A informação já tinha surgido durante a semana, mas foi agora confirmada de forma oficial: o candidato independente Robert F. Kennedy vai apoiar a candidatura de Donald Trump à Casa Branca, suspendendo todas as atividade de campanha e retirando o seu nome dos boletins eleitorais nos Estados-chave. A declaração foi feita esta sexta-feira, num evento em Phoenix, no Arizona.

“Há muitos meses, prometi ao povo americano que me retiraria se me tornasse um ‘spoiler'” — termo para um candidato sem hipóteses de ganhar, mas que pode influenciar o vencedor. Foi isso mesmo que fez ao declarar o seu apoio ao ex-Presidente e retirando o seu nome dos boletins eleitorais nos Estados-chave. Se não o fizesse, “a entregar a eleição aos democratas”, considerou.

Ainda assim, este anúncio não é uma desistência total da corrida e o seu nome vai continuar nos Estados tradicionalmente democratas. Em território azul, RFK encorajou os eleitores a votar em si como forma de protesto. Mais do que ajudar a uma vitória dos republicanos, Kennedy quer evitar uma vitória dos democratas, aos quais deixou duras críticas. O sobrinho de JFK afirmou que o partido se destruiu a partir de dentro, por comparação ao tempo do pai e do tio, e justificou a sua saída do partido com um afastamento dos ideais originais de democracia e liberdade.

[Já saiu o quarto episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. Também pode ouvir aqui o primeiro, o segundo e o terceiro episódios]

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A democracia pode ainda estar viva, mas tornou-se pouco mais que um lema para o governo e os media”, acusou, acrescentando que “para salvar a democracia, o partido democrata decidiu destruí-la, começando uma guerra contra Trump” e contra o próprio Kennedy.

Às críticas ao partido democrata, somaram-se as críticas “ao sistema e aos media”, que acusou de promoverem a propaganda e a censura e não valorizarem a liberdade de expressão ou a democracia. “Num sistema honesto, eu acredito que teria ganho a eleição”, defendeu Kennedy. Como prova deste sistema desonesto, o independente criticou só ter recebido dois convites para entrevistas televisivas durante toda a campanha e não ter sido convidado para o debate de maio.

Independente Robert F. Kennedy vai falhar primeiro debate televisivo

RFK apontou o dedo aos jornalistas na sala, que acusou de contribuírem para o sistema sob a desculpa de controlar desinformação e mentiras. “Eles não temem mentiras, eles temem a verdade e é por isso que a censuram”, considerou, acrescentando que não se tratam de críticas pessoais, mas de “um reconhecimento do estado da democracia nos Estados Unidos”. Por oposição, elogiou o trabalho dos media alternativos que apoiaram a sua candidatura.

Os breves elogios a Trump e as promessas para o futuro

Para além dos media alternativos, Kennedy agradeceu e elogiou os voluntários da sua campanha e os seus apoiantes, que permitiram provar aos críticos “que estavam errados”, quando disseram que um projeto independente não teria peso político.

Os elogios estenderam-se ao candidato republicano, notando três pontos de contacto nos seus ideais políticos: a luta pela liberdade de expressão, o fim da guerra na Ucrânia e a “defesa” das crianças. Sobre Trump, afirmou ainda que este o tinha convidado para fazer parte do seu executivo.

“[Trump] sugeriu que juntássemos forças como um partido de unidade. Falámos da equipa de rivais de Abraham Lincoln, que nos permitiria discordar pública e privadamente e furiosamente, se necessário, em questões sobre as quais divergimos, enquanto trabalhamos em conjunto nas questões existenciais sobre as quais estamos de acordo“, argumentou.

Dando a entender que aceitaria este lugar, Robert F. Kennedy Jr. concluiu a sua declaração falando sobre aquela que tem sido a sua maior bandeira, enquanto negacionista: a defesa da saúde e a luta contra a “epidemia das doenças crónicas”. Numa longa promoção das suas ideias, acusou ambos os partidos de estarem “em conluio com as grandes produtoras alimentares e as grandes farmacêuticas” e defendeu que apoiar Donald Trump é a única forma de continuar a lutar pela “saúde das crianças”. “Vamos fazer os americanos saudáveis outra vez, não vou falhar nisto”, rematou, utilizando o lema MAGA da campanha republicana.

As reações à decisão de Kennedy divergiram. Por um lado, Trump agradeceu. “Quero agradecer ao Bobby, foi muito bonito. Ele é tipo incrível, respeitado por todos”, afirmou durante em evento em Las Vegas. Já os restantes irmãos Kennedy publicaram um comunicado, declarando o apoio a Trump como “uma traição aos valores da família”. Reeafirmando o apoio a Harris e Walz, Kathleen, Courtney, Kerry, Chris e Rory afirmaram que este foi “um fim triste para uma história triste”.