As autoridades francesas estão nesta altura no encalço de um provável oitavo suspeito dos ataques terroristas em Paris que terá consigo fugir do local dos atentados na sexta-feira.

No subúrbio parisiense de Montreuil as autoridades encontraram três espingardas Kalashnikov num veículo abandonado, um sinal de que um ou mais atacantes poderão ter escapado de Paris — ou que planearam um atentado (recorde-se que o Estado Islâmico reivindicou um ataque ao 18º Bairro parisiense, o qual não aconteceu) e este não se chegou a consumar. 

A detenção de sete suspeitos na Bélgica deixa em aberto a possibilidade de que os atentados de Paris terão tido origem numa célula do Estado Islâmico no país.

Mas há uma questão que permanece por explicar: como é que os terroristas, que atuaram em três locais diferentes quase em simultâneo, conseguiram perpetrar, em Paris, os ataques terroristas mais mortíferos na Europa ocidental desde meados de 2004? Mais: terão eles agido sob as ordens dos líderes do autoproclamado Estado Islâmico (EI) a partir Síria e do Iraque? A verdade é que, até hoje, nunca o EI tinha reivindicado nenhum ataque daquela envergadura a ocidente.

Em França mantém-se o Estado de Emergência, os museus e os locais com maior afluência de turistas em Paris continuam, pelo segundo dia, encerrados ao público, e a vida retoma, pouco a pouco, a normalidade — ainda que com um significativo reforço militar nas ruas da capital francesa. Desde sábado que na Praça da República — onde também se haviam concentrado em vigília milhares de pessoas, em janeiro, por altura dos atentados à redação do Charlie Hebdo –, se vão homenageando as vítimas desta sexta-feira.

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Mas o foco, hoje e nos próximos dias, mais do que em Paris ou em França, estará na Bélgica. O ministro dos negócios estrangeiros iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, garantiu que as secretas do país têm a informação de, além da França, o EI tinha a intenção de perpetrar ataques terroristas precisamente na Bélgica — mas não só: os Estados Unidos é outro dos alvos prioritários.

Molenbeek: o bairro em Bruxelas que é uma “bomba-relógio” (e a que ninguém deu a devida importância)

A Bélgica, entretanto, anunciou uma ofensiva contra-terrorista no bairro de Molenbeek, em Bruxelas. Um bairro que é maioritariamente habitado por emigrantes — muitos deles muçulmanos e do Magrebe –, onde pelo menos cinco suspeitos relacionados com os atentados de sexta-feira foram detidos.

O Procurador-Geral belga avançou que dois dos atacantes de Paris foram identificados como sendo de naturalidade francesa, mas a residir em Bruxelas, e que um deles é precisamente de Molenbeek.

Por sua vez, a presidente da commune de Molenbeek, Francoise Schepmans, confirmou este domingo à estação de televisão belga RTBF que os cinco suspeitos detidos pertencerão a uma rede terrorista, não avançando, no entanto, se esta é ou não o autoproclamado Estado Islâmico. 

A polícia francesa, por sua vez, só fez a ligação dos atentados de Paris a Molenbeek porque foi encontrado nas imediações do Bataclan um carro fretado, com matricula belga, e que terá sido usado pelos três terroristas que atacaram a sala parisiense. 

O primeiro-ministro belga, Charles Michel, disse à cadeia de televisão VRT que sempre que há uma suspeita de terrorismo no país, “há uma ligação qualquer a Molenbeek.” E acrescentou: “O ministro do Interior [Jan Jambon] tem tomado iniciativas contra o radicalismo, contra o terrorismo, numa estratégia que é preventiva. Mas nós precisamos de uma acção concertada e em força.”

A Bélgica é o país europeu que mais contribui com jihadistas per capita para a Síria e para o Iraque. A garantia é do International Center for the Study of Radicalisation. E quase todos viveram em Molenbeek. Aliás, é longa a lista de ligações de terroristas àquele bairro belga.

Em janeiro, a polícia abateu dois suspeitos de terrorismo e deteve um terceiro durante um tiroteio na cidade de Verviers. As autoridades confirmaram na altura que os dois homens abatidos eram naturais de Molenbeek, um dos bairros mais pobres do país, onde a taxa de desemprego é superior a 40 por cento. Vivem lá mais de 94 mil pessoas. 

O terrorismo na Bélgica também se deu à estampa durante o ano passado, quando quatro pessoas foram mortas no Jewish Museum de Bruxelas por um atirador de origem francesa. As autoridades acreditam que este terá passado parte do ano de 2013 a viver na Síria e que preparou os ataques num quarto alugado em Molenbeek. 

Também o atirador marroquino que, a 21 de agosto deste ano, foi impedido pelos passageiros de um comboio (o Thalys, que ligava a cidade de Amesterdão a Paris) de cometer uma chacina a bordo, terá vivido durante meses em Molenbeek. E foi de lá que seguiu para a Holanda, com uma mochila carregada com uma Kalashnikov, uma pistola automática, munições e uma faca. 

Numa reunião extraordinária do conselho nacional de segurança belga, este sábado, o Procurador-Geral do país anunciou que as autoridades vão trabalhar numa estratégia conjunta para que Molenbeek não seja mais uma “bomba-relógio”.

A Bélgica, entretanto, subiu o nível se segurança no país para Nível 3, ou seja, de “moderado” para “grave”. Isto significa que o governo está a considerar a possibilidade de destacar forças militares para ajudar a polícia a patrulhar as ruas. Foi pelo menos isso que adiantou o ministro da Defesa Steven Vandeput à VTM.