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O especialista em incêndios florestais Domingos Xavier Viegas defendeu esta terça-feira o uso de mais meios aéreos para o combate a fogos como o que lavra na Madeira, bem como de mais meios terrestres para consolidar a extinção.

“O combate com meios aéreos tem que ser feito pelo menos com pares de aviões, se possível mais, para que haja uma sequência mais frequente de descargas e que permitam atacar e extinguir o incêndio”, frisou, em declarações à agência Lusa, o diretor do Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais.

Questionado sobre o incêndio na Madeira, o especialista frisou que um meio aéreo de combate único “perde eficácia” num fogo de difícil acesso a meios terrestres e com várias frentes, pois enquanto vai reabastecer depois de atacar uma faixa do fogo, este “continua a progredir”.

Xavier Viegas defendeu também mais meios terrestres para “consolidar a extinção” de frentes que vão sendo combatidas através do meio aéreo.

Se não se for lá completar a extinção que é feita pela descarga do meio aéreo com combate terrestre (…) rapidamente aquele fogo vai-se reacender porque, mesmo o produto químico que foi lançado, passado algum tempo pode perder a sua capacidade de extinção”, vincou.

Para o especialista o “combate tem que ser feito um pouco antecipando aquilo que o fogo vai fazer e procurando encontrar zonas de contenção que possam ajudar a segurar o fogo”, apontando que um incêndio com “tantos dias, é certo que não teve muitos meios humanos, para o perímetro que tem, de vários quilómetros”.

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Outro ponto de preocupação identificado pelo especialista em incêndios florestais são os “focos secundários“, realçando que, por vezes, o fogo “pode estar a descer uma encosta e fazer projeções para o vale contrário, passando esse foco a subir com intensidade muito maior e, por vezes, ao chegar ao cimo da encosta, pode até fazer projeções para o vale seguinte”.

Xavier Viegas apontou também a mudança climática registada na Madeira, com uma humidade menor e mais períodos de temperaturas elevadas, sublinhando a importância da “limpeza da vegetação, a remoção da vegetação mais inflamável e quando isso não for suficiente, complementar com medidas de proteção”.

O diretor do Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais referiu ainda que é importante serem retiradas lições deste “incêndio já de grande dimensão”, para perceber “até que ponto é que se está a fazer o que é possível para prevenir que o incêndio se propague, de maneira que haja zonas onde ele possa ser segurado”.

O incêndio rural na Madeira deflagrou há uma semana, dia 14 de agosto, nas serras da Ribeira Brava, propagando-se na quinta-feira ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol.

Nestes oito dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.

O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais.

Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, indicados pelo presidente do Serviço Regional de Proteção Civil, António Nunes, apontam para 4.392 hectares de área ardida até às 12:00 de terça-feira.