A morte prematura do socialista Eduardo Campos, 49 anos, candidato à presidência brasileira que sofreu acidente aéreo na manhã da passada quarta-feira, tem efeitos nos rumos da corrida eleitoral no país, afirmam politólogos.

Campos era o terceiro colocado nas sondagens de intenção de voto, atrás da atual Presidente, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT, de centro-esquerda), e de Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, de centro-direita). O candidato era considerado uma alternativa às duas principais forças políticas do país.

Com a morte de Campos, presidente e principal liderança do Partido Socialista Brasileiro (PSB), a coligação que apoiava a sua candidatura tem dez dias para indicar um novo nome. Entre as possibilidades estão a nomeação de outro político do PSB ou da atual candidata a vice-presidente pelo partido, a ecologista Marina Silva.

A politóloga Maria do Socorro Souza Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo, afirma que a escolha de Silva, caso se concretize, mudará a atual estrutura da disputa presidencial. “Sem a liderança forte e pessoal de Campos, para defender um programa alinhado à centro-direita, ela terá condições de fazer uma guinada à esquerda e assumir um campo que não está a ser ocupado”, afirmou à Lusa.

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A ecologista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à presidência brasileira, em 2010, uniu-se à candidatura de Campos no ano passado, depois de não ter conseguido fundar o seu partido a tempo para poder concorrer às eleições.

“O eleitor que rejeita os dois grandes partidos e os indecisos fortalecem a Marina. Uma parte de quem vota nela são os jovens que estiveram nas ruas em junho do ano passado, nas manifestações”, acrescentou Souza Braga, realçando que, apesar de retirar votos a Rousseff, Silva aumentaria a possibilidade de que o PSB passasse à segunda volta, no lugar de Aécio Neves.

Também politóloga, Jacqueline Quaresemin, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, afirmou que o facto de Marina Silva ser mulher e defender o tema da sustentabilidade – que sensibiliza a classe media – pode atrair eleitores.

“Estudos estratégicos mostram que ela [Marina Silva] teria mais potencial de ampliar os votos [do PSB] do que Campos, mas isso é só uma hipótese”, realçou.

Quaresemin disse ainda que, apesar de Silva ser a opção que potencialmente levaria mais força ao PSB, ela não tem uma história no partido, e não há um consenso entre as lideranças socialistas, que podem rejeitá-la.

Maria do Socorro Souza Braga acrescentou que o PSB pode também nomear outro candidato próprio, mas as suas atuais lideranças têm influência regional, sem grande projeção nacional.

Quaresemin opinou que o partido não deverá esperar os dez dias de prazo para indicar um novo candidato, tanto para não desanimar a militância como para reiniciar o mais rapidamente possível os trabalhos para as eleições de outubro.