O BE questionou o Governo sobre uma fábrica do concelho de Torres Novas, à qual se atribui maus cheiros e poluição de linhas de água, “tornando insuportável a vida da população que ali reside”, divulgou esta segunda-feira o partido.

Em causa está a operação da fábrica Cratoliva, responsável pelo processamento de bagaço de azeitona, que está instalada na aldeia de Parceiros de Igreja, no concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.

“Na União de Freguesias de Brogueira, Parceiros de Igreja e Alcorochel, concelho de Torres Novas, no lugar de Parceiros de Igreja situa-se uma empresa que se dedica à extração e comercialização de óleo de bagaço de azeitona, cuja atividade provoca poluição atmosférica e escorrências para a linha de água, tornando insuportável a vida da população que ali reside“, lê-se no preâmbulo de um requerimento enviado pelos bloquistas à Assembleia da República, a que a Lusa teve esta segunda-feira acesso.

No requerimento, cujo destinatário é o ministério do Ambiente e da Energia, o BE refere que “a situação não é nova”, mas que se “agravou este ano”, levando a que a população mais afetada se tivesse deslocado em junho à Assembleia Municipal de Torres Novas para reclamar uma solução.

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Os bloquistas recordam ainda que já tinham questionado o anterior governo, em dezembro de 2021, sobre a operação da Cratoliva.

A resposta indicava um conjunto significativo de anomalias/incumprimentos da lei por parte da empresa Cratoliva. Passaram cerca de dois anos e meio e as queixas dos moradores têm vindo a aumentar, a sua qualidade de vida agrava-se assim como a intensidade dos maus cheiros“, apontam.

Contactado pela Lusa o gerente da Cratoliva, Carlos Simões, reconheceu que a atividade da fábrica pode originar “algum mau cheiro” na aldeia de Parceiros de Igreja, mas assegurou que “tudo está a ser feito para resolver o problema”.

“O fumo sai da chaminé da fábrica, à volta da fábrica não há qualquer cheiro, passados 500 metros o fumo desce e apanha a aldeia, aí poderão ter alguma razão. A empresa já encomendou um eletrofiltro e será montado até ao final do ano. Depois, deixará de ter esses problemas”, referiu.

Carlos Simões explicou ainda que o problema do mau cheiro “é mais notório com o tempo quente” e que no inverno não existem queixas.

O responsável da Cratoliva negou, contudo, que a fábrica tenha alguma vez poluído as linhas de água, salientando que “são feitas análises com regularidade”.

“É uma empresa antiga, com 90 anos. Não temos qualquer interesse em ter problemas com a população”, apontou.

Há cerca de duas semanas a fábrica foi alvo de uma operação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), durante a qual foi instaurado um processo-crime por suspeita de fraude sobre mercadorias e, ainda, efetuada a apreensão de 18.200 litros de óleo alimentar e 177.690 rótulos com menção de azeite.

Num comunicado enviado na altura, a ASAE explicou que a apreensão foi feita no âmbito da operação de fiscalização “Oliva” a uma indústria de extração e refinação de óleos vegetais, com embalamento de óleos e azeites, no concelho de Torres Novas.

A ASAE adiantou ainda que foi instaurado um processo de contraordenação por deficiência das condições de higiene e estruturais, tendo sido determinada a suspensão imediata da atividade.

Questionado sobre esta situação, Carlos Simões confirmou a operação da ASAE na Cratoliva, mas negou qualquer intenção de vender óleo alimentar com o rótulo de azeite.

O que aconteceu foi que havia lá rótulos antigos, com mais de 10 anos, que a empresa antigamente embalou azeites, mas que agora não tem lá. Eles viram os rótulos e pensaram que a gente ia encher de azeite. Havia também uns tanques antigos, que já lá estão há mais de 50 anos, que dizem por fora óleo alimentar”, contou.

Contudo, o gerente da Cratoliva ressalvou que “a suspensão da atividade não foi decretada pela ASAE, uma vez que esta já estava suspensa”.

“Nós estávamos fechados desde 15 de julho e vamos reabrir a nossa atividade em 01 de outubro. Portanto, não foi a ASAE a decretar a suspensão da atividade da nossa fábrica”, esclareceu.

Entretanto, a concelhia do BE de Torres Novas também já questionou o presidente da autarquia, Pedro Ferreira (PS), sobre as diligências que a câmara levou a cabo para tentar “resolver o problema”.

“A atividade desta empresa está a prejudicar seriamente as populações, a retirar-lhe qualidade de vida e a pôr em causa a sua saúde. Todos os partidos representados, assim como Câmara Municipal pela voz do seu Presidente, comprometeram-se a tudo fazer para pôr fim a tal estado de coisas, de forma a restituir às pessoas a qualidade de vida a que têm direito”, lê-se na pergunta dirigida ao autarca.

Em 19 de julho, após uma sessão pública na aldeia de Parceiros de Igreja, o vereador com o pelouro do Ambiente na Câmara de Torres Novas, João Trindade, disse à Lusa que as pessoas “têm toda a razão” para estarem “indignadas, insatisfeitas e ansiosas”, mas assegurou que foram feitas diligências para averiguar as condições de laboração da empresa, nomeadamente através de uma inspeção técnica.

“É um processo legal que tem de se fazer porque não podemos tomar nenhuma decisão sem estar devidamente fundamentada com pareceres técnicos e jurídicos”, adiantou, acrescentando que “a vistoria à fábrica vai culminar num relatório”, o qual se espera que “resulte em consequências”.