Os apelos para que Joe Biden desista da recandidatura à presidência dos Estados Unidos após o fraco desempenho no debate com Donald Trump subiram esta semana de tom, com um senador do Partido Democrata a vir pela primeira vez a público pedir a Biden que desista “pelo bem do país”.

“Não podemos ‘des-ver’ o desastroso desempenho do Presidente Biden no debate”, escreveu o senador Peter Welch, que representa o estado de Vermont, num artigo de opinião publicado no The Washington Post. “Não podemos ignorar ou deixar passar as questões levantadas desde essa noite.”

Welch começa o artigo por sublinhar que tem “grande respeito pelo Presidente Biden”, um “homem de decência invulgar” que foi mesmo “um dos melhores presidentes” dos últimos anos. “Salvou o nosso país de um tirano”, escreve o senador.

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“Mas, como muitos em todo o país, estou preocupado com a eleição de novembro. A fasquia não podia ser mais alta”, diz Peter Welch. “Percebo porque é que o Presidente Biden se quer candidatar. Salvou-nos de Donald Trump uma vez e quer fazê-lo novamente. Mas tem de reavaliar se é o melhor candidato para o fazer. Na minha opinião, não é.”

“Pelo bem do país, apelo ao Presidente Biden que desista da corrida”, escreveu o senador.

Peter Welch diz que “Trump é um criminoso” e um “mentiroso patológico” que representa uma “ameaça” aos Estados Unidos, com o apoio de um “Supremo Tribunal ativista”. O senador argumenta ainda que, durante a presidência, Trump “pôs os seus próprios interesses à frente da nação”, o que culminou com a tentativa de “reverter a eleição de 2020 e perturbar a transição pacífica do poder”, especialmente com a invasão do Capitólio. Pelo meio, os apoiantes de Trump estão a planear a implementação de uma “agenda extremista” num eventual segundo mandato do magnata.

“Mas o debate nacional está focado na idade e nas capacidades do Presidente Biden. Só ele pode mudar isso”, sintetiza Peter Welch.

O senador admite que faz esta análise com “tristeza”, já que o seu estado, o Vermont, tem um historial de apoio a Biden — e foi mesmo o estado onde o democrata recebeu maior percentagem de votos nas últimas eleições. Contudo, os eleitores estão “preocupados com a possibilidade de ele não conseguir ganhar desta vez e estão aterrorizados com a ideia de outra presidência de Trump”.

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Lembrando que os dados das sondagens mostram que em vários estados historicamente fortes para os democratas existe agora o sério risco de uma viragem para o Partido Republicano, Peter Welch considera que é necessário “levar a sério” essa ameaça.

“A boa notícia é que o Presidente Biden uniu o partido e criou um banco com profundidade que é capaz de derrotar Trump. A vice-presidente [Kamala] Harris é uma líder capaz e com provas dadas e temos outros jovens, enérgicos e elegíveis governadores e senadores democratas”, destaca, lembrando que vários têm o “carisma” necessário para “inspirar eleitores em várias gerações”.

“Pedimos ao Presidente Biden para fazer tanto por tanta gente durante tanto tempo. Isso exigiu uma abnegação e uma coragem incomparáveis. Precisamos que ele nos coloque em primeiro, como já fez no passado. Peço-lhe que o faça agora”, remata Peter Welch.

No final de junho, Joe Biden e Donald Trump defrontaram-se num debate de 90 minutos que ficou marcado pelo fraco desempenho do atual Presidente dos EUA. Aos 81 anos de idade, Biden tem sido questionado sobre a sua real capacidade para continuar a liderar o país por mais cinco anos.

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Durante o debate, o Presidente norte-americano não conseguiu esconder uma imagem de fragilidade. Apresentou-se com uma voz frágil, hesitou múltiplas vezes, confundiu temas, atrapalhou-se frequentemente ao tentar completar as frases que trazia ensaiadas (para um frente a frente para o qual não era permitido levar apontamentos) e deixou a porta aberta para Donald Trump, que só tem menos três anos, usasse o tema da idade como quis.

Logo nos minutos após o debate, começaram a multiplicar-se os apelos para que Joe Biden desista da recandidatura e permita ao Partido Democrata (cuja convenção só ocorre no final de agosto) escolher um novo candidato.

Esta semana, o ator e produtor George Clooney, um dos mais conhecidos rostos das angariações de fundos do Partido Democrata, apelou diretamente à desistência de Joe Biden, que considera “um amigo”. Já a ex-líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, afirmou esta semana que “cabe ao Presidente decidir se vai concorrer” e alertou que “o tempo está a acabar” para que essa decisão seja tomada.