As autoridades sanitárias africanas afirmaram esta quinta-feira que as infeções por vírus Monkeypox (Mpox), conhecido por “varíola dos macacos”, aumentaram 160% no último ano, alertando para o elevado risco de propagação por falta de tratamentos ou vacinas eficazes no continente.

Os Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) afirmaram, num relatório divulgado na quarta-feira, que o Mpox foi detetado em 10 países africanos este ano. O Burundi e o Ruanda registaram o vírus pela primeira vez.

A República Centro-Africana foi a primeira a confirmar um novo surto na segunda-feira, afirmando que se estendia à sua capital densamente povoada, Bangui.

O ministro da Saúde Pública da República Centro-Africana, Pierre Somsé, já manifestou a preocupação do país face aos casos de “varíola dos macacos”.

Na quarta-feira, o ministério da Saúde do Quénia disse ter encontrado infeção por Mpox num passageiro que viajava do Uganda para o Ruanda, num posto fronteiriço no sul do Quénia. Num comunicado, o ministério afirmou que um único caso de “varíola dos macacos” era suficiente para justificar uma declaração de surto.

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Dos mais de 14.000 casos notificados ao CDC África, mais de 96% dos casos e mortes ocorreram na República Democrática do Congo. No início deste ano, os cientistas relataram o aparecimento de uma nova forma de varíola numa cidade mineira congolesa que, segundo receavam, poderia propagar-se mais facilmente entre as pessoas. A varíola propaga-se através do contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo através das relações sexuais.

O CDC África afirmou que a taxa de mortalidade, que é de cerca de 3%, “tem sido muito mais elevada no continente africano do que no resto do mundo”. Durante a emergência global devido a esta doença, em 2022, menos de 1% das pessoas infetadas com o vírus morreram.

A versão do Mpox observada na RDCongo pode matar até 10% das pessoas infetadas. O centro observou que ambos os casos de “varíola dos macacos” no Ruanda tinham estado na RDCongo antes de testarem positivo.

Uma análise dos pacientes hospitalizados de outubro a janeiro no leste do país sugeriu que as recentes mutações genéticas no vírus foram o resultado de uma propagação contínua nas pessoas.

Ao contrário dos anteriores surtos, em que as lesões eram sobretudo observadas no peito, mãos e pés, a nova forma provoca sintomas mais ligeiros e lesões sobretudo nos órgãos genitais, o que torna mais difícil a sua deteção.

Segundo o CDC África, cerca de 70% dos casos na RDCongo ocorrem em crianças com menos de 15 anos, que são também responsáveis por 85% das mortes, e o número de mortes em todo o continente aumentou 19% desde o ano passado.

A organização médica de beneficência Médicos Sem Fronteiras (MSF) considerou “preocupante” a expansão do surto de “varíola dos macacos”, referindo que a doença também foi observada em campos de deslocados na região de Kivu do Norte, na RDCongo, que faz fronteira com o Ruanda.

“Existe um risco real de explosão, tendo em conta os enormes movimentos de entrada e saída da população”, afirmou o diretor médico dos MSF para a RDCongo, Louis Massing.

Os surtos de Mpox no Ocidente foram, na sua maioria, debelados com a ajuda de vacinas e tratamentos, mas estes quase não estão disponíveis nos países africanos, incluindo a RDCongo.

Em maio de 2022 surgiram infeções pelo vírus Mpox em todo o mundo, afetando principalmente homens homossexuais e bissexuais. O subtipo responsável foi o Clade II.

Desde setembro de 2023, uma nova estirpe do Clade, ainda mais mortal, tem vindo a espalhar-se na RDCongo.

Em 11 de julho, a OMS alertou para a ameaça que a “varíola dos macacos” representa para a saúde mundial. A RDCongo está a ser particularmente atingida, com mais de 10.000 casos registados, incluindo 450 mortes.