Democracia. “Isto é sobre democracia”, explica o jornalista da CNN em direto de Hong Kong entre milhares de pessoas. O The Telegraph fala em 80 mil que, num protesto “calmo”, acamparam pelas ruas da cidade. Cantam e seguram luzes. “Calmo” esta noite de segunda-feira, o terceiro dia de um protesto que a polícia já tentou desmobilizar com recurso a spray gás-pimenta, o que levou à intervenção da Cruz Vermelha na assistência médica de mais de 130 vítimas. Sem sucesso. Os manifestantes permanecem no local. Mas, afinal, o que se passa nesta região administrativa especial da China?

Tudo começou em julho, quando o Governo chinês anunciou que, naquelas que iriam ser as primeiras eleições democráticas de Hong Kong, os candidatos ao executivo teriam que passar pelo crivo de um comité do governo central, sediado em Pequim. Na altura o Partido Comunista justificou que, apesar de um regime político diferente, os eleitores de Hong Kong não tinham “direitos”, tinham sim “regalias”.

Hong Kong é gerida pela China numa fórmula de “um país, dois sistemas”, com um governo local, embora competências como a Defesa estejam nas mãos do governo central. Os manifestantes – que começaram por ser um um grupo pertencente ao movimento civil “Occupy Central” mas ao qual se juntaram estudantes e, mais tarde, cidadãos dos mais diferentes quadrantes – querem que Pequim abandone os planos de veto dos candidatos a chefes do executivo para as eleições de 2017. Querem uma eleição democrática.

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Uma sondagem divulgada pela Vox revela que nunca os habitantes de Hong Kong tiveram tão pouca confiança no governo de Pequim, principalmente no relacionado com o respeito pela autonomia e liberdade prometidas pelo governo central. A Universidade de Hong Kong perguntou aos seis eleitores se confiavam no regime “Um país, Dois sistemas” – que garantiu a Hong Kong uma autonomia e uma democracia nunca mais vista depois do controlo britânico”, em 1997.

Uma tradição de grandes protestos

A cidade de Hong Kong tem sido palco de vários protestos no último meio século. A Time lembra que este é mais um numa cidade que tem estado em constantes confrontos contra o governo central, nas mãos do Partido Comunista Chinês. Nos anos 90, o governador de Hong Kong, Chris Patten – o último governador britânico – propôs um plano para democratizar o governo local, mesmo sob objeções de Pequim. Quando a transferência de poderes do Reino Unido se deu, em 1997, a democracia chegou a ser posta a prazo.

Em 2003, os habitantes de Hong Kong fizeram o maior protesto pró-democracia de que havia memória. Em 2012 repetiu-se: milhares de pessoas na rua pelo sufrágio universal e contra a interferência do governo central naquela que devia ser uma eleição democrática: a escolha do chefe do executivo.

O protesto de agora já ficou conhecido como a Revolução dos Guarda-Chuvas por causa das fotografias que mostram imagens de milhares de pessoas de guarda-chuvas abertos. Muitos serviram como escudo de proteção ao gás-pimenta lançado pelas autoridades na tentativa de travar a manifestação.