Terá direito a tudo: discursos, salvas de tiro de canhão, fotografias (muitas) e revista aos militares. Dilma Rousseff toma esta quinta-feira posse para o segundo mandato como presidente do Brasil, mais de dois meses volvidos desde a reeleição para o cargo, a 26 de outubro. A vitória, aí, foi tremida – apenas 3,4 milhões de votos a separaram Dilma de Aécio Neves, o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). A primeira mulher a assumir a presidência do Brasil, porém, promete continuar no caminho das conquistas sociais. E delas não se vai desviar “um milímetro”.

É isso que deixará claro, revela o Estadão, citando fontes da assessoria de Dilma, nos dois discursos que vai proferir durante o dia, em Brasília. A cerimónia arrancará às 16h40, hora portuguesa, mas a voz da presidente apenas se começará a ouvir por volta das 17h30, no Palácio do Planalto. Findo o primeiro discurso, Dilma vai esticar a mão e cumprimentar os 27 Chefes de Estado presentes na cerimónia (em 2011, na primeira vez de Dilma, eram 19), entre Joe Biden, vice-presidente dos EUA, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, ou José Mujica, líder do Uruguai. A Globo, numa infografia, resumiu o plano da cerimónia. De Portugal, segue o vice-primeiro-ministro Paulo Portas, em representação do Governo.

As intervenções, adianta o diário brasileiro, vão sublinhar a aposta de Dilma no combate à inflação, nas medidas para estimular o emprego e, sobretudo, para combater as desigualdades sociais no país. Estima-se que a economia brasileira, em 2014, registará um crescimento de apenas 0,2%, lembrou o Folha de São Paulo. As palavras da presidente deverão vincar, uma e outra vez, que governará “para todos” e em prol “do bem-estar da população”.

O tal povo que, nos últimos dois anos, escolheu as ruas para, como nunca, mostrar descontentamento com algumas medidas do governo de Dilma. Em junho de 2013, e durante vários dias, quase um milhão de pessoas protestou em várias cidades do país contra o aumento dos preços dos transportes, a violência urbana e o dinheiro gasto pelo Estado para o Mundial de futebol.

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Já este ano, antes do verão, viram-se protestos contra o escândalo de corrupção na Petrobras – maior empresa estatal do Brasil, da qual terão sido desviados mais de 3 mil milhões de euros – e, de novo, contra os investimentos feitos nos 12 estádios e infraestruturas construídas para a Copa do Mundo. Até o 7-1, resultado que a seleção alemã impôs ao Brasil, nas meias-finais da competição, serviu para vociferar críticas contra a presidente.

Dilma, portanto, arrancará o segundo mandato com uma imagem distinta face à que a acompanhava em 2011, quando aterrou no cargo. Os números, aliás, mostraram-no. Há quatro anos, a líder do Partido dos Trabalhadores (PT) sucedia a Lula da Silva, anterior presidente (2003-2010), com mais 12 milhões de votos em relação a José Serra, candidato conservador e seu adversário no sufrágio. Em outubro, porém, Dilma reuniu apenas 51,6% das preferências do eleitorado brasileiro e mais 3,4 milhões de votos que Aécio Neves, na segunda volta das eleições. O Observador, na altura, escreveu um perfil da então recandidata à presidência do Brasil.

O candidato social-democrata aproveitou o desgaste na imagem de Dilma Rousseff e esticou a corrida nas urnas até à linha de meta. Talvez por isso a presidente tenha alterado ou, pelo menos, trocado de pasta, 25 dos 39 ministros que constituirão o seu governo para este segundo mandato.

Um deles é o conservador Joaquim Levy, que assumirá o Ministério da Fazenda e, avançou o Folha de São Paulo, poderá criar medidas para reequilibrar as finanças públicas e travar as despesas do Estado – a imprensa brasileira revela que o governo estará a preparar um pacote económico que visará cortar em cerca de 20 mil milhões de euros a despesa pública. Neste início de ano o salário mínimo no país aumentará de 223 para os 244 euros.

Até a própria Dilma Rousseff já terá mudado: o Estadão, no artigo que dedicou à tomada de posse, arranca o texto escrevendo que a presidente está “pelo menos seis quilos mais magra” e “energizada pela retomada das caminhadas”. Veremos como corre até 2018, data das próximas eleições presidenciais no Brasil.