A Superlua desta segunda-feira foi a maior e a mais brilhante desde 1948, há 68 anos. E só a voltaremos a ver assim a 25 de novembro de 2034, daqui a 18 anos. A culpa é de um fenómeno combinado: a proximidade da Lua com a Terra no seu círculo elíptico constante e o facto de estarmos em fase de Lua cheia. Por isso, às 17h49 foi hora de estar de olhos postos no céu.
O que vai acontecer?
A Lua começou a aproximar-se da Terra às 11h22, quando entrou em fase de perigeu: em toda a sua órbita rotineira em redor da Terra, este é o ponto mais próximo em que poderá estar do planeta mãe. E está, neste momento, a apenas 356 mil quilómetros de nós. Quando o relógio bateu as 13h52 em Portugal, o fenómeno ganhou ainda outra dimensão: a Lua entrou em fase de Lua Cheia, mostrando todo o seu esplendor. Depois tivemos de esperar até às 17h49, depois do Sol se por, dando-lhe espaço para brilhar muito mais. Basta olhar na direção nordeste.
Muito mais, na verdade. De acordo com Pedro Pedrosa, astrónomo no Planetário do Porto e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, o que vamos assistir no pôr-do-sol desta segunda-feira é a uma Lua 14% maior do que na última Lua Cheia e 30% mais brilhante que no último apogeu (ponto mais distante de nós).
É uma ilusão ótica, nada mais do que isso: a aproximação da Lua à Terra, de um ponto de vista astronómico, é tão pequena que quase não daríamos por ela. Mas vista assim pousada sobre o horizonte, a nossa mente interpretou-a como estando mais próxima e mais brilhante do que realmente está porque temos mais pontos de referência (como prédios ou árvores). A melhor forma de “medir” a diferença entre a “superlua” e a “microlua” (quando a Lua está em apogeu, no ponto mais distante à Terra) é usar o seu dedo mindinho: se esticar o dedo em direção ao céu, o tamanho angular dele – o tamanho que ocupa no céu – é de 60 minutos de arco (um grau); o da Lua é metade.
É, no entanto, uma ilusão ótica que não queremos deixar escapar: desde o outono de 1948, há 68 anos, que não víamos nada tão esplendoroso. E o melhor é aproveitar o momento porque só se repetirá a 25 de novembro de 2034, daqui a 18 anos.
Sorte a nossa? Sim e explica-se pela matemática através de uma fórmula que relaciona a distância relativa da Lua Cheia para uma órbita determinada entre ela e a Terra tanto em fase de perigeu como de apogeu (o ponto mais distante entre os dois corpos celestes). Se, ao fazermos os cálculos, a distância relativa da Lua for superior a 0,9 estamos perante uma “superlua” ou “perigeu-sizígia”, como dizem os cientistas. Na prática, ela surge quando a Lua Cheia e o perigeu ocorrem quase ao mesmo tempo. “A órbita da Lua em redor da Terra não é um círculo. É uma elipse, como um círculo achatado. E essa elipse não é igual em todos os ciclos”, esclarece Pedro Pedrosa ao Observador. Desta vez, a Lua esteve 50 mil quilómetros mais próxima à Terra. É um número pequeno do ponto de vista astronómico, mas a diferença – embora discreta – pode ser notada principalmente com telescópios ou em bons locais de observação.
Dizem os mitos populares que em noites como esta a Natureza enlouquece: os animais ficam mais agitados, os desastres naturais são mais comuns e até o estado de espírito dos humanos se altera (há quem até avise que esta segunda-feira é um mau dia para tomar decisões amorosas). Mas os cientistas deixam tudo em pratos limpos: afinal, o seu cão vai continuar a dormir tranquilamente no tapete, os vulcões vão permanecer adormecidos e é um dia tão bom como qualquer outro para convidar aquela pessoa para um jantar romântico. Os 50 mil quilómetros que a Lua “andou” na nossa direção são um grão de areia quando comparados com os quase 385 mil quilómetros que normalmente nos separam, explica Pedro Pedrosa. A única mudança realmente significativa a que pudemos assistir foi nas marés, nada de demasiado estranho visto que a Lua é a gestora principal das nossas preia-mar e baixa-mar: em noites de “perigeu-sizígia” como a de hoje assiste-se às maiores marés cheias e às mais pequenas marés vazas.
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Como fotografar?
É certo que é um fenómeno especial, mas não se entusiasme demais com as fotografias para o Instagram. Sabe aquelas noites em que a Lua parece gigante, mas depois a fotografia que tirou com o telemóvel mostra apenas um ponto de luz no céu negro? Pois, é exatamente o que vai acontecer hoje – só que o ponto vai ser um pouco (um nadinha) maior. Para conseguir imagens mais interessantes, o melhor é ter uma máquina fotográfica das boas, munida com lentes potentes e uma lente secundária que amplie o objeto fotografado.
Quando captar a Lua , experimente fazê-lo com o objeto por perto – por exemplo, a Lua atrás de um prédio ou por cima de uma árvore para que haja termo de comparação. Depois, fotografe com o mesmo nível de exposição que escolheria se fosse de dia, por causa da luminosidade refletida pelo nosso satélite.
Caso não tenha uma máquina fotográfica profissional por perto e esteja limitado ao seu telemóvel, não caia no erro de fazer zoom porque a fotografia irá perder qualidade. Além disso, não segure no telemóvel: coloque-o num local firme onde ele possa estar estável e assim a fotografia não sairá tremida. Experimente também focar a Lua, carregando no ecrã do smartphone por cima da zona onde o satélite surge: aparecerá uma régua onde poderá escolher o nível de luminosidade que quer empregar na foto. Escolha o que mais agrada e que mais detalhes expõe.
Aproveite bem o momento: a Lua foi, e continua a ser, um dos melhores amigos de quem observa o céu noturno. Nos tempos da Grécia Antiga, Aristarco de Samos conseguiu provar que o Sol estava mais longe do que a Lua através de um cálculos trigonométricos muito básicos. Através do estudo dos eclipses lunares, Aristóteles provou depois que a Terra era redonda por causa da sombra que ela provocava na Lua durante esses fenómenos.
Portanto, embora o evento de esta noite não seja um fenómeno raro, também não deixa de ser um momento especial. E uma boa desculpa para conhecer melhor o que existe mesmo por cima das nossas cabeças.