Uma nova lei aprovada quarta-feira pela Câmara Baixa do parlamento polaco está a dar uma enorme “dor de cabeça” ao BCP e aos outros bancos estrangeiros que têm operações relevantes na Polónia. Trata-se de uma legislação que dará aos polacos a opção de alterarem os seus créditos à habitação de francos suíços para zlotys, o que representará um custo superior a 2,5 mil milhões de euros para a banca, o equivalente a mais de metade do que foram os lucros dos bancos polacos em 2014. Mas, de acordo com a mais recente formulação da lei, o impacto pode ser ainda maior. Na bolsa de Lisboa, o BCP perde quase 20% desde meados de julho.

O partido de governo na Polónia, a Plataforma Cívica, que não tem tido bons resultados nas sondagens com vista às eleições de outubro, decidiu lançar uma legislação que procura aliviar as dificuldades que mais de meio milhão de devedores de crédito à habitação têm sentido desde que, em janeiro, o Banco Nacional Suíço deixou de indexar o franco ao euro. Isso fez disparar o valor do franco suíço, o que deixou em apuros quem, atraído pelos juros baixos, contratou, antes da crise financeira, créditos à habitação em francos suíços.

Com esta nova lei, quem contratou estes créditos terá a opção de os converter de francos suíços para zlotys à taxa atual de câmbio. Os bancos iriam, depois, calcular a diferença entre o valor atual da dívida e o valor que o devedor teria de ter pago se tivesse, originalmente, contratado o empréstimo em zlotys (considerando a taxa de então). Daí, previa-se que metade desse custo seria deduzida ao valor do empréstimo, ou seja, abater no ativo do banco que é cada uma destas hipotecas. Nessas contas, no final, para os bancos, poderá estar em causa um valor total superior a 2,5 mil milhões de euros, o que representa 59% dos lucros antes de impostos que a banca polaca teve no ano passado. Mas a formulação ontem aprovada sugere que a responsabilidade dos bancos poderá ser de 90% e não de apenas metade.

A legislação passou na quarta-feira na Câmara Baixa e viaja agora para a Câmara Alta, tendo também de receber a assinatura de Andrzej Duda, que vai esta quinta-feira tomar posse como Presidente polaco.

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Na bolsa, contudo, os investidores em ações dos bancos polacos já temem o pior. As ações do Millennium Bank, um dos bancos mais afetados por esta possível nova lei, já estiveram a cair 17% e a negociação já está automaticamente a ser limitada pelo regulador, dada a queda abrupta após a aprovação da lei no Parlamento polaco (Câmara Baixa).

Outros bancos, além do BCP, estão a cair nas várias praças europeias, entre os quais o espanhol Santander, o alemão Commerzbank e o italiano UniCredit, todos com unidades importantes na Polónia. Para o BCP, que vendeu parte da posição no Millennium Bank mas continua a ser acionista maioritário (com 50,1%), as operações internacionais e, em especial, na Polónia, têm sido cruciais para suportar os resultados nos últimos anos. Daí que, com esta lei “pesadelo”, as ações estejam a cair 19% desde meados de julho e tenham dissipado quase todos os ganhos obtidos desde o início do ano, depois de terem chegado a acumular uma valorização de 45% em 2015.

Ganhos anuais do BCP em bolsa “evaporam”

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As ações do BCP chegaram a ganhar mais de 45% em bolsa este ano, mas as dúvidas em torno da Polónia estão a ser decisivas para que esses ganhos se tenham “evaporado”. Fonte: Bloomberg