de problemas, segundo analistas ouvidos pela Lusa.

Na véspera da Cimeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), que decorrerá de 9 a 11 de julho na capital norte-americana, o analista Collin Anderson avaliou que o futuro da Aliança estará em foco, acrescentando que “Trump é a maior ameaça” a esse horizonte, seguido dos “crescentes partidos de extrema-direita anti-NATO na Europa”.

“Os dois, combinados, criarão uma tempestade perfeita de problemas para a Aliança. Numa altura em que a NATO precisaria do apoio firme dos seus outros maiores Estados-membros, como a França e a Alemanha, estamos a assistir a um crescente sentimento anti-NATO/anti-Estados Unidos (EUA) que poderia potencialmente exacerbar quaisquer problemas causados por Trump”, disse à Lusa Anderson, professor do departamento de Ciência Política da Universidade de Buffalo, em Nova Iorque.

Os norte-americanos irão a votos em 5 de novembro e os dois potenciais candidatos presidenciais — Joe Biden e Donald Trump — têm visões muitos distintas de política externa, incluindo sobre a NATO.

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Quando assumiu a Casa Branca, em 2021, o atual Presidente democrata, Joe Biden, declarou que as alianças da América são o seu “maior ativo”.

Desde então, Washington tem liderado o apoio à Ucrânia após a invasão russa, juntamente com os aliados europeus.

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Por outro lado, o ex-presidente e potencial candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, causou polémica ao encorajar a Rússia “a fazer o que raio quiser” com aliados da NATO que não cumprissem as diretrizes de gastos com Defesa, declarações que causaram preocupação generalizada na Europa.

De acordo com analistas ouvidos pela Lusa, uma vitória de Biden não causaria grande alteração ao modelo de atuação da NATO. Por outro lado, um Trump vitorioso em novembro poderia pôr em causa o envolvimento norte-americano na Aliança, deste que é um dos membros fundadores e com o maior exército da Organização.

“Trump deixou claro inúmeras vezes que está mais do que disposto a retirar os EUA da NATO, o que seria obviamente um duro golpe para a Aliança. Não acredito que seria o fim da NATO, mas reduziria significativamente as suas capacidades e tornaria tanto a Europa como os EUA um lugar significativamente mais fraco”, frisou Collin Anderson.

“Tenho visto vários potenciais planos apresentados pela campanha de Trump ou aliados. O mais extremo envolve os EUA simplesmente abandonarem completamente a Aliança, enquanto os outros se concentram em transformar a NATO numa rede de proteção ao estilo da máfia, onde apenas os Estados que pagam as suas dívidas obtêm proteção. Trump também criou com sucesso um sentimento anti-NATO entre os conservadores americanos, o que significa que a base de apoio tradicionalmente firme que estava presente naquele grupo desapareceu em grande parte”, observou ainda.

Além disso, o republicano manifestou “um elevado nível de vontade de negociar com os russos, já que a maioria dos planos de Trump inclui um acordo para travar qualquer expansão da NATO para leste – dando ao Presidente russo, Vladimir Putin, algo que ele deseja há anos e acabando efetivamente com a capacidade da Ucrânia de aderir à NATO” acrescentou Anderson.

Considerando “inegável que os EUA são a espinha dorsal da NATO”, Clara Broekaert, analista de investigação do Soufan Center, um centro de análise e diálogo estratégico sobre desafios de segurança global, acredita que o maior desafio que a Aliança enfrenta a curto prazo é manter a unidade interna, “para que não fique paralisada, politizada ou simplesmente ineficaz”.

“Da mesma forma, outro desafio significativo que a NATO enfrenta é a incerteza em torno do envolvimento duradouro dos EUA na NATO, especialmente com a potencial reeleição de Donald Trump. As eleições para o Parlamento Europeu e as eleições legislativas francesas também demonstram uma onda crescente de atitudes mais isolacionistas e céticas em relação ao projeto transatlântico”, observou.

Concretamente, um potencial regresso de Donald Trump à Casa Branca poderia influenciar o financiamento da NATO, a estabilidade global e o apoio à Ucrânia, de acordo com a analista.

Um enfraquecimento significativo das capacidades de dissuasão da NATO contra adversários como a Rússia é possível caso o republicano vença em novembro, disse ainda.

“Embora mesmo o cenário extremo da retirada dos EUA da NATO não deva ser totalmente rejeitado, pessoalmente penso que existe um risco mais considerável de a NATO se tornar inoperante”, alertou Clara Broekaert.

Joshua Shifrinson, professor de política internacional da Universidade de Maryland e especialista em segurança internacional contemporânea, vê como “improvável” que Trump ponha termo formalmente ao compromisso dos Estados Unidos com a NATO, mas admite uma “tensão intra-Aliança significativa”.

Na visão do professor universitário, o regresso de Trump à Casa Branca resultaria numa redução das forças convencionais dos EUA na Aliança, além de críticas regulares ao subinvestimento militar dos aliados europeus.