Em estado grave. E crítico. Sofrera um traumatismo craniano e fora operado de urgência, em em Grenoble, após uma queda a esquiar o fazer bater com a cabeça numa rocha. Assim que Gérard Saillant soube, enfiou-se dentro de um carro e, sozinho, conduziu durante cerca de 600 quilómetros para tratar o tal paciente. Era Michael Schumacher e estávamos em dezembro de 2013. Agora, de avião, o médico francês chegou a Yokkaichi — para tratar de Jules Bianchi, piloto que, no domingo, sofreu um acidente e está internado num hospital no Japão.

Quem é Gérard Saillant? Em formato de resumo, é um dos médicos mais respeitados no desporto automóvel. Aos 69 anos, é professor e cirurgião ortopedista, especializado na área da traumatologia. É presidente, desde 2011, do FIA Institute, entidade da Federação Internacional de Automóvel dedicada a melhorar a segurança e sustentabilidade dos desportos motorizados.

Antes, em 2010, e em conjunto com Jean Todt — pai de Nicolas, empresário de Jules Bianchi –, Saillant fundou o Instituto do Cérebro e da Espinal Medula, que opera desde 2010 no Hospital Pitiè-Salpêtrière, em Paris, onde lidera a unidade de cirurgia ortopédica e traumatológica há mais de 30 anos. “O desporto motorizado será sempre de risco. É preciso subir a parada na preparação dos especialistas [médicos]”, disse, há quatro anos, quando inaugurou o instituto, segundo o Le Parisien. Pelo meio, serviu de conselheiro do Ministério do Desporto gaulês e da Federação de Automobilismo Francesa.

Esta terça-feira chegou a Yokkaichi, ao hospital de Mie, onde Jules Bianchi está internado, em estado crítico, nos cuidados intensivos, após ter sido operado de urgência a um hematoma cerebral. “Falaremos quando fizermos um ponto de situação com o Professor Saillant”, revelou apenas Phillippe Bianchi, pai do piloto, de 25 anos, quando o cirurgião ainda estava a caminho do Japão. Agora que lá chegou, Jules estará em boas mãos.

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Pelo menos tendo em conta o passado de Gérard Saillant. Em 1999, bem antes de Schumacher e Bianchi estarem em perigo de vida, o cirurgião foi o primeiro a operar um joelho que tanto quis esconder um Fenómeno — nesse ano, o francês operou Ronaldo Nazário de Lima. “Foi uma cirurgia muito pesada. A sua impressionante massa muscular e poder de explosão facilitavam a ocorrência destas lesões”, explicou, em fevereiro de 2011, quando Ronaldo se retirou do futebol, ao falar da rotura num tendão que ainda voltaria a ceder mais duas vezes.

No mesmo ano, e pela primeira vez, trataria também de Michael Schumacher. Na altura, quando o alemão ia apenas com dois (1994 e 1995) dos sete títulos de Fórmula 1 que conquistaria, o piloto despistou-se no circuito de Silverstone, na primeira volta do Grande Prémio de Inglaterra, e fraturou uma das pernas. “É um bom amigo meu. É um ótimo paciente, quer sempre saber o porquê de tudo. Você fala para ele andar por 45 dias e ele pergunta, por que 45 e não 44?”, revelou, em entrevista ao Folha de São Paulo, em agosto de 2009.

Mais de quatro anos depois, voltaria a auxiliar o germânico, quando este ser operado a um traumatismo craniano que sofreu numa queda de esqui, nos Alpes suíços. Agora vai tratar de ajudar Jules Bianchi, vítima do mais recente acidente ocorrido durante uma prova de Fórmula 1, a recuperar.